Vítima do tufão Haiyan caminha pela região destruída de Tacloban: sobreviventes, privados de tudo, expressavam a revolta com a lentidão da ajuda (Philippe Lopez/AFP)
Da Redação
Publicado em 13 de novembro de 2013 às 08h02.
Tacloban - Milhares de pessoas tentavam desesperadamente nesta quarta-feira obter uma vaga em um dos raros aviões que decolam das áreas mais afetadas pelo tufão Haiyan nas Filipinas, enquanto os sobreviventes, privados de tudo, expressavam a revolta com a lentidão da ajuda.
As autoridades filipinas anunciaram a morte de oito pessoas no desabamento de parte de um depósito de arroz que era saqueado por uma multidão em Alangalang, na ilha de Leyte, a 17 km de Tacloban, uma das localidades mais afetadas pela catástrofe.
Policiais e soldados protegiam o local, que pertence a uma agência do governo, mas não conseguiram impedir a invasão da multidão desesperada. Mais de 100.000 sacas de arroz foram roubadas, cada uma com 50 kg.
"Nossos funcionários estavam no local, mas não podiam fazer nada sem correr o risco de entrar em perigo", disse uma fonte do governo.
Seis dias depois da passagem de um dos tufões mais potentes da história do país, muitos desabrigados perderam a esperança e buscam a todo custo sair de uma situação apocalíptica.
Alguns deles, esgotados, traumatizados, famintos, invadiram nesta quarta-feira o aeroporto da cidade, destruído, para implorar por vagas nos aviões militares que transportam ajuda humanitária e equipamentos.
"Todo mundo tem medo. Dizem que não há alimentos, que não há água, que desejam ir embora", afirmou o capitão Emily Chang, médico militar.
Os voos, apenas militares, que chegam ou saem de Tacloban, são bastante limitados e as barcas estão sobrecarregadas.
"Podemos compreender o desespero das pessoas", disse uma fonte da Cruz Vermelha.
A ONU teme pelas consequências nas áreas mais afetadas, principalmente nas ilhas de Leyte e Samar, e pediu na terça-feira 301 milhões de dólares para ajudar as vítimas.
"Acabamos de lançar um plano de ação que se concentra na comida, saúde, saneamento, refúgios, na retirada de escombros e na proteção dos mais vulneráveis. Este plano requer 301 milhões de dólares", disse Valerie Amos, diretora das operações humanitárias da ONU em Manila.
"Tememos o pior" disse John Ging, diretor de operações do Escritório da Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU.
As Nações Unidas afirmaram que o tufão pode ter provocado 10.000 mortes apenas na cidade de Tacloban, capital da província de Leyte, uma das mais devastadas.
Mais de 10 milhões de pessoas, 10% da população do país, foram afetadas pelo tufão e pelo menos 660.000 filipinos perderam as casas.
As autoridades não conseguem enfrentar a magnitude do trabalho para dar abrigo e fornecer água, comida e medicamentos aos sobreviventes. Muitos tentam fugir da região.
A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) também fez um apelo para arrecadar 24 milhões de dólares para ajudar em caráter de emergência a agricultura e a pesca, dois setores devastados pelo tufão.
Em um comunicado divulgado em Roma, sede da entidade, a FAO anunciou que "fará o possível para apoiar o governo das Filipinas no processo de reconstrução e para gerar resiliência". A nota é assinada pelo diretor da organização, o brasileiro José Graziano da Silva.