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Situação do Egito se aproxima do caos

A ira suscitada na quarta-feira após a tragédia do estádio de Port Said, onde morreram 74 pessoas, não diminui com a passagem das horas

A escalada da violência levou os jovens a atear fogo na sede dos serviços de impostos imobiliários (Mahmud Hams/AFP)
DR

Da Redação

Publicado em 3 de fevereiro de 2012 às 17h37.

Cairo - O Egito deu nesta sexta-feira mais um passo rumo ao caos que já domina as ruas do centro do Cairo, totalmente fora de controle por conta dos graves confrontos entre centenas de manifestantes e a polícia.

A ira suscitada na quarta-feira após a tragédia do estádio de Port Said, onde morreram 74 pessoas, não diminui com a passagem das horas. A impressão, pelo contrário, é que a sensação de insegurança no país aumentou.

Os torcedores radicais do clube Al-Ahly, um dos times envolvidos na batalha de Port Said, são a ponta de lança dos manifestantes que se enfrentam ferozmente com as forças de segurança, que respondem com abundante material antidistúrbios.

A escalada da violência levou os jovens a atear fogo na sede dos serviços de impostos imobiliários, um grande edifício administrativo situado na confluência entre as ruas Mohammed Mahmoud e Mansur, epicentro dos choques.

Armários e escrivaninhas da sede governamental foram utilizados como barricadas improvisadas depois que o edifício foi invadido.

Os disparos de gás lacrimogêneo e balas de borracha provocaram efeitos devastadores entre os manifestantes, deixando quatro mortos durante o dia, dois deles na cidade de Suez.

Segundo o Ministério de Saúde do Egito, mais de mil pessoas ficaram feridas, das quais 211 são policiais.

Ao contrário de outras ocasiões, como aconteceu em novembro do ano passado, o centro nervoso da revolução que depôs o regime de Hosni Mubarak, a emblemática praça Tahrir, não apoiou totalmente os manifestantes.


A cúpula dos novos protestos está composta por centenas de torcedores radicais irados e com sede de vingança, em muitos casos sem um discurso político definido e com certa inclinação à violência niilista.

As bandeiras do Al-Ahly na linha de frente mostram que o desejo de vingança por parte dos mais exaltados é evidente, e se une às reivindicações políticas dos acampados em Tahrir.

Um torcedor do Al-Ahly que pediu para ser chamado de Shinguma comentou à Agência Efe que viveu em primeira pessoa os dramáticos fatos de Port Said, onde morreram quatro amigos seus.

'Se estamos hoje aqui é em protesto pelo massacre de Port Said, mas, principalmente, porque em um ano não mudou nada e a Junta Militar é como o regime de Mubarak. Está tudo sob seu controle', lamentou.

Ahmed, médico voluntário em um hospital de campanha nessa mesma praça, considerou que a atual situação 'é parecida com a de novembro', quando dezenas de pessoas morreram asfixiadas pelos gases e balas de borracha disparadas pela polícia.

'Atendemos centenas de pessoas, a maioria com sintomas de asfixia, mas também bastantes casos de lesões por balas de borracha', detalhou.

Apesar de esporadicamente haver pequenas tréguas na violência, a situação piorou no início da noite, o que levou a Junta Militar a divulgar um comunicado em tom dramático.


Mais uma vez, os generais acusaram 'partes estrangeiras' que movimentam os fios de uma conspiração para desestabilizar o país, sem mencionar nomes.

'O país atravessa a etapa mais perigosa e mais importante de sua história, que requer que todos os filhos da nação egípcia se unam e se solidarizem para enterrar a discórdia', destaca a nota.

A cúpula militar constatou um 'aumento do perigo pela propagação de rumores e pela insistência de algumas partes em ameaçar as propriedades e instituições do Estado'.

A referência aos rumores parece ser uma alusão às críticas direcionadas ao Ministério do Interior e à própria Junta em relação à passividade da polícia no massacre de Port Said.

De acordo com muitos torcedores do Al-Ahly, esta impassibilidade policial e a suposta presença de agentes infiltrados na torcida local de Port Said teriam sido uma vingança do regime contra a torcida do clube cairota por seu papel na Revolução de 25 de Janeiro, que derrubou Mubarak.

Apesar de exercer um papel cada vez mais irrelevante, o primeiro-ministro Kamal Ganzuri também tentou acalmar os ânimos com um comunicado no qual pediu aos 'sábios da nação e aos jovens da revolução' para que contribuam para evitar o caos.

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A ira suscitada na quarta-feira após a tragédia do estádio de Port Said, onde morreram 74 pessoas, não diminui com a passagem das horas. A impressão, pelo contrário, é que a sensação de insegurança no país aumentou.

Os torcedores radicais do clube Al-Ahly, um dos times envolvidos na batalha de Port Said, são a ponta de lança dos manifestantes que se enfrentam ferozmente com as forças de segurança, que respondem com abundante material antidistúrbios.

A escalada da violência levou os jovens a atear fogo na sede dos serviços de impostos imobiliários, um grande edifício administrativo situado na confluência entre as ruas Mohammed Mahmoud e Mansur, epicentro dos choques.

Armários e escrivaninhas da sede governamental foram utilizados como barricadas improvisadas depois que o edifício foi invadido.

Os disparos de gás lacrimogêneo e balas de borracha provocaram efeitos devastadores entre os manifestantes, deixando quatro mortos durante o dia, dois deles na cidade de Suez.

Segundo o Ministério de Saúde do Egito, mais de mil pessoas ficaram feridas, das quais 211 são policiais.

Ao contrário de outras ocasiões, como aconteceu em novembro do ano passado, o centro nervoso da revolução que depôs o regime de Hosni Mubarak, a emblemática praça Tahrir, não apoiou totalmente os manifestantes.


A cúpula dos novos protestos está composta por centenas de torcedores radicais irados e com sede de vingança, em muitos casos sem um discurso político definido e com certa inclinação à violência niilista.

As bandeiras do Al-Ahly na linha de frente mostram que o desejo de vingança por parte dos mais exaltados é evidente, e se une às reivindicações políticas dos acampados em Tahrir.

Um torcedor do Al-Ahly que pediu para ser chamado de Shinguma comentou à Agência Efe que viveu em primeira pessoa os dramáticos fatos de Port Said, onde morreram quatro amigos seus.

'Se estamos hoje aqui é em protesto pelo massacre de Port Said, mas, principalmente, porque em um ano não mudou nada e a Junta Militar é como o regime de Mubarak. Está tudo sob seu controle', lamentou.

Ahmed, médico voluntário em um hospital de campanha nessa mesma praça, considerou que a atual situação 'é parecida com a de novembro', quando dezenas de pessoas morreram asfixiadas pelos gases e balas de borracha disparadas pela polícia.

'Atendemos centenas de pessoas, a maioria com sintomas de asfixia, mas também bastantes casos de lesões por balas de borracha', detalhou.

Apesar de esporadicamente haver pequenas tréguas na violência, a situação piorou no início da noite, o que levou a Junta Militar a divulgar um comunicado em tom dramático.


Mais uma vez, os generais acusaram 'partes estrangeiras' que movimentam os fios de uma conspiração para desestabilizar o país, sem mencionar nomes.

'O país atravessa a etapa mais perigosa e mais importante de sua história, que requer que todos os filhos da nação egípcia se unam e se solidarizem para enterrar a discórdia', destaca a nota.

A cúpula militar constatou um 'aumento do perigo pela propagação de rumores e pela insistência de algumas partes em ameaçar as propriedades e instituições do Estado'.

A referência aos rumores parece ser uma alusão às críticas direcionadas ao Ministério do Interior e à própria Junta em relação à passividade da polícia no massacre de Port Said.

De acordo com muitos torcedores do Al-Ahly, esta impassibilidade policial e a suposta presença de agentes infiltrados na torcida local de Port Said teriam sido uma vingança do regime contra a torcida do clube cairota por seu papel na Revolução de 25 de Janeiro, que derrubou Mubarak.

Apesar de exercer um papel cada vez mais irrelevante, o primeiro-ministro Kamal Ganzuri também tentou acalmar os ânimos com um comunicado no qual pediu aos 'sábios da nação e aos jovens da revolução' para que contribuam para evitar o caos.

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