Sobreviventes do tsunami na Indonésia, vítimas da fome e das doenças
Especialistas alertaram que existe um forte risco de novas ondas mortais em consequência da atividade vulcânica
AFP
Publicado em 25 de dezembro de 2018 às 14h25.
Última atualização em 25 de dezembro de 2018 às 14h25.
As equipes de resgate tentavam levar ajuda nesta terça-feira às regiões devastadas pelo tsunami provocado por uma erupção vulcânica na Indonésia , mas a falta de água potável e de medicamentos complica a missão e afeta milhares de pessoas refugiadas em centros de emergência.
Os trabalhadores humanitários alertaram para os riscos de crise sanitária, enquanto o balanço atualizado do desastre superou 400 mortos.
"Muitas crianças estão doentes, têm febre, dor de cabeça e não há água suficiente", explicou Rizal Alimin, médico da ONG Aksi Cepat Tanggap, em uma escola transformada em abrigo improvisado.
O tsunami atingiu no sábado à noite o litoral do Estreito de Sunda, que separa as ilhas de Sumatra e Java, e deixou pelo menos 429 mortos, mais de 1.485 feridos e 154 desparecidos, de acordo com o balanço mais recente da Agência Nacional de Gestão de Catástrofes.
Mais de 5.000 pessoas estão desabrigadas.
Os especialistas alertaram que existe um forte risco de novas ondas mortais em consequência da atividade vulcânica.
A onda provocada pelo vulcão conhecido como o "filho" do lendário Krakatoa, o Anak Krakatoa, destruiu centenas de edifícios nas costas meridionais de Sumatra e no extremo oeste de Java. Muitos refugiados temem retornar para suas casas.
Medo
"Estou aqui há três dias", declarou Neng Sumarni, de 40 anos. Ela dorme ao lado dos três filhos e do marido no chão da escola, assim como outras 30 pessoas.
"Tenho medo porque minha casa fica muito perto da praia".
Abu Salim, voluntário da associação Tagana, explicou que os voluntários conseguem apenas estabilizar a situação.
"Hoje, nos concentramos na ajuda aos refugiados que estão nos centros, instalamos cozinhas, distribuímos equipes logísticas e mais barracas nos locais mais adequados", disse à AFP.
"As pessoas continuam sem acesso à água potável. Muitos refugiados seguiram para zonas elevadas e não conseguimos chegar até eles".
As equipes de emergência transportam ajuda principalmente por estrada. Dois barcos do governo abastecem as ilhas próximas das costas de Sumatra, onde os habitantes estão bloqueados.
Socorristas com escavadeiras e outras máquinas tentam retirar os escombros. Algumas pessoas trabalham sem ferramentas.
Analistas afirmam que a catástrofe de sábado foi provocada por uma erupção moderada do Anak Krakatoa, que provocou uma avalanche submarina de parte do vulcão e o deslocamento de grandes massas de água.
Antecedentes
Ao contrário dos tsunamis provocados por terremotos, que ativam os sistemas de alertas, as ondas "vulcânicas" dão pouco tempo para que as pessoas avisem a população.
A Indonésia, uma das áreas mais propensas a sofrer catástrofes no planeta, fica no Círculo de Fogo do Pacífico, onde se encontram placas tectônicas e que registra grande parte das erupções vulcânicas e terremotos do planeta
Anak Krakatoa é uma pequena ilha vulcânica que surgiu no oceano meio século depois da letal erupção do vulcão Krakatoa em 1883. É um dos 127 vulcões ativos da Indonésia.
Naquela ocasião, uma coluna de cinzas, pedras e fumaça foi expelida a mais de 20 km de altura, o que deixou a região no escuro e provocou um grande tsunami, com repercussões em todo o mundo. A catástrofe deixou mais de 36.000 mortos.
Em 26 de dezembro de 2004, um tsunami provocado por um terremoto no fundo do mar de 9,3 graus de magnitude, na costa de Sumatra, Indonésia, provocou a morte de 220.000 pessoas em vários países do Oceano Índico, 168.000 delas na Indonésia.