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Snipers implacáveis e terror: quem é o líder checheno que se uniu a Putin

Filho de combatente de guerra contra a União Soviética, Ramzan Kadyrov, de 45 anos, comanda milícia de 10 mil homens; dirigente já estrelou filme de ação

Ramzan Kadyrov, líder da Chechênia, comanda milícia que deve lutar na guerra da Ucrânia (Mikhail Svetlov/Getty Images)
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Carla Aranha

Publicado em 19 de março de 2022 às 09h00.

Última atualização em 19 de março de 2022 às 09h15.

Por onde passam, os snipers da Chechênia carregam uma fama avassaladora. Durante a guerra no Iraque contra o Estado Islâmico, entre 2014 e 2017, os franco-atiradores da ex-república soviética se uniram aos militantes do grupo, mediante recompensas financeiras, em batalhas disputadas milímetro a milímetro – os chechenos eram conhecidos por não sair do alto dos telhados, de onde disparavam metralhadoras AK-47. Agora, os mercenários, dessa vez sob os auspícios do líder checheno, Ramzan Kadyrov, de 45 anos, devem combater ao lado das tropas russas na Ucrânia .

A iniciativa tem sido interpretada como parte da estratégia de Vladimir Putin de reforçar as investidas contra a defesa ucraniana. Quase um mês após o início da guerra, a Ucrânia tem sido eficaz em barrar os avanços russos sobre a capital, Kiev, enquanto as negociações de paz continuam.

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“Rendam-se ou estarão acabados”, ameaçou Kadyrov nas mídias sociais nos últimos dias, com imagens enviadas a partir de uma localidade próxima à capital ucraniana. “Vamos mostrar a vocês que a prática russa ensina a guerra melhor do que a teoria estrangeira e as recomendações de conselheiros militares”.

Líder da Chechênia desde 2007, quando foi conduzido ao cargo por Vladimir Putin – em 2010, o título de presidente foi modificado para “chefe da República” --, Kadyrov construiu uma reputação baseada em demonstrações de força bruta e posições radicais. De perseguições ao público LBGT+ à defesa de crimes contra mulheres, a lista de denúncias de delitos contra os direitos humanos não tem fim. Kadyrov não nega muitas das acusações.

Economista de formação, ele cresceu à sombra de seu pai, o líder religioso e ex-presidente da Chechênia Akhmad Abdulkhamidovich Kadyrov, cuja família foi expulsa do país durante a repressão promovida pelo ex-líder soviético Josef Stalin. Akhmad, que nasceu no Casaquistão, voltou à Chechênia na década de 90, quando fundou um instituto de estudos islâmicos. Não demorou muito para que se tornasse um imã, líder espiritual islâmico – a maioria dos cerca de 1,6 milhão de habitantes da Chechênia é formada por muçulmanos.

Quando a União Soviética estava se desmantelando, nos anos 90, Akhmad pegou em armas para lutar pela independência da Chechênia. Em pouco tempo, se tornou uma figura proeminente no meio político e militar. Até então inimigo número um de Moscou, o combatente mudou de lado após Putin assumir o poder, em 1999, e fez as pazes com a Rússia. O país estava então mergulhado em batalhas entre milícias rivais que disputavam o poder, algumas apoiadas por militantes radicais islâmicas. Nessa época, seu filho Ramzan foi seu motorista e guarda-costas. Akhmad acabou assassinado em 2004 em um atentado a bomba e, três anos depois, Ramzan foi alçado ao poder.

O líder checheno herdou não só os contatos e a aliança de seu pai com Putin. Também recebeu a incumbência de comandar os Kadyrovites, organização paramilitar fundada em 1994 pelo patriarca da família. Kadyrov filho decidiu incorporar a milícia às forças armadas da Chechênia, embora sua função primordial seja a de proteger o chefe da República – agora, parte da tropa de 10 mil homens deve combater na Ucrânia.

Normalmente visto em público usando uniforme militar, o chefe das montanhas do norte do Cáucaso, apontado como dono de uma fortuna milionária, não dispensa botas de grife, como a italiana Prada – e não esconde o amor por filmes de Hollywood. Em 2015,  Kadyrov chegou a anunciar sua participação, no papel principal, de um longa-metragem rodado pelo único estúdio de cinema da Chechênia, o Terekbayev ChechenFilm. O filme, intitulado “Quem não entender vai se dar mal”, contava com Kadyrov na pele de uma espécie Rambo, segundo o próprio – até hoje, no entanto, não há notícia do lançamento da película.

A fama no meio artístico ficou por conta de umas das filhas de Kadyrov, a designer Aishat, de 23 anos, que organizou desfiles de sua grife em Paris para comemorar os dez anos da marca, a Firdaws, criada por sua mãe. A coleção, formada por roupas “conservadoras”, não caiu no gosto das europeias. De volta para casa, Aishat foi nomeada ministra da Cultura. A alegria, entretanto, não durou muito tempo. Há dois anos, ela foi incluída, ao lado de seus pais, em uma lista de sanções americanas. Desde então, o ritmo de viagens diminuiu. Nos últimos tempos, só o patriarca tem se deslocado e, mesmo assim, apenas para seguir as pegadas de Putin.

 

 

 

 

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