Exame Logo

Shintaro Ishihara, um patriota que pretende salvar o Japão

Ishihara, que se apresenta como "um idoso fora de controle" renunciou abruptamente no dia 25 de outubro como governador de Tóquio

O ex-governador de Tóquio, Shintaro Ishihara: Ishihara é conhecido por suas incendiárias declarações contra homossexuais, imigrantes e mulheres (REUTERS)
DR

Da Redação

Publicado em 13 de dezembro de 2012 às 13h29.

Tóquio - O polifacético, controvertido e incansável Shintaro Ishihara, octogenário ex-governador de Tóquio, se propôs a mudar o panorama político japonês ao se lançar como o candidato da alternativa nas eleições gerais do Japão de 16 de dezembro.

Ishihara, que se apresenta como "um idoso fora de controle" - rótulo que lhe pôs recentemente a ministra do Transporte, Makiko Tanaka -, renunciou abruptamente no dia 25 de outubro como governador de Tóquio para empreender esta que pode ser sua última cruzada para "salvar" o Japão do "afundamento".

Para estas eleições, ele se aliou ao também polêmico prefeito de Osaka, Toru Hashimoto, para presidir o Partido da Restauração do Japão, que propõe fazer política à margem dos burocratas e dos partidos tradicionais e pretende se transformar na terceira força do país.

Nascido em Kobe em 1932, embora tenha sido criado perto de Tóquio, ele chegou à fama aos 23 anos, quando recebeu o prêmio Akutagawa pela publicação de seu romance "A estação do sol".

A obra foi um fenômeno que gerou uma tribo urbana japonesa de jovens contestadores e insatisfeitos, e cuja adaptação para o cinema representou a estreia de seu irmão mais novo, Yujiro, que se transformaria em um dos atores mais famosos da constelação artística japonesa.

Nos anos 60, além de escrever prolificamente romances ou peças de teatro e roteiros de cinema, percorreu a América do Sul de moto e cobriu, entre 1966 e 1967, a Guerra do Vietnã para o principal jornal japonês, o "Yomiuri", o que motivou sua decisão de entrar na política.

Um ano depois, conseguiu uma cadeira na câmara alta do parlamento com o conservador Partido Liberal-Democrata (PLD) graças a um arrasador número de votos que teria sido ainda maior se não fosse a anulação de 80 mil cédulas que tinham o nome de seu irmão, ao invés do seu.


Ishihara foi ministro dos Transportes antes de se apresentar às primárias em 1989, nas quais perdeu por apenas 48 votos para Toshiki Kaifu, que seria eleito chefe de Governo pouco depois.

Nos anos 80, promoveu sua imagem de patriota anticomunista com o romance "Nação perdida" (1982), no qual narrou um Japão sob o controle da URSS, e com "O Japão que pode dizer "Não", co-escrito com o então presidente da Sony, Akio Morita, no qual apelava ao país para deixar de ser subserviente dos EUA.

Após abandonar a política nacional em 1995, ganhou em 1999 como candidato independente as eleições para governador de Tóquio, considerado por muitos o segundo posto de maior responsabilidade do país.

No cargo, avivou ainda mais sua aversão à centralizada burocracia japonesa e liderou as candidaturas de Tóquio aos Jogos Olímpicos de 2016 e 2020 - este último aos quais a cidade ainda concorre.

Sua última ação destacada como governador foi anunciar um plano para comprar os ilhas Senkaku/Diaoyu, um arquipélago no Mar da China Oriental cuja soberania o Japão é disputada com Pequim.

O polêmico plano (com o qual arrecadou 15 milhões de euros em doações "patrióticas") forçou o Executivo a comprar as ilhas para evitar males maiores, o que desencadeou a iras do governo chinês e levou as relações entre a primeira e segunda maiores economias da Ásia a seu pior momento em muitos anos.

Após este episódio, foi quase natural que Ishihara retornasse à política nacional.

Aos 80 anos, ele se apresenta agora como um líder decidido, que dá a impressão de dizer sempre o que lhe dá vontade (como dramaturgo, dizem que busca de maneira estudada o efeito surpresa) e cuja postura se resume a três palavras: conservadorismo, descentralização e patriotismo.

No entanto, a legenda populista que fundou com Hashimoto tem divisões e gerações diversas, por isso o partido ainda carece de posturas concretas a respeito de temas polêmicos, como o futuro da energia nuclear no Japão após Fukushima ou o papel que o Exército deve desempenhar.

Outro fator é o que Ishihara, conhecido por suas incendiárias declarações contra os homossexuais, os imigrantes ou as mulheres -sobre as quais chegou a dizer que após a menopausa não servem para nada -, fará por sua própria conta.

Casado com Noriko há mais de 50 anos, Ishihara é pai de quatro homens, dois deles políticos, enquanto outro é ator e apresentador de notícias de meteorologia.

Veja também

Tóquio - O polifacético, controvertido e incansável Shintaro Ishihara, octogenário ex-governador de Tóquio, se propôs a mudar o panorama político japonês ao se lançar como o candidato da alternativa nas eleições gerais do Japão de 16 de dezembro.

Ishihara, que se apresenta como "um idoso fora de controle" - rótulo que lhe pôs recentemente a ministra do Transporte, Makiko Tanaka -, renunciou abruptamente no dia 25 de outubro como governador de Tóquio para empreender esta que pode ser sua última cruzada para "salvar" o Japão do "afundamento".

Para estas eleições, ele se aliou ao também polêmico prefeito de Osaka, Toru Hashimoto, para presidir o Partido da Restauração do Japão, que propõe fazer política à margem dos burocratas e dos partidos tradicionais e pretende se transformar na terceira força do país.

Nascido em Kobe em 1932, embora tenha sido criado perto de Tóquio, ele chegou à fama aos 23 anos, quando recebeu o prêmio Akutagawa pela publicação de seu romance "A estação do sol".

A obra foi um fenômeno que gerou uma tribo urbana japonesa de jovens contestadores e insatisfeitos, e cuja adaptação para o cinema representou a estreia de seu irmão mais novo, Yujiro, que se transformaria em um dos atores mais famosos da constelação artística japonesa.

Nos anos 60, além de escrever prolificamente romances ou peças de teatro e roteiros de cinema, percorreu a América do Sul de moto e cobriu, entre 1966 e 1967, a Guerra do Vietnã para o principal jornal japonês, o "Yomiuri", o que motivou sua decisão de entrar na política.

Um ano depois, conseguiu uma cadeira na câmara alta do parlamento com o conservador Partido Liberal-Democrata (PLD) graças a um arrasador número de votos que teria sido ainda maior se não fosse a anulação de 80 mil cédulas que tinham o nome de seu irmão, ao invés do seu.


Ishihara foi ministro dos Transportes antes de se apresentar às primárias em 1989, nas quais perdeu por apenas 48 votos para Toshiki Kaifu, que seria eleito chefe de Governo pouco depois.

Nos anos 80, promoveu sua imagem de patriota anticomunista com o romance "Nação perdida" (1982), no qual narrou um Japão sob o controle da URSS, e com "O Japão que pode dizer "Não", co-escrito com o então presidente da Sony, Akio Morita, no qual apelava ao país para deixar de ser subserviente dos EUA.

Após abandonar a política nacional em 1995, ganhou em 1999 como candidato independente as eleições para governador de Tóquio, considerado por muitos o segundo posto de maior responsabilidade do país.

No cargo, avivou ainda mais sua aversão à centralizada burocracia japonesa e liderou as candidaturas de Tóquio aos Jogos Olímpicos de 2016 e 2020 - este último aos quais a cidade ainda concorre.

Sua última ação destacada como governador foi anunciar um plano para comprar os ilhas Senkaku/Diaoyu, um arquipélago no Mar da China Oriental cuja soberania o Japão é disputada com Pequim.

O polêmico plano (com o qual arrecadou 15 milhões de euros em doações "patrióticas") forçou o Executivo a comprar as ilhas para evitar males maiores, o que desencadeou a iras do governo chinês e levou as relações entre a primeira e segunda maiores economias da Ásia a seu pior momento em muitos anos.

Após este episódio, foi quase natural que Ishihara retornasse à política nacional.

Aos 80 anos, ele se apresenta agora como um líder decidido, que dá a impressão de dizer sempre o que lhe dá vontade (como dramaturgo, dizem que busca de maneira estudada o efeito surpresa) e cuja postura se resume a três palavras: conservadorismo, descentralização e patriotismo.

No entanto, a legenda populista que fundou com Hashimoto tem divisões e gerações diversas, por isso o partido ainda carece de posturas concretas a respeito de temas polêmicos, como o futuro da energia nuclear no Japão após Fukushima ou o papel que o Exército deve desempenhar.

Outro fator é o que Ishihara, conhecido por suas incendiárias declarações contra os homossexuais, os imigrantes ou as mulheres -sobre as quais chegou a dizer que após a menopausa não servem para nada -, fará por sua própria conta.

Casado com Noriko há mais de 50 anos, Ishihara é pai de quatro homens, dois deles políticos, enquanto outro é ator e apresentador de notícias de meteorologia.

Acompanhe tudo sobre:ÁsiaEleiçõesJapãoPaíses ricosPolítica

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de Mundo

Mais na Exame