Seis dias após os protestos, governo de Cuba mobiliza apoiadores
Atos massivos de "reafirmação revolucionária" foram criados para rejeitar ofensiva de manifestantes
AFP
Publicado em 17 de julho de 2021 às 14h31.
Como nos tempos de Fidel Castro, o governo de Cuba retomou, neste sábado (17), os atos massivos de "reafirmação revolucionária" para rejeitar uma ofensiva que sofre nas redes sociais e fechar a passagem para protestos como os de seis dias atrás.
"Abaixo os Yankees!", "Nascemos para vencer e não para sermos vencidos!", gritava a multidão, reunida no Malecon de Havana e apoiando o presidente "para qualquer coisa, Canel, para qualquer coisa".
Esses são os primeiros atos públicos em resposta aos históricos protestos que abalaram dezenas de cidades cubanas no domingo e segunda passados, deixando um morto, dezenas de feridos e mais de cem detidos, evidenciando grandes fissuras sociais.
Milhares de pessoas com máscaras, bandeiras nacionais e do 26 de julho (Movimento de Fidel Castro para a revolução), responderam à convocação em Havana e amanheceram junto ao presidente Miguel Díaz-Canel e o líder aposentado Raúl Castro, vestido com seu uniforme de general.
Desde abril, quando deixou a liderança do Partido Comunista, Raúl estava fora das questões públicas até esses protestos.
"Todos que sentiram pela Revolução, que sentiram por Fidel, que sentiram pelo o que foi feito neste país e o que temos que continuar fazendo, sabem o que significa a presença de Raúl ali", opinou Carlos Cruz, um aposentado de 65 anos.
A mobilização ocorre no pior momento da pandemia de covid-19 para Cuba. A ilha de 11,2 milhões de habitantes acumula 275.608 casos e 1.843 mortes. Só nas últimas 24 horas, registrou mais de 6.000 casos e 52 mortes.
"Com pandemia ou sem pandemia, temos que defender isso (a Revolução) e aqui estamos, nos protegendo e nos cuidando, porque também temos que defender o que é nosso", disse à AFP Héctor Román, um professor de 73 anos.
"Uma mentira"
Há "um ódio transbordando nas redes sociais", denunciou Díaz-Canel, e "o que o mundo está vendo sobre Cuba é uma mentira", afirmou.
As "imagens falsas" nas redes sociais "estimulam e glorificam o desacato e a destruição de imóveis", acrescentou
O acesso à Internet móvel foi cortado na ilha entre domingo passado ao meio-dia e quarta-feira pela manhã, antes de ser restabelecido, mas com instabilidade.
O governo cubano "não é um governo que reprime seu povo", afirmou o presidente, em resposta a imagens e relatos de repressão policial incomum na ilha.
"Nenhuma mentira foi criada por acaso ou por erro, tudo foi friamente calculado em um manual de guerra não convencional", acrescentou o presidente, que acusou os Estados Unidos de terem fomentado os protestos.
Essas imagens "causaram um dano imensurável à alma nacional".
A multidão foi convocada por meio dos centros de trabalho e das universidades e vários ônibus estavam estacionados ali perto, observou a AFP.
"Nós temos que, por direito próprio, defender nossa Revolução, nas palavras que (Díaz-Canel) disse, ele deixou claro para o mundo inteiro que isso (a Revolução) não pode ser derrubada por ninguém" , disse Madelaine Rigales, uma diretora de escola de 41 anos.