Mesmo sem guerra declarada, há tiroteios e agressões constantes na fronteira promovidos pelos exércitos dos dois países, mas a tensão entrou em nova escalada com a ocupação de Hegling, na semana passada (©AFP/Arquivo / Ashraf Shazly)
Da Redação
Publicado em 20 de abril de 2012 às 13h58.
Maputo – Em visita oficial a Moçambique, o ministro dos Negócios Estrangeiros do Sudão, Ali Kirt, pediu ao presidente moçambicano Armando Guebuza que ajude a intermediar o conflito com o vizinho Sudão do Sul, que ficou independente no ano passado, após anos de guerra civil. O governo sudanês acusa as forças sul sudanesas de invadirem a região de Heglig, onde há grande produção de petróleo.
Mesmo sem guerra declarada, há tiroteios e agressões constantes na fronteira promovidos pelos exércitos dos dois países, mas a tensão entrou em nova escalada com a ocupação de Hegling, na semana passada. Além disso, o Norte afirma que o governo do Sul tem dado abrigo a terroristas da região de Darfur, ao invés de prendê-los e julgá-los, conforme previu o acordo de independência.
"Agora, o Sudão do Sul ocupou militarmente uma área importante, cuja tutela pelo Sudão nunca esteve em disputa. Este incidente aconteceu e estou aqui para informar ao presidente Guebuza e pedir o seu envolvimento direto na questão, conjuntamente com a União Africana, para persuadir Salva Kiir (presidente do Sudão do Sul) a recuar”, disse.
O Sudão do Sul é considerado o país mais pobre do mundo. Apesar de ter enormes reservas de petróleo, ficou sem refinarias ou portos quando a divisão foi feita, no ano passado. Com os constantes conflitos entre os dois países, o Sudão se nega a permitir que o Sul exporte utilizando suas saídas para o Oceano Índico. No mês passado, o presidente do Sudão chegou a cancelar uma visita que faria ao vizinho do Sul, alegando que a guerra entre os dois era iminente.
Ao fim da visita, o ministro sudanês disse que Moçambique é um país com o qual o Sudão mantém relações históricas e recentemente passou por um processo de pacificação bem sucedido, “daí que o seu envolvimento na pacificação da região pode constituir uma grande contribuição”.
Segundo Ali Kirt, o presidente moçambicano, Armando Guebuza, comprometeu-se a intervir no processo, “até porque entende que este é o único meio de colocar a África longe de tensões e confrontação e manter a paz, prosperidade e desenvolvimento".
O sul do Sudão tornou-se Estado independente em de 9 de julho de 2011, após referendo negociado por tratado de 1995 que encerrou aquela que é considerada a mais longa guerra civil da história do continente africano. Conhecida como a Segunda Guerra Civil Sudanesa (1983-1995), o conflito levou à morte de dois milhões de pessoas e causou quatro milhões de deslocados.
Além das questões relacionadas ao petróleo, os conflitos são acentuados pelas diferenças étnicas e religiosas. Enquanto o sul é majoritariamente cristão e animista, o Sudão tem maioria muçulmana. O Brasil estabeleceu relações diplomáticas com o Sudão do Sul logo após a declaração de independência.
Por causa de outro conflito do Sudão, na região de Darfur, situada no oeste do país, o presidente Omar Hassan Ahmad al Bashir é acusado de genocídio pelo Tribunal Penal Internacional, vinculado à Organização das Nações Unidas (ONU).