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"Seria o próprio inferno", diz físico sobre um possível derretimento nuclear

Segundo Luiz Pinguelli Rosa, da Coppe-Ufrj, radiação liberada em Fukushima seria maior que a da explosão da bomba de Hiroshima

Pinguelli: "Em 86, com Chernobyl, o Brasil cometeu a imprudência de importar leite e carne". (Wikimedia Commons)

Pinguelli: "Em 86, com Chernobyl, o Brasil cometeu a imprudência de importar leite e carne". (Wikimedia Commons)

Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 17 de março de 2011 às 19h14.

São Paulo - A cada novo balanço, o saldo de vítimas fatais do terremoto e da tsunami que atingiram o Japão aumenta. Segundo números oficiais mais recentes, já são 5.430 mortos e mais de 9, 5 mil desaparecidos. Mas outra tragédia espreita o país, enquanto o governo japonês luta contra o relógio para evitar o pior: o derretimento dos reatores na usina de Fukushima, que apresenta três de seis reatores danificados.

Segundo a Agência Internacional de Energia Atômica, o reator 4 é o que mais preocupa, porque não se sabe ao certo o nível de água no seu interior. A situação é considerada grave porque há risco de vazamento do material radioativo resultante de uma fissão nuclear.  "Seria o próprio inferno", diz o físico nuclear e diretor da Coppe-Ufrj Luiz Pinguelli Rosa, sobre um possível derretimento do reator (local onde fica o combustível nuclear).

De acordo com o especialista, o perigo reside na liberação de elementos radioativos como o Césio 137 (o mesmo da tragédia que matou mais de 200 pessoas em Goiânia, em 1987), o iodo radiativo, que causa câncer, o estrôncio e isótopos de plutônio que podem levar até 30 mil anos para ter sua atividade reduzida pela metade. Pinguelli diz que, se as tentativas de resfriamento do reator falharem, a radiação liberada seria "centenas de vezes" maior que as da bomba de Hiroshima e semelhante ao acidente de Chernobyl, em 1986.

Ele elogiou o processo de evacuação da população na cidade, mas disse que mesmo quem está além do raio de 30 km das usinas (área evacuada) não está isento de sofrer os efeitos da radiação. As consequências na saúde vão desde a mutação genética, com o surgimento de casos de câncer e de má formação fetal, até efeitos mais superficiais como náuseas, cansaço e dor de cabeça.

"Brasil deveria suspender as importações do Japão"

Os riscos à saúde humana vão muito além da exposição direta à radiação, a contaminação também pode se dar através dos alimentos. Um possível derretimento de reator em Fukushima pode afetar a vida marinha e também plantações. A União Europeia já recomendou aos estados membros que controlem os produtos que tenham sido importados do Japão desde o dia 15 de Março, sob risco de estarem contaminados com energia radioativa.

Para Pinguelli, o Brasil deve fazer o mesmo e não repetir o ocorrido em 1986, após o acidente de Chernobyl, na Ucrânia. "Naquele período, o país cometeu a imprudência de manter as importações de leite e carne", diz. Segundo o professor, quando ingeridos, alimentos com níveis elevados de radiação podem causar câncer e outros tipos de anomalias.

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