Suspeito de atentado em Berlim estaria foragido
O suspeito inicial do ataque era um paquistanês que chegou à Alemanha em dezembro de 2015 e "registrado em Berlim em fevereiro"
AFP
Publicado em 20 de dezembro de 2016 às 17h43.
A polícia berlinense não estava certa de que o demandante de asilo paquistanês detido tenha sido o autor do atentado da véspera, que deixou 12 mortos, e, devido a falta de provas, a Justiça o liberou.
Sendo assim, o verdadeiro responsável pelo ataque estaria foragido.
"Talvez tenhamos um criminoso perigoso na região e isto, obviamente, deixa as pessoas nervosas", advertiu o chefe da polícia berlinesa, Klaus Kandt.
"Obviamente, estamos aumentando as medidas de segurança. Agora é necessário um nível de alerta elevado", acrescentou.
Qualificado de "ato terrorista" pela chanceler alemã, Angela Merkel, e realizado em um país que até agora não tinha sofrido atentados de grande magnitude, o ataque com um caminhão lembra, pelas circunstâncias, o cometido em Nice, há cinco meses.
O balanço até o momento é de 12 mortos e 48 feridos, 24 dos quais continuavam internados na noite desta terça-feira (hora local), alguns em estado grave.
Não foi dada informação sobre a identidade das vítimas.
O suspeito inicial do ataque era um paquistanês que chegou à Alemanha em 31 de dezembro de 2015 pela rota dos Bálcãs e "registrado em Berlim em fevereiro" como demandante de asilo, informou mais cedo o ministro do Interior, Thomas de Maizière.
"Ele nega o crime. A investigação continua", afirmou Maizière, destacando não haver reivindicação por parte do grupo Estado Islâmico (EI).
A polícia e a procuradoria federal indicaram que o requerente de asilo provavelmente não foi o autor do crime e que um "criminoso perigoso (estava sem dúvida) em liberdade".
Ele foi libertado por falta de evidências, informou a procuradoria.
"A pessoa suspeita (...) foi liberada no início da noite por ordem da procuradoria federal. Os resultados da investigação não apontam evidências que confirmem suspeitas concretas" contra ele, acrescentou a fonte em um comunicado.
"A perícia da polícia forense não conseguiu estabelecer até agora a presença do suspeito na cabine do caminhão", acrescentou.
Um dia após o atentado, a confusão continua reinando. A procuradoria antiterrorista está a cargo das investigações, e a polícia realizou buscas nesta terça-feira em um dos principais centros de refugiados de Berlim, no antigo aeroporto de Tempelhof, onde o suspeito pode ter se escondido.
Sangue e corpos
Antes de surgirem as dúvidas da polícia sobre a identidade do suspeito, Angela Merkel considerou "que para nós seria particularmente difícil de suportar se for confirmado que este ato foi cometido por uma pessoa que pediu proteção e asilo na Alemanha".
Logo após o ataque, Angela Merkel recebeu uma enxurrada de críticas sobre sua política de imigração generosa.
"Estes são os mortos de Merkel!", denunciou em sua conta no Twitter um dos líderes do partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AFD), Marcus Pretzell.
"A Alemanha não é mais segura" face "ao terrorismo do Islã radical", acrescentou outro membro da AFD, Frauke Petry, questionando a decisão do chanceler de abrir as portas do país em 2015 para quase 900.000 refugiados que fugiam da guerra e da pobreza, originários principalmente do mundo muçulmano. Aproximadamente 300.000 chegaram em 2016.
A tragédia ocorreu perto da Igreja Memorial, monumento da capital alemã com seu campanário destruído pelos bombardeios na Segunda Guerra Mundial. O caminhão foi evacuado na terça de manhã.
"Eu só vi este enorme caminhão preto que cruzou o mercado e atropelou muitas pessoas, então todas as luzes se apagaram e tudo estava destruído", relatou uma turista australiana, Trisha O'Neill.
"Havia sangue e corpos por toda parte", incluindo de crianças e idosos, acrescentou.
"Nós vimos pessoas sendo transportadas em ambulâncias, uma e outra vez, e parecia não ter fim", declarou outra turista, Sabrina Glinz, ao canal britânico Sky News.
Sete corpos identificados
Enter as vítimas mortas, seis eram alemães, segundo a polícia. A identificação dos demais continua.
Um deles, encontrado na cabine do caminhão, foi "morto com um tiro", e poderia ser o verdadeiro motorista que teria sido rendido pelo atacante, segundo um porta-voz do ministério regional do Interior.
As reações de solidariedade se multiplicaram, da França aos Estados Unidos, enquanto a Europa tem sido alvo frequente de ataques reivindicados por grupos extremistas islâmicos.
O presidente russo, Vladimir Putin, se disse "chocado" com a "brutalidade e o cinismo" do ataque.
O uso de veículos, especialmente caminhões, para atropelar multidões de "infiéis" e fazer o máximo possível de vítimas é uma tática defendida pelos grupos extremistas.
Em sua revista online Inspire, em setembro de 2014, o grupo da Al-Qaeda na Península Arábica (AQAP) escreveu: "A ideia é usar um veículo grande. Você pode usar uma pick-up, a maior e melhor possível. Para causar o máximo dano, você deve dirigir tão rápido quanto possível, mantendo o controle do veículo para obter o máximo de inércia e poder atropelar tantas pessoas quanto possível".
A Alemanha havia sido até agora poupada de ataques jihadistas de grande magnitude, mas vários ataques islâmicos foram recentemente cometidos por indivíduos isolados.
O EI reivindicou dois ataques em julho, que deixaram vários feridos, um com bomba e outro com uma faca, cometidos por um sírio de 27 anos e por um requerente de asilo de 17 anos, provavelmente afegão.