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Sucessor de Lula terá desafios para manter projeção do país

Relatório do HSBC indica que, para manter protagonismo, Brasil terá que resolver gargalos de infraestrutura e melhorar a educação pública

O presidente Lula e a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff (Divulgação/PT)

O presidente Lula e a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff (Divulgação/PT)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h36.

Londres - O Brasil vai manter o status de potência emergente após as eleições presidenciais, mas terá que investir em infraestrutura e educação, além de assumir responsabilidades maiores a nível internacional, afirmam analistas ouvidos pela AFP em Londres.

Os especialistas não esperam mudanças na direção econômica do país, pelo menos em uma primeira etapa, caso se confirme a vitória, prevista pelas pesquisas, da candidata do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff.

Brasil, um dos quatro BRIC (ao lado da Rússia, Índia e China), apontados como motores da economia mundial e que estão revolucionando a ordem internacional, prevê um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 6,5% em 2010, que será superado apenas por China e Índia (9,9% y 8%, respectivamente).

Mas o novo governo não poderá ficar parado se quiser manter a tendência em longo prazo.

"O país só poderá estabilizar o crescimento aos níveis muito saudáveis que observamos atualmente resolvendo os gargalos de infraestrutura e melhorando a educação pública", afirma um relatório do banco HSBC.

A necessidade de melhorar uma infraestrutura considerada antiquada será mais patente com a aproximação dos dois eventos que darão maior projeção para o Brasil nos próximos anos, a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro-2016.

"O Brasil continua tendo grandes problemas em áreas como saúde, educação, taxas de criminalidade", opinou Gian Luca Gardini, professor de Política Latino-Americana na Universidade de Bath (sudoeste da Inglaterra).


Outro obstáculo para o crescimento será demográfico.

Para Jim O'Neill, economista chefe do Goldman Sachs e inventor do acrônimo BRIC em 2001 para designar as economias que crescem mais rapidamente, a demografia do Brasil (193 milhões de habitantes) torna "muito improvável" que o país continue crescendo durante muito tempo aos níveis da China ou Índia (ambos com mais de um bilhão de habitantes).

Em um artigo escrito recentemente para o Financial Times, O'Neill destacou ainda o "comércio internacional muito escasso, o governo muito grande e o nível de corrupção muito elevado" como as três áreas que o Brasil deve melhorar para andar lado a lado com as potências mundiais.

O país considera as recém descobertas reservas de petróleo da camada do pré-sal um trunfo para o futuro, mas os analistas temem que o novo governo fortaleça ainda mais a presença do Estado na exploração em águas profundas, que podem conter o equivalente a até 52 bilhões de barris.

Alguns, inclusive, questionam as enormes expectativas do Brasil no setor.

"É bastante difícil ficar rico sendo um Estado petroleiro", explica Neil Shearing, da consultoria Capital Economics.

"E acredito que os interesses em longo prazo do Brasil estarão mais bem servidos se o país reforçar o setor manufatureiro", completa.

A valorização do real - que para Shearing está sobrevalorizado entre 5% e 10% - em consequência do aumento dos preços das matérias-primas e da entrada em massa de capitais, também ameaça a competitividade do país.

"Em curto prazo, a maior esperança do Brasil é uma redução dos preços das matérias-primas", destaca o economista.


Isto permitiria ao Brasil prosseguir com o fortalecimento da relação com China que, com sua demanda insaciável de matérias-primas, se transformou em um parceiro vital para o desenvolvimento do país tanto em termos de comércio - em 2009 superou os Estados Unidos no total de negócios bilaterais - como de investimentos.

Para melhorar o status internacional, os progressos econômicos do Brasil deverão ser acompanhados de uma crescente dimensão política.

"Um papel mais importante significa responsabilidades crescentes e o histórico do Brasil em Honduras, Haiti, Irã e suas candidaturas a postos internacionais tem sido decepcionante", opina o professor Gardini.

O programa é amplo para uma mulher ainda pouco conhecida fora do próprio país, e que terá a difícil tarefa de suceder uma figura extremamente carismática que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, já descreveu como "o cara" e "o político mais popular do mundo".

"Lula era um grande ativo para o papel, a atração e visibilidade do Brasil no mundo", destaca Gian Luca Gardini.

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