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Sonho americano está cada vez mais longe dos subúrbios

Os jovens adultos da "geração do milênio" estão cada vez mais abandonando os subúrbios e buscando as cidades

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 28 de janeiro de 2014 às 17h40.

Quando ficou grávida do primeiro filho, Justine Posluszny Bello, de 30 anos, optou por deixar o subúrbio e se mudou para os pés do Capitólio, o prédio do Congresso americano, no coração de Washington, seguindo o caminho inverso do de sua mãe, uma geração antes.

"Queríamos criar nossos filhos em um entorno urbano", disse essa antiga moradora de Falls Church, um subúrbio a cerca de 20 minutos da capital dos Estados Unidos.

"O fator decisivo foi o automóvel. Odiava ter de dirigir para todo lugar. Queria poder caminhar na calçada, me encontrar com as pessoas nas ruas, ir a pé para a escola, ou para o supermercado", acrescentou.

Posluszny Bello, que trabalha na restauração de edifícios antigos, reflete uma tendência crescente nos Estados Unidos. Os jovens adultos da "geração do milênio" estão cada vez mais abandonando os subúrbios e buscando as cidades.

Em 2011, pela primeira vez desde que o automóvel foi inventado, o crescimento demográfico das zonas urbanas superou o dos subúrbios.

De acordo com números do censo divulgado em 2012, 27 das 51 maiores cidades americanas viram sua população aumentar em 1,1%, taxa ligeiramente superior à taxa dos subúrbios (0,9%).

"Com o surgimento da classe média nos anos 1950 e 1960, o sonho americano era uma casa grande, dois filhos, um carro, um jardim grande", disse Leigh Gallagher, autora de um livro que trata do êxodo suburbano, intitulado "The End of the Suburbs: Where the American Dream is Moving" (O fim dos subúrbios: para onde vai o sonho americano, em tradução livre).

"Durante anos, esse foi nosso único modelo de planejamento urbano, até muito recentemente, quando começou a surgir um interesse em viver nas cidades", acrescentou.


Muitos fatores são atribuídos ao êxodo suburbano para a cidade, como o aumento do preço da gasolina, o desejo de evitar os engarramentos, o aumento na taxa de divórcios e recente crise do setor mobiliário.

Reter a "geração do milênio"

Diante das mudanças sociais, alguns subúrbios estão tentando se reinventar para tentar reter a "geração do milênio", que representa uma valiosa fonte de renda e reforço na arrecadação dos impostos.

É o caso do condado de Montgomery, em Maryland, ao noroeste de Washington. Em 2011, os moradores de 20 a 34 anos representavam apenas 19% da população desse confortável bairro, em comparação aos mais de 30% em Washington. Para frear essa tendência de evasão, o condado criou um grupo de trabalho para evitar se transformar em uma cidade-dormitório.

"O condado de Montgomery se deu conta de que tinha de assegurar sua futura saúde fiscal", disse a presidente do grupo de trabalho, Heather Dlhopolsky.

A "geração do milênio", que custou milhões de dólares ao condado em termos de investimentos em educação, está se mudando para lugares próximos, como Washington, levando o dinheiro de seus impostos para outro lado, explicou.

A razão é simples: a atividade econômica dessa área residencial é próspera, mas para às 18h00. Isso também significa que é preciso revitalizar a vida noturna.

"Esses jovens que vão embora têm uma coisa em comum", afirmou Alan Pohoryles, membro do grupo de trabalho e dono de um restaurante em Bethesda, um dos mais ricos subúrbios americanos.

"Eles se mudam, porque querem poder sair a pé nos bairros da moda, com bares e clubes que fecham de 2h a 4h da manha".

Criar "zonas de barulho"

Entre as mais de 30 recomendações desse grupo de funcionários locais, comerciantes, planejadores urbanos e especialistas em segurança pública, está o desenvolvimento da cena musical com a criação de "zonas de barulho", onde os grupos musicais poderão tocar depois das 23h00.

As propostas são variadas, indo do alargamento das calçadas e da construção de fontes em lugares onde as pessoas possam se reunir à formação de uma rede de ciclovias.

Para Pohoryles, o mais importante, porém, é reformar a legislação local que obriga os restaurantes a vender a mesma proporção de alimentos e de álcool.

"Depois de jantar, não tem muita coisa para fazer, não há lugares para dançar, não há discotecas. Bethesda não é um lugar para as pessoas que querem vida noturna", disse.

Já Gallagher acredita que a sangria de habitantes dos subúrbios continua sendo modesta nos Estados Unidos.

"Não acho que as pessoas estejam indo, de repente, morar num arranha-céus na cidade", comentou. O que acontece é que, agora, o sonho americano é "múltiplo", as pessoas querem poder escolher.

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Quando ficou grávida do primeiro filho, Justine Posluszny Bello, de 30 anos, optou por deixar o subúrbio e se mudou para os pés do Capitólio, o prédio do Congresso americano, no coração de Washington, seguindo o caminho inverso do de sua mãe, uma geração antes.

"Queríamos criar nossos filhos em um entorno urbano", disse essa antiga moradora de Falls Church, um subúrbio a cerca de 20 minutos da capital dos Estados Unidos.

"O fator decisivo foi o automóvel. Odiava ter de dirigir para todo lugar. Queria poder caminhar na calçada, me encontrar com as pessoas nas ruas, ir a pé para a escola, ou para o supermercado", acrescentou.

Posluszny Bello, que trabalha na restauração de edifícios antigos, reflete uma tendência crescente nos Estados Unidos. Os jovens adultos da "geração do milênio" estão cada vez mais abandonando os subúrbios e buscando as cidades.

Em 2011, pela primeira vez desde que o automóvel foi inventado, o crescimento demográfico das zonas urbanas superou o dos subúrbios.

De acordo com números do censo divulgado em 2012, 27 das 51 maiores cidades americanas viram sua população aumentar em 1,1%, taxa ligeiramente superior à taxa dos subúrbios (0,9%).

"Com o surgimento da classe média nos anos 1950 e 1960, o sonho americano era uma casa grande, dois filhos, um carro, um jardim grande", disse Leigh Gallagher, autora de um livro que trata do êxodo suburbano, intitulado "The End of the Suburbs: Where the American Dream is Moving" (O fim dos subúrbios: para onde vai o sonho americano, em tradução livre).

"Durante anos, esse foi nosso único modelo de planejamento urbano, até muito recentemente, quando começou a surgir um interesse em viver nas cidades", acrescentou.


Muitos fatores são atribuídos ao êxodo suburbano para a cidade, como o aumento do preço da gasolina, o desejo de evitar os engarramentos, o aumento na taxa de divórcios e recente crise do setor mobiliário.

Reter a "geração do milênio"

Diante das mudanças sociais, alguns subúrbios estão tentando se reinventar para tentar reter a "geração do milênio", que representa uma valiosa fonte de renda e reforço na arrecadação dos impostos.

É o caso do condado de Montgomery, em Maryland, ao noroeste de Washington. Em 2011, os moradores de 20 a 34 anos representavam apenas 19% da população desse confortável bairro, em comparação aos mais de 30% em Washington. Para frear essa tendência de evasão, o condado criou um grupo de trabalho para evitar se transformar em uma cidade-dormitório.

"O condado de Montgomery se deu conta de que tinha de assegurar sua futura saúde fiscal", disse a presidente do grupo de trabalho, Heather Dlhopolsky.

A "geração do milênio", que custou milhões de dólares ao condado em termos de investimentos em educação, está se mudando para lugares próximos, como Washington, levando o dinheiro de seus impostos para outro lado, explicou.

A razão é simples: a atividade econômica dessa área residencial é próspera, mas para às 18h00. Isso também significa que é preciso revitalizar a vida noturna.

"Esses jovens que vão embora têm uma coisa em comum", afirmou Alan Pohoryles, membro do grupo de trabalho e dono de um restaurante em Bethesda, um dos mais ricos subúrbios americanos.

"Eles se mudam, porque querem poder sair a pé nos bairros da moda, com bares e clubes que fecham de 2h a 4h da manha".

Criar "zonas de barulho"

Entre as mais de 30 recomendações desse grupo de funcionários locais, comerciantes, planejadores urbanos e especialistas em segurança pública, está o desenvolvimento da cena musical com a criação de "zonas de barulho", onde os grupos musicais poderão tocar depois das 23h00.

As propostas são variadas, indo do alargamento das calçadas e da construção de fontes em lugares onde as pessoas possam se reunir à formação de uma rede de ciclovias.

Para Pohoryles, o mais importante, porém, é reformar a legislação local que obriga os restaurantes a vender a mesma proporção de alimentos e de álcool.

"Depois de jantar, não tem muita coisa para fazer, não há lugares para dançar, não há discotecas. Bethesda não é um lugar para as pessoas que querem vida noturna", disse.

Já Gallagher acredita que a sangria de habitantes dos subúrbios continua sendo modesta nos Estados Unidos.

"Não acho que as pessoas estejam indo, de repente, morar num arranha-céus na cidade", comentou. O que acontece é que, agora, o sonho americano é "múltiplo", as pessoas querem poder escolher.

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