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Sobrevivente de guerra contra o terror é indenizado em 1 milhão de euros

Executivo teve a casa destruída em um bombardeio das forças aliadas no Iraque em 2015, no combate contra o Estado Islâmico, e perdeu a família

Forças iraquianas em combate contra militantes do Estado Islâmico em Mossul, no Iraque (Ahmed Saad/Reuters)

Forças iraquianas em combate contra militantes do Estado Islâmico em Mossul, no Iraque (Ahmed Saad/Reuters)

CA

Carla Aranha

Publicado em 9 de setembro de 2020 às 16h54.

O executivo iraquiano Basin Razzo, de 61 anos, via vídeos na internet, em sua casa em Mossul, no Iraque, tudo veio abaixo. Durante o bombardeio, planejado pelas forças de coalizão lideradas pelos Estados Unidos na luta contra o terrorismo, morreram a esposa de Razzo, sua filha, seu irmão e um sobrinho. O iraquiano, que trabalhava como diretor de contabilidade na Huawei, perdeu o movimento das pernas -- o que ele não perdeu foi a dignidade.

Razzo passou os últimos cinco anos da sua vida reunindo evidências de que a residência foi bombardeada por engano. Ele queria que as forças de coalizão, formadas por iraquianos, americanos e europeus, se responsabilizassem pelo ocorrido. Nesta quarta-feira, dia 9, Razzo finalmente foi ouvido (e compensado) -- ele recebeu quase 1 milhão de euros em indenização do governo da Holanda.

A ministra de Defesa da Holanda, Ank Bijleveld, disse que “em vista dos aspectos e das circunstâncias especiais do caso” havia sido decidido que “a compensação seria oferecida por razões humanitárias”.

Em 20 de setembro de 2015, quando a casa de Razzo foi atingida, as forças de coalizão travavam uma dura batalha contra o Estado Islâmico, que invadiu Mossul e outras regiões do Iraque e da Síria em 2014. A guerra só terminaria em 2017, com dezenas de milhares de mortos e desaparecidos. Até pouco tempo atrás, era possível ver restos dos corpos nos escombros, em Mossul. Metade de cidade foi destruída.

No ano passado, um piloto holandês que participou da missão em Mossul concordou em ser entrevistado, sem revelar seu nome, para a mídia europeia, segundo reportagem do jornal britânico The Guardian, confirmando as informações dadas por Rizzo. O iraquiano alegava que sua residência havia sido destruída em função de uma informação de inteligência equivocada, recebida pelos aliados, de que o local seria utilizado como uma fábrica de bombas do Estado Islâmico.

“Eu já tinha pedido a esperança e fiquei muito surpreso quando meu advogado ligou. O caso finalmente foi encerrado. Estou satisfeito com a agilidade com que a Holanda resolveu isso. Nos Estados Unidos, não deu em nada”, disse Razzo. “Agora posso tomar conta do que sobrou de minha família, embora ainda precise de uma cirurgia nos quadris”, afirmou.

Em Mossul, que era a segunda maior cidade do Iraque antes da guerra contra o Estado Islâmico, a batalha contra os terroristas durou nove meses, um tempo considerado longo para combates em cenários urbanos. Milhares de tropas iraquianas, inclusive da força de elite, não resistiram, assim como incontáveis civis iraquianos. Ao final da batalha, integrantes do Estado Islâmico se refugiaram na parte antiga da cidade, formada por alamedas com dezenas de casas. Calcula-se que pelo menos 40.000 civis tenham morrido.

Mesmo diante do fracasso no campo de batalha, o Estado Islâmico não morreu. Aos poucos, os militantes começaram a se reorganizar e hoje se dedicam a emboscadas contra militares e forças policiais no Iraque, além de ataques contra civis.

 

 

 

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