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"Super sábado" do Brexit começa com manifestações em Londres

Parlamento britânico vota hoje o acordo costurado pelo primeiro-ministro Boris Johnson ; ex-primeira-ministra Theresa May pediu apoio ao texto

Homem protesta contra o Brexit:novo acordo de separação entre Reino Unido e UE, anunciado na quinta-feira passada, ainda enfrenta o espinhoso processo de ratificação na Câmara dos Comuns (Henry Nicholls/Reuters)

Homem protesta contra o Brexit:novo acordo de separação entre Reino Unido e UE, anunciado na quinta-feira passada, ainda enfrenta o espinhoso processo de ratificação na Câmara dos Comuns (Henry Nicholls/Reuters)

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EFE

Publicado em 19 de outubro de 2019 às 10h49.

Última atualização em 19 de outubro de 2019 às 11h08.

Londres — Milhares de pessoas se reuniram no centro de Londres neste sábado para pedir um segundo referendo sobre o Brexit, no qual possam se pronunciar a respeito do novo acordo assinado com a União Europeia (UE), optar por uma saída brusca do bloco ou permanecer nele.

A manifestação em prol de uma consulta popular, convocada pelo grupo People's Vote ("voto do povo", em tradução livre), prevê reunir um milhão de pessoas em direção ao distrito de Westminster, onde fica o Parlamento, enquanto os deputados debatem em uma sessão extraordinária o novo pacto assinado entre Reino Unido e UE.

Ao longo do protesto serão realizados discursos de políticos e celebridades que apoiam o voto de "confirmação", como está sendo chamado o possível segundo plebiscito. Os manifestantes carregam bandeiras pró-Europa e cartazes com críticas ao primeiro-ministro britânico, Boris Johnson.

Protestos - Brexit

Um grupo de manifestantes também arrasta uma carroça com uma imagem diabólica de Dominic Cummings, o principal assessor de Johnson.

Os organizadores do People's Vote também pedem que as pessoas presentes assinem uma carta dirigida ao primeiro-ministro, aos líderes da UE, parlamentares e eurodeputados para que permitam "a oportunidade de verificar" se a população quer executar o Brexit, que está previsto para o dia 31 de outubro.

O novo acordo de separação entre Reino Unido e UE, anunciado na quinta-feira passada, ainda enfrenta o espinhoso processo de ratificação na Câmara dos Comuns (câmara baixa do Parlamento britânico), que já rejeitou três vezes o pacto anterior e onde agora também não há uma maioria clara que o apoie.

Uma das emendas ao acordo que serão votadas neste sábado rejeita um Brexit brusco e solicita um segundo referendo. O premiê insiste que se compromete a cumprir o calendário do Brexit, com ou sem acordo, mas pode ser obrigado pelo Parlamento a pedir um novo adiamento.

Theresa May pede apoio

A ex-primeira-ministra britânica Theresa May fez campanha neste sábado, no Parlamento, pelo voto a favor do novo acordo do Brexit elaborado pelo atual premiê, o também conservador Boris Johnson.

"Todos aqueles que querem evitar um Brexit sem acordo têm que votar a favor", afirmou May na Câmara dos Comuns (câmara baixa do Parlamento britânico).

May, que renunciou após o Parlamento rejeitar três vezes o acordo que ela tinha selado com a União Europeia (UE), ressaltou que os cidadãos e as empresas britânicas precisam que termine a "incerteza" do processo do Brexit.

"Os investidores querem poder investir no Reino Unido, querem saber que este país segue para frente", afirmou a ex-governante, ao frisar a necessidade de cumprir o resultado do referendo de junho de 2016, no qual 51,9% dos eleitores optaram por retirar o país da UE.

Com a votação deste sábado no Parlamento está em jogo "o futuro do nosso país e de nossos cidadãos", assim como o da própria "política" britânica, declarou a ex-primeira-ministra.

Novo adiamento?

Mas a votação que deve determinar o destino do país, depois de mais de três anos de caos e divisão, está ameaçada por uma emenda, apresentada pelo deputado independente Oliver Letwin, que em caso de aprovação adiaria a adoção do texto.

Isto obrigaria ainda o governo a pedir um novo adiamento do Brexit, inicialmente previsto para março e já prorrogado por duas vezes.

A política britânica está paralisada por esta "única questão que a Câmara parece incapaz de resolver", afirmou Johnson aos deputados, convocados para a primeira sessão em um sábado desde a guerra das Malvinas em 1982.

Ele disse ainda que qualquer novo adiamento do Brexit seria "inútil, caro e destrutivo".

Mas nem todos os britânicos estão de acordo com o primeiro-ministro. Enquanto os deputados debatiam a questão, dezenas de milhares de pessoas protestavam no centro de Londres para reclamar um segundo referendo para tirar o país da crise iniciada com a consulta de 2016, quando o Brexit venceu com 52% dos votos.

A emenda Letwin

A emenda apresentada por Letwin, que será votada durante a tarde, propõe que o acordo não seja adotado até a aprovação de toda a legislação necessária para sua implementação.

O deputado afirma que deseja evitar uma armadilha dos eurófobos mais radicais: ele teme que estes votem a favor do texto neste sábado e contra a legislação nos próximos dias, o que levaria o país a um catastrófico Brexit sem acordo no fim do mês.

Isto, no entanto, ameaça provocar ainda mais confusão. A iniciativa de Letwin provocaria "mais incerteza, não menos", disse uma deputada.

Se a emenda for aprovada, o governo poderia seguir adiante com a votação do acordo, mas, mesmo no caso de aprovação, sua adoção ficaria suspensa e Johnson seria obrigado a solicitar um adiamento do Brexit.

Mas o acordo também pode ser rejeitado, como aconteceu por três vezes com o texto precedente negociado pela ex-primeira-ministra Theresa May, especialmente dada a oposição do pequeno partido norte-irlandês DUP, aliado chave do governo.

O novo acordo retoma o que foi negociado por May, mas modifica o ponto de maior discussão: como evitar uma fronteira física entre a província britânica da Irlanda do Norte e a República da Irlanda, país membro da UE, para preservar o frágil acordo de paz da Sexta-Feira Santa, que em 1998 encerrou três décadas de conflito violento na região entre unionistas protestantes e republicanos católicos.

O texto atual prevê uma solução técnica complexa, com a qual a província britânica continuaria a ser administradas por algumas regulamentações do mercado único europeu e permaneceria de fato em uma união alfandegária com a UE, embora permanecesse legalmente na mesma zona aduaneira que o resto do Reino Unido.

A ideia enfrenta uma forte oposição do DUP, que não deseja que seu território receba um tratamento diferente do resto do país. "Deve ser um Brexit para todo o Reino Unido", afirmou o deputado norte-irlandês Nigel Dodds.

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