Se eleito, Romney quebraria promessa sobre moeda chinesa
Um tapa público em Pequim em seu primeiro dia na Casa Branca, em janeiro, poderia acarretar consequências graves para ambos os países e a economia global
Da Redação
Publicado em 5 de novembro de 2012 às 17h12.
Pequim - O candidato republicano à Presidência dos Estados Unidos, Mitt Romney , não teria o poder legal para rotular a China de manipuladora do câmbio em seu primeiro dia no cargo caso vença a eleição de terça-feira, o que seria uma boa saída para o que especialistas dizem ter sido a pior alegação sobre a questão em anos.
A autoridade para fazer uma acusação formal é do secretário do Tesouro dos EUA, o que seria uma solução que ex-autoridades dos EUA afirmam que Romney pode precisar depois de ter dito várias vezes que iria declarar a China uma manipuladora do câmbio como parte de sua campanha para sugerir que o presidente norte-americano, Barack Obama, tem sido suave demais com o país asiático.
Um tapa público em Pequim em seu primeiro dia na Casa Branca, em janeiro, poderia acarretar consequências graves para ambos os países e a economia global, pondo em risco o comércio bilateral entre as duas maiores nações comerciais do mundo -- avaliado em dados chineses em cerca de 540 bilhões de dólares em 2011.
Isso quase certamente obrigaria a nova liderança da China, também prevista para ser conhecida oficialmente este mês, a responder de alguma forma, aumentando o risco de uma guerra comercial com a segunda maior economia mundial -- uma briga que Romney provavelmente teria que lutar sem o apoio do FMI ou da OMC, e com as evidências econômicas mais recentes contra ele.
"Romney se colocou numa sinuca na questão da moeda", disse David Loevinger, diretor-gerente de mercados emergentes da TCW, empresa de fundos de Los Angeles, que ingressou em junho vindo do Tesouro, onde foi coordenador-sênior para assuntos da China e para o Diálogo Estratégico e Econômico EUA-China.
"Se você olhar a lei, não é o presidente que tem essa autoridade, é o secretário do Tesouro. E no primeiro dia, ele não vai ter um secretário do Tesouro confirmado pelo Senado", disse Loevinger à Reuters.
A Casa Branca de Romney colocaria o rótulo na China no momento em que os desequilíbrios comerciais estão encolhendo, o dólar está caindo e o iuane está subindo, ao mesmo tempo em que tentaria recompensar o capital político para os principais doadores corporativos, sendo que muitos deles têm interesses comerciais substanciais na China e provavelmente não gostariam de cutucar demais Pequim.
"Em toda a última década, este parece ser o momento mais estranho para comprar uma briga com a China como manipuladora do câmbio", disse Loevinger.
Mais do que isso, o iuane saltou 17 por cento em relação ao dólar em termos nominais durante os últimos cinco anos e o superávit comercial do país como proporção do PIB encolheu cerca de 75 por cento. As reservas cambiais têm permanecido praticamente estáveis há 18 meses, o que implica nenhuma intervenção importante do banco central na moeda.
Não é o tipo de evidência que provavelmente ganharia uma briga na Organização Mundial do Comércio (OMC), o órgão-chave global com poder de aplicar sanções em disputas comerciais internacionais, mas que especialistas dizem que nunca se pronunciou sobre um caso cambial.
"Você pode ir a um painel da OMC e tentar argumentar que a manipulação da moeda viola as obrigações da China no âmbito da OMC. Minha aposta é que os Estados Unidos perderiam o caso", afirmou Spencer Griffith, sócio-gerente do escritório em Pequim da firma de advocacia norte-americana Akin Gump Strauss Hauer & Feld, que pratica direito do comércio internacional há mais de 20 anos.
Riscos de uma disputa comercial - Isso sugere que uma Casa Branca de Romney iria, ao invés disso, tentar cobrar taxas da China dentro da lei interna de comércio, um processo que poderia demorar um ano no Departamento de Comércio e, provavelmente, levaria Pequim a apresentar uma queixa na OMC de que tais taxas são inválidas dentro das regras da OMC -- um caso que Griffith calcula que Pequim provavelmente ganharia.
A disputa poderia se arrastar por anos, colocando o comércio bilateral em risco, especialmente porque a nova liderança do Partido Comunista da China --prevista para ser apresentada em um congresso do partido que começa no final desta semana em uma transferência de poder que ocorre uma vez por década-- provavelmente vai querer mostrar que não é boba.
Empresas norte-americanas que operam na China já se queixam de concorrência desleal, discriminação e barreiras à entrada no mercado interno. Isso ficaria pior se Romney desse início a uma disputa comercial prolongada.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) provavelmente tem ainda menos interesse em alegações de manipulação de câmbio do que a OMC, dado que não tem obrigação de responder a essas reclamações. Além disso, a avaliação do FMI sobre o valor relativo do iuane mudou significativamente em um relatório de julho, no qual concluiu que a moeda estava "moderadamente desvalorizada". A posição anterior era de "substancialmente desvalorizada".
Mas o que seria ainda pior para Romney do que ficar isolado internacionalmente seria ficar em desacordo com seus financiadores empresariais e outros republicados importantes, incluindo o ex-presidente George W. Bush.
Bush, juntamente com os governadores republicanos Scott Walker, de Wisconsin, Rick Perry, do Texas, e Scott Rick, da Flórida, participaram em setembro da Semana de Investimentos EUA-China para promover os Estados Unidos como um lar natural para bilhões de dólares de investimento estrangeiro direto chinês para criar empregos norte-americanos.
Jay Riskind, diretor de projetos globais da empresa de private equity sediada em Pequim PiYi Investment, que ajudou a organizar o evento, diz que os esforços conjuntos nos Estados e municípios dos EUA para garantir investimento chinês fornecem o contraponto perfeito para a retórica de campanha.
Espaço de manobra pode ser o que Romney precisa. De fato, seu plano para emitir uma ordem presidencial em seu primeiro dia no cargo poderia criar esse espaço se ele meramente direcionar o Tesouro dos EUA a listar a China como manipuladora do câmbio em seu relatório semestral -- efetivamente atrasando uma ação até a data prevista de divulgação do relatório, em 15 abril.
Sua retórica de campanha afirma que o Tesouro vai utilizar a denominação se a China deixar de trazer a sua moeda para o valor justo. Alguns acadêmicos argumentam que o iuane já está próximo desse, com base em um nível constante de reservas cambiais, saídas de capital recentes e seu saldo em conta corrente em relação ao PIB.