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O maior risco na crise com a Coreia do Norte é Trump

Pesquisador também aponta que, embora as tensões pareçam maiores neste ano, é possível que o embate Kim x Trump siga sendo apenas uma guerra de palavras

Silberstein: é especialista em Coreia do Norte e Ásia na Penn University, dos Estados Unidos (foto/Divulgação)

Silberstein: é especialista em Coreia do Norte e Ásia na Penn University, dos Estados Unidos (foto/Divulgação)

CR

Carolina Riveira

Publicado em 11 de agosto de 2017 às 11h18.

Última atualização em 14 de agosto de 2017 às 18h53.

As relações entre a Coreia do Norte e a comunidade internacional vivem um ano tenso, com constantes declarações efusivas vindas do regime de Kim Jong-un e do presidente americano, Donald Trump. Após ter lançado com sucesso dois mísseis de longo alcance – chamados de ICBM e capazes de carregar material nuclear -, a Coreia do Norte afirmou nesta quinta-feira que o próximo passo é disparar seus projéteis contra a ilha de Guam, território americano no Pacífico. Ao mesmo tempo, nos últimos dias, o alto escalão do governo americano vem dizendo que Pyongyang deveria parar com as ameaças ou o país seria “dizimado” pelo arsenal nuclear americano, que Trump afirma ter ficado “mais forte” em seu mandato. Só neste ano, a Coreia do Norte já testou 12 mísseis de médio e longo alcance, e as sanções do Conselho de Segurança da ONU não parecem capazes de parar o ímpeto norte-coreano.

Mas para o pesquisador Benjamin Katzeff Silberstein, especialista em Coreia do Norte e Ásia na Penn University, dos Estados Unidos, analista da consultoria internacional IHS e co-editor do site North Korean Economy Watch, as sanções impostas pela comunidade internacional contra o regime de Kim Jong-un teriam muito mais efeito se a China se envolvesse de corpo e alma na questão. Em entrevista a EXAME, Silberstein também aponta que, embora as tensões pareçam maiores neste ano, é possível que o embate Kim x Trump siga sendo apenas uma guerra de palavras. “Minha aposta é que, com o tempo, as tensões vão diminuir porque nenhuma das partes está disposta – eu espero – a entrar numa guerra nuclear”, diz.

A Coreia do Norte tem feito testes de mísseis desde 2006, mas as tensões entre Pyongyang e o Ocidente parecem ter se intensificado neste ano. A eleição do presidente americano, Donald Trump, foi um ponto crucial?

A questão é se as tensões realmente ficaram maiores neste ano. Esses embates têm alguns picos em intervalos regulares, e sempre que isso acontece, o mundo parece pensar que as coisas estão diferentes. Dessa vez, claro, existe o fator desconhecido de Donald Trump. Como ele nunca lidou com esse tipo de crise antes, ou com a Coreia do Norte, ninguém sabe exatamente como ele vai agir.

Nos últimos dias, as divergências têm ficado em torno das ameaças da Coreia do Norte de fazer seus mísseis chegarem ao território americano de Guam. O presidente Donald Trump declarou que o arsenal nuclear dos Estados Unidos tornou-se “mais forte do que nunca” desde que ele assumiu. O quão longe essa disputa de palavras pode chegar de fato? 

Ninguém sabe ao certo se isso pode de fato chegar a uma guerra. Mas minha aposta é que, com o tempo, as tensões vão diminuir porque nenhuma das partes está disposta – eu espero – a entrar numa guerra nuclear.

A China é apontada muitas vezes como peça-chave para solucionar a crise com a Coreia do Norte, e Trump já disse que os chineses poderiam parar Pyongyang se quisessem. Poderiam mesmo? Que interesses a China tem no regime de Kim Jong-un?

Eu acredito que a China poderia fazer muito para parar o desenvolvimento nuclear e de mísseis da Coreia do Norte. Para começar, ela poderia apoiar completamente as sanções da ONU sob as exportações norte-coreanas de carvão, ferro, minério e outras mercadorias. Se quisesse, a China também poderia parar de enviar combustíveis e petróleo para a Coreia do Norte. No longo prazo, contudo, isso poderia colocar em risco a estabilidade social do país, o que a China quer evitar, porque isso pode, por exemplo, tornar mais perigosas suas fronteiras com a Coreia do Norte.

Além dos Estados Unidos, não vemos os outros líderes mundiais, como os europeus, fazerem tantas declarações sobre a Coreia do Norte. Por que só os americanos parecem querer se mobilizar mais? 

Bem, o míssel do tipo ICBM [de longo alcance] da Coreia do Norte está mirando diretamente os Estados Unidos, porque o objetivo da Coreia do Norte é ser capaz de atingir os Estados Unidos com ele. Então, não é estranho que a reação dos Estados Unidos seja particularmente forte. Mas é difícil dizer o que os outros países deveriam ou não estar fazendo.

As sanções do Conselho de Segurança realmente causam algum efeito no regime de Kim Jong-un? 

Não conseguimos precisar exatamente o quanto as sanções prejudicam o país, mas existe o fator de que as sanções que têm como alvo as exportações (por exemplo, as instituídas neste ano e no ano passado) não foram completamente apoiadas e implementadas pela China. Além disso, é importante lembrar que a Coreia do Norte tem tido anos e anos para se acostumar a viver com as sanções em suas relações econômicas e internacionais. Então, não é algo incomum para eles.

Com as sanções interferindo na vida diária da população há tanto tempo, como o regime de Kim Jong-un é visto dentro da Coreia do Norte? Qual o papel do Estado na vida da população?

O mercado privado já é muito mais importante do que o governo. Hoje, a maioria dos norte-coreanos não obtém mais comida e outros itens e serviços de necessidade básica por meio do Estado, como costumava acontecer na década de 1990. Se isso vai se transformar em uma atitude diferente em direção ao Estado com o tempo, não conseguimos saber. De qualquer forma, internamente, eu não acredito que haja algum risco de levante popular na Coreia do Norte em um futuro próximo.

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