Foto aérea de prédios residenciais em Sanya, sul da China. (AFP/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 23 de abril de 2023 às 16h06.
O pior da crise já passou e algumas corretoras começam a ver a luz no fim do túnel, mas analistas alertam que o mercado imobiliário chinês crescerá lentamente nos próximos anos.
O setor imobiliário da China cresceu depois de uma flexibilização das restrições em 1998, em um país onde a compra de uma casa costuma ser um requisito para o casamento, além de um investimento.
Durante duas décadas, os empresários do setor conseguiram construir muito e rápido graças às facilidades de crédito, mas acumularam tantas dívidas que as autoridades bloquearam o seu acesso ao financiamento em 2020.
Desde então, a disponibilidade de crédito encolheu e a demanda por imóveis caiu como resultado da retração econômica e da crise de confiança.
A situação foi agravada pela ex-líder do setor, a imobiliária Evergrande, que estava à beira da falência e afetou a credibilidade de outras empresas.
A Evergrande disse este mês que chegou a um acordo de reestruturação com um grupo de credores internacionais, o que poderia permitir aliviar sua enorme dívida. Segundo a empresa, o plano é "um marco positivo substancial" que "facilitará os esforços da empresa para retomar as operações".
"O mercado imobiliário chinês sofreu sua queda mais acentuada no ano passado, com uma queda de 24% nas vendas", disse Rosealea Yao, da Gavekal-Dragonomics, uma empresa de consultoria de Pequim.
Mas depois de um ano sombrio, "o mercado imobiliário chinês deu sinais de estabilização" desde o início de 2023, segundo a Fitch Ratings.
Em março, um estudo em grandes cidades chinesas registrou um aumento significativo nos preços dos imóveis, segundo dados divulgados no sábado (22) pelo Escritório Nacional de Estatísticas (ONE).
Das 70 cidades da lista oficial, houve aumento de preços em 64, mais do que os 55 de fevereiro e os 36 de janeiro.
"Este é um forte sinal de que a tão esperada recuperação está finalmente acontecendo", disse à AFP Shehzad Qazi, diretor-gerente da China Beige Book, consultoria que acompanha a economia chinesa.
Mas outros observadores moderaram a perspectiva de longo prazo.
"Podemos ver uma recuperação nos próximos meses, mas a longo prazo, no próximo ano ou no ano seguinte, não acho que veremos uma grande recuperação", afirmou John Lam, que monitora o mercado imobiliário chinês para o banco UBS.
Ele argumentou que o declínio da população da China, uma tendência iniciada em 2022, continuará e afetará a demanda imobiliária.
Além disso, "a demanda especulativa não voltou", acrescentou Lam. O governo insiste que a habitação é para viver e "não para especular".
Segundo Qazi, o setor terá "recuperações cíclicas", mas os dias de rápido crescimento "parecem ter acabado".
Para reativar o setor, o governo adotou uma postura mais conciliadora desde novembro, com medidas de apoio direcionadas a corretores com finanças mais sólidas.
Os resultados foram desiguais.
Em março, o número de edifícios novos que começaram a ser construídos caiu 29% na comparação anual, após uma queda de 9,4% em janeiro e fevereiro, segundo dados do ONE.
Essas quedas ocorreram apesar da baixa base comparativa de 2022, quando o mercado chinês ainda estava com problemas.
"Os desenvolvedores continuam cautelosos, priorizando a conclusão de projetos existentes em vez de iniciar novos", disse o economista Larry Hu, do banco de investimentos Macquarie.
A recuperação beneficia especialmente grandes cidades como Pequim e Xangai, que retomaram o ímpeto de 2019, segundo Yao, enquanto o mercado imobiliário de cidades pequenas não mostra "nenhuma melhora".