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Tem até aula de debater futebol americano para quem busca estudar nos EUA

Além das aulas, famílias chinesas pagam até 250 mil dólares para garantir que seus filhos sejam aceitos em universidades dos EUA

Tom Brady: saber argumentar sobre a carreira do jogador de futebol americano pode ser a diferença entre ser aceito ou ficar de fora de uma universidade nos EUA (Robert Seale/Reuters)

Tom Brady: saber argumentar sobre a carreira do jogador de futebol americano pode ser a diferença entre ser aceito ou ficar de fora de uma universidade nos EUA (Robert Seale/Reuters)

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AFP

Publicado em 12 de agosto de 2019 às 19h07.

Pagando dezenas de milhares de dólares, as famílias chinesas contratam consultores para assegurar que seus filhos entrem em grandes universidades estrangeiras, seja por meio de "ghost writers", notas esportivas fraudadas ou até com aulas sobre como falar de futebol americano.

No início do ano, a Justiça dos Estados Unidos descobriu todo um sistema de fraudes nas provas de admissão e corrupção dos responsáveis esportivos, para garantir que as crianças das melhores famílias possam entrar em universidades renomadas.

No escândalo, que atingiu também estrelas de Hollywood, uma família chinesa pagou 6,5 milhões de dólares para que sua filha fosse aceita em Stanford. Outra, 1,2 milhão de dólares para entrar em Yale, segundo veículos americanos.

Na China não é raro defender este tipo de práticas, explica à AFP um ex-conselheiro universitário, que não quis revelar sua identidade.

No mundo dos consultores e dos centros que preparam os estudantes para que sejam admitidos em universidades estrangeiros, "não se fala de subornos, mas de doações. A quantia mais baixa é de cerca de 10.000 dólares, mas a média gira em torno de 250.000 dólares", afirma.

Entrevistados pela AFP, seis empregados e ex-empregados destes estabelecimentos contam que aconselharam os pais a "encontrar atalhos" em relação ao circuito tradicional.

"Fiz coisas das quais não estou orgulhoso, incluindo ajudar pais a enfeitar os boletins de notas ou a falsificar credenciais esportivas", reconhece um deles.

"Recebi redações dos estudantes (...) que tivemos que mandar para serem totalmente reescritas por profissionais", acrescenta.

"A busca de meios para conseguir atalhos dentro do sistema e a ideia de que o dinheiro resolve tudo fazem parte da cultura do sistema educativo chinês", ressalta Abdiel Leroy, autor de "Duelling the Dragon" — sobre a prevaricação na China —, e ex-funcionário de uma escola preparatória para prestigiosos internatos britânicos.

"Ponto de não retorno"

Mas nem o todos os métodos implicam uma fraude. A família de Fu Rao investiu 250.000 iuanes (36.300 dólares) em um consultor para que a adolescente de 16 anos recebesse conselhos sobre como falar com os professores, em que cursos se inscrever para garantir a pontuação máxima em todas as matérias do ensino médio e sobre como falar de futebol americano.

Uma escritora profissional editou suas redações e, seguindo o conselho de seu consultor, Fu passou uma temporada trabalhando como voluntária em um orfanato do Camboja. "Na China, muitos estudantes são voluntários em escolas rurais, e eu tinha que fazer algo diferente para que minha candidatura se destacasse do resto", explica a adolescente.

Quase uma dezena de pais entrevistados pela AFP se declararam dispostos a fazer qualquer sacrifício para conseguir este tipo de serviço, pois escolher um ensino superior no exterior é arriscado para seus filhos.

"Se um estudante não consegue entrar em uma universidade no exterior, é muito complicado retomar seus estudos no sistema chinês. De modo que é um ponto de não retorno", reconhece a mãe de Fu, Huang Yinfei.

Para 2021, os rendimentos criados por estes serviços devem chegar a 35 bilhões de dólares, em comparação com os 28 bilhões de 2017, segundo um informe da Associação de Estudantes e Professores de Universidade Chinesas, um organismo público.

Quase um terço dos estudantes estrangeiros dos campus americanos são chineses, enquanto o gigante asiático fornece o maior contingente de estudantes estrangeiros ao Reino Unido, onde suas candidaturas aumentaram 30% no ano passado.

"Mas um diploma estrangeiro não é uma garantia absoluta de melhores perspectivas de emprego na China", avisa Gu Huini, fundador do centro preparatório Zoom In, lembrando que muitos pais "acham que a melhor forma de derrotar a concorrência é começar desde cedo".

Assim, há estabelecimentos que oferecem cursos de leitura, escrita e debate para crianças a partir do primeiro ano do ensino fundamental.

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