Quem é Stephen Bannon, assessor de Trump acusado de racismo
Nomeação despertou um alarme entre muitos, que descrevem Stephen Bannon como nacionalista branco e o acusam de ter posições antissemitas
Fernando Pivetti
Publicado em 16 de novembro de 2016 às 14h55.
Última atualização em 16 de novembro de 2016 às 17h01.
O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, nomeou Stephen Bannon seu estrategista chefe e assessor sênior.
A decisão suscitou alarme entre muitos, que descrevem Bannon, 62 anos, como nacionalista branco e o acusam de ter posições antissemitas.
Bannon foi executivo-chefe do site de jornalismo da direita alternativa Breitbart News, até deixar o cargo para ser executivo-chefe da campanha eleitoral de Trump.
Quando ele foi nomeado, um convidado no programa de rádio de David Duke, ex-grande mago do Ku Klux Klan, declarou: “Assumimos as rédeas [do Partido Republicano]”.
Duke respondeu: “Bem, penetramos na base dele, mas muitos daqueles besouros ainda estão dentro das bolas de algodão” (alusão a uma praga que causa estragos em plantações de algodão).
“Agora eu terei os dois comigo na Casa Branca e vamos trabalhar para tornar a América grande outra vez.”
David Axelrod, que foi assessor sênior do presidente Barack Obama no primeiro mandato deste, disse no domingo (13) pelo Twitter que a escolha de Priebus em lugar de Bannon para o posto de chefe de gabinete pode assinalar que Trump está adotando abordagem mais convencional. Mais tarde, porém, comentou que o simples fato de Bannon ter sido chamado para trabalhar na Casa Branca é “profundamente perturbador”.
Veja abaixo cinco coisas que você precisa saber sobre Bannon.
1) O Breitbart foi acusado de ser mais nacionalista e de direita alternativa sob a direção de Bannon
Nos últimos anos, o Breitbart vem sendo acusado de promover teorias conspiratórias, como a de que a organização Planned Parenthood (que presta serviços de saúde reprodutiva e educação sexual) teria vínculos nazistas ou de que Huma Abedin, assessora de Hillary Clinton, seria espiã a serviço da Arábia Saudita.
A estratégia editorial do site enfoca “o colapso dos valores tradicionais”, promovendo reportagens que retratam imigrantes como criminosos e procurando desacreditar o movimento Black Lives Matter.
“Quando tomamos uma decisão sobre a pauta, não proponho nada que eu ache que vai ser uma reportagem que não terá continuidade, mesmo que pudesse ser a melhor matéria do site”, diz Alex Marlowe, editor executivo do site. “Nosso enfoque é sempre procurar narrativas que vão continuar a render.”
Ele cita alguns dos tópicos mais tratados, que o Breitbart News sempre cobre intensivamente com um enfoque de ser alvo de perseguição.
“As grandes pautas não vão surpreendê-lo”, ele diz. “Imigração, Estado Islâmico, agitação racial e o que chamamos de ‘colapso dos valores tradicionais’. Mas eu diria que Hillary Clinton é o tópico principal.”
Ben Shapiro, ex-editor executivo do Breitbart que se demitiu em protesto em março, descreveu Stephen Bannon como “uma figura vingativa e rançosa, conhecido por agredir verbalmente a supostos amigos e ameaçar seus inimigos”.
Shapiro previu que Bannon ganharia um cargo importante se Trump vencesse a eleição.
“Pelo fato de que as ambições de Steve Bannon se limitam a Steve Bannon, ele dirá a Trump que está fazendo um trabalho fantástico, mesmo que não esteja”, escreveu Shapiro. “É assim que Bannon seduz e manipula figuras políticas e investidores: ele os investe de seu gênio pessoal e depois os esvazia de dentro para fora”.
E um porta-voz do senador democrata Harry Reid disse ao HuffPost que a nomeação de Bannon por Trump “assinala que os supremacistas brancos estarão representados nos mais altos escalões da Casa Branca de Trump. É fácil entender por que o KKK enxerga Donald Trump como seu defensor.”
Segundo o centro jurídico Southern Poverty Law Center, que monitora grupos que veiculam discursos de ódio, Stephen Bannon ajudou a converter o site populista Breitbart em uma fonte favorita de informações de nacionalistas brancos e da direita alternativa.
Estas são manchetes reais que Bannon publicou em seu site supostamente de “notícias”. Ele, o estrategista chefe e assessor sênior de Trump.
“O uso de anticoncepcionais enfeia e enlouquece as mulheres.”
“A correção política protege a cultura muçulmana do estupro.”
“Aguentem, queridos: a Dangerous Faggot Tour (turnê Bicha Perigosa) volta às faculdades em setembro.”
“A solução do ‘assédio’ online é simples: mulheres, fiquem offline.”
“Faltam dois meses para Obama entregar o controle da Internet a ditadores.”
“Não existe preconceito contra a contratação de mulheres na tecnologia, é só que elas são péssimas em entrevistas.”
“Travecas reclamam de outdoor hilário com Bruce Jenner.”
2) Bannon foi oficial da Marinha americana antes de virar empresário
Bannon acumulou uma fortuna multimilionária com uma carreira feita de investimentos em bancos e mídia, um dos quais foi...
3) “Seinfeld”. Sim, o seriado cômico
Através de um pequeno banco de investimentos especializados que Bannon ajudou a criar enquanto passou uma fase trabalhando para o Goldman Sachs, ele recebeu uma participação em “Seinfeld”, que acabou virando um dos seriados cômicos de maior sucesso da história e é visto como fonte de boa parte de sua fortuna.
Consta que ele ainda recebe royalties do seriado.
4) Bannon também é produtor executivo de Hollywood
Bannon já produziu vários filmes e documentários que dão uma visão clara de suas posições políticas.
Ele declarou uma vez: “O cinema pode exercer um papel importante em explicar ideias e descrever a vida e as lutas das pessoas.”
Este documentário aponta Margaret Thatcher, Sarah Palin e Anne Coulter como mulheres que seriam “a consequência não intencional do movimento feminista liberal”.
Quando estava promovendo o filme, Bannon disse: “Estas mulheres apunhalam o coração da narrativa progressista.
“Essa é uma das consequências não pretendidas do movimento de libertação feminista: que, na realidade, as mulheres que liderariam este país seriam femininas, seriam pró-família, teriam marido, amariam seus filhos. Não seriam um bando de sapatonas formadas nas faculdades ‘Seven Sisters” (sete faculdades americanas de artes liberais só para mulheres)."
Occupy Unmasked
Este filme procurou desacreditar os movimentos Occupy e Anonymous, cujos ativistas descreve como “ratos de esgoto”.
The Undefeated
Um filme sobre Sarah Palin.
Não é preciso dizer mais nada.
5) Ele é presidente executivo e co-fundador do Government Accountability Institute (GAI)
O GAI contribuiu para a publicação de vários livros que desancam figurar que o instituto vê como sendo “do establishment”, entre eles Clinton Cash: The Untold Story of How and Why Foreign Governments and Businesses Helped Make Bill and Hillary Rich (O dinheiro dos Clinton: a história não contada de como e por que governos e empresas estrangeiros ajudaram a fazer Bill e Hillary enriquecer) e Bush Bucks: How Public Service and Corporations Helped Make Jeb Rich (Os dólares de Bush: como a política e as grandes empresas ajudaram a tornar Jeb rico).
Bannon é antissemita?
Steve Bannon, antissemita cujo site é um centro de atração de nacionalismo branco, será o estrategista chefe da Casa Branca. Estamos na lama.
Steve Bannon é meu amigo e não é antissemita.
Bannon foi acusado por sua segunda mulher de fazer comentários antissemitas quando eles estavam escolhendo uma escola para suas filhas gêmeas.
Em uma escola, ele teria perguntado “por que havia tantos livros sobre Hanucá na biblioteca”, e em outra “ele me perguntou se me incomodava o fato de que a escola ficava em um antigo templo. Falei que não e perguntei por que ele fez a pergunta, mas ele não respondeu.”
Bannon sempre negou essas acusações.