Schulz: candidato ganhou os 605 votos dos representantes do partido, um feito sem precedentes (Axel Schmidt/Reuters)
AFP
Publicado em 19 de março de 2017 às 16h39.
O ex-presidente do Parlamento Europeu Martin Schulz foi eleito neste domingo por unanimidade como líder do Partido Social-Democrata alemão (SPD) e é candidato a enfrentar Angela Merkel pela liderança do governo nas eleições de setembro.
Merkel parecia inabalável há poucos meses, mas agora está sob a ameaça de Schulz, situado pelas pesquisas no mesmo nível que ela nas intenções de voto, com pouco mais de 30%.
Em um congresso extraordinário em Berlim, Schulz ganhou os 605 votos dos representantes do partido, algo sem precedentes na formação de centro-esquerda alemã.
O recorde histórico havia sido obtido em 1948 por Kurt Schumacher, com 99,71% dos votos no Congresso.
"Agora começa o combate para nos transformarmos no primeiro partido da Alemanha e para conquistar a chancelaria (chefia de governo)", disse Schulz, de 61 anos.
O novo presidente do partido sucede no cargo o atual vice-chanceler e ministro das Relações Exteriores alemão, Sigmar Gabriel, político impopular que havia renunciado a repetir o mandato à frente do SPD no início do ano.
Antes das eleições legislativas de 24 de setembro, três eleições regionais darão uma ideia do avanço real dos sociais-democratas.
A primeira será realizada em uma semana no pequeno estado federado de Sarre (oeste), onde o SPD ameaça o partido conservador de Merkel, o CDU, que governa ali há 18 anos.
Diante da "Schulzmania" das últimas semanas, a chanceler mantém a calma. "A concorrência é estimulante", afirmou na sexta-feira, apesar de uma pessoa próxima ter declarado que "a situação é difícil" para ela.
Neste domingo, Schulz recebeu um importante aval do presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, que mantém relações complicadas com Merkel, embora também seja de centro-direita.
Apesar das críticas pela chegada de mais de um milhão de refugiados à Alemanha, a hipótese de uma derrota de Merkel parecia inimaginável há poucos meses. O SPD, sócio minoritário na coalizão dos conservadores em nível federal, ficava próximo aos 20% de intenção de votos.
Mas a decisão de Schulz de deixar o Parlamento Europeu, onde ficou por cinco anos, e fazer campanha no lugar de Sigmar Gabriel, pouco popular, mudou a situação.
Considerado um ótimo orador, Schulz nunca ocupou nenhum cargo de importância na Alemanha. Isso faz com que ele não endosse a política do governo, na qual seu próprio partido participa na coalizão, e se apresente como um homem novo.
Sua história de vida e origens modestas, junto com um discurso de esquerda, lhe dão uma aura popular que suaviza seu perfil "de Bruxelas", uma incontestável vantagem num momento em que o euroceticismo ganha adeptos na Europa.
"Minha intenção de aplicar políticas que tornem um pouco melhores as condições de vida das pessoas que trabalham duro encontra bastante apoio", disse nesta semana Schulz, que quer continuar as reformas no mercado de trabalho feitas pelo ex-chanceler do SPD Gerhard Schröder entre 2003 e 2005.
Essas reformas permitiram à Alemanha diminuir o desemprego a um nível historicamente baixo, embora tenha criado uma geração de "trabalhadores pobres" e precários.
A esquerda radical não descarta uma eventual coalizão com o SPD depois das eleições. Os conservadores e a classe patronal falam em "populismo".
Essa guinada à esquerda valeu a Martin Schulz o apelido dado pela imprensa alemã de "Robin Hood do SPD".