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Saúde de líderes latinos vai do do sigilo à transparência

Saúde dos presidentes da América Latina é muitas vezes tratada como 'segredo de Estado', embora isto não costume ser comum na região


	Mulher toca a fotografia de Hugo Chávez: caso mais recente é o do venezuelano, que morreu em março após lutar durante 20 meses contra um câncer
 (REUTERS/Jorge Silva/Reuters)

Mulher toca a fotografia de Hugo Chávez: caso mais recente é o do venezuelano, que morreu em março após lutar durante 20 meses contra um câncer (REUTERS/Jorge Silva/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 7 de outubro de 2013 às 22h51.

Bogotá - A saúde dos presidentes é tratada em alguns países da América Latina como 'segredo de Estado', um aura de mistério que soma o problema médico a um político, embora isto não costume ser comum na região.

A comoção que gerou nesta segunda-feira o anúncio que a presidente argentina, Cristina Kirchner, terá que ser operada amanhã para a retirada de um coágulo no cérebro, diagnosticado no sábado, traz à memória os recentes episódios de outros líderes latino-americanos.

O caso mais recente é o do venezuelano Hugo Chávez, que morreu em março após lutar durante 20 meses contra um câncer, que teve a doença rodeada por um hermetismo absoluto e ainda hoje não se sabe que tipo de câncer tinha.

Chávez foi o único que deu alguma informação sobre sua própria doença de maneira pública, explicando com suas palavras dados sobre o tumor detectado em junho de 2011. Ele disse que era do tamanho de uma bola de beisebol e que estava encapsulado em uma zona da pélvis. O então presidente tachava de 'mórbidos' os que exigiam um prognóstico médico.

Na etapa final de sua doença, depois de já ter sido operado quatro vezes em Cuba, o governo venezuelano começou a divulgar informação, mas nunca em termos médicos.

O mistério que cercava Chávez em Cuba durante o tratamento é semelhante ao vivido por seus próprios governantes, o que pode ser exemplificado em 2006, quando o então presidente Fidel Castro delegou o poder por causa de uma grave doença declarada 'segredo de Estado'.

Nunca foram divulgados laudos médicos oficiais e era o próprio Castro quem dava pistas sobre sua evolução através de suas 'Reflexões', os artigos de imprensa que começou a escrever após cair doente e em um dos quais reconheceu que tinha estado 'entre a vida e a morte'.


Situação similar acontece na Nicarágua, onde o governo de Daniel Ortega cuida com receio de informação sobre qualquer tema.

Por exemplo, nunca se pronunciou sobre uma suposta doença de Ortega no sangue, que o impede de se expor ao sol por mais de uma hora, o que faz com que todas suas atividades sejam programadas para a noite, disse o sacerdote e poeta Ernesto Cardeal há alguns anos.

No entanto, estes casos de pouca clareza tendem a ser a exceção à regra em uma região onde nos últimos anos vários de seus governantes sofreram problemas sérios de saúde.

No Brasil, embora nenhuma legislação obrigue a informar sobre a saúde dos presidentes ou ex-chefes de Estado, a detecção de um câncer de laringe no ex-presidente Lula, meses depois de passar a faixa para Dilma, foi tratada com tanta transparência que era a junta médica que o tratava que fornecia informações sobre o estado de saúde do paciente.

A própria Dilma enfrentou um câncer linfático em 2009, quando era ministra-chefe da Casa Civil, e também divulgou desde a aparição da doença até as informações sobre o andamento do tratamento.

Na Colômbia também não houve mistérios. Em 1º de outubro de 2012, o presidente Juan Manuel Santos em companhia de seu médico comunicou que tinham detectado um 'pequeno tumor' maligno, não agressivo, na próstata.

Juan Manuel Santos enfrentou uma cirurgia e seu estado de saúde foi atualizado publicamente pelos médicos.

No Uruguai não se escondem os problemas de saúde do presidente José Mujica, de 78 anos, que suportou difíceis condições enquanto esteve preso, por mais de 13 anos durante a ditadura militar no país (1973-1985).


Assim, quando em 2012 suspendeu em cima da hora por recomendação médica sua participação na XXII Cúpula Ibero-Americana na Espanha, a presidência informou que 'as pesquisas vasculares mostraram a existência de uma tromboses prévia, mas sem elementos de trombose aguda'.

Por causa disto, os médicos recomendaram repouso. Este ano o presidente uruguaio cancelou algumas viagens 'por excesso de cansaço', tudo divulgado oficialmente.

No Paraguai, Fernando Lugo teve um câncer linfático em agosto de 2010, dois anos após assumir a Presidência.

A população recebeu informação sobre o andamento do tratamento pelo próprio presidente e de diferentes fontes oficiais e de seus médicos, incluindo suas frequentes viagens ao Brasil para receber tratamento, até que os médicos confirmaram em janeiro de 2012 a remissão completa da doença.

Na Costa Rica, as doenças dos presidentes nunca foram objeto de controvérsia, e sempre se informou tanto via dos porta-vozes oficiais como do corpo médico.

A atual presidente, Laura Chinchilla, foi operada da vesícula no início do mandato, o ex-presidente Óscar Arias teve gripe A durante sua administração (2006-2010) e o ex-presidente Abel Pacheco (2002-2006) foi internado em um hospital público com dores no peito em consequência de um quadro de estresse.

Em El Salvador, José Napoleão Duarte (1984-1989) teve um câncer no fígado nos últimos anos do mandato, o que sempre foi de domínio público.


Nos últimos tempos no Equador dois presidentes foram operados durante o mandato: Sixto Durán Ballén, em 1993 e 1994, nos EUA, por problemas na coluna vertebral, e Rafael Correa, em 2009 e 2010, por problemas no joelho. As intervenções foram realizadas em Cuba e no Equador. Em todos os casos a imprensa teve acesso às informações do estado de saúde dos governantes.

No Chile também costuma ser um tema de domínio público. Há mais de 60 anos um presidente em exercício não adoece, desde que Pedro Aguirre Cerda (1938-1941) e Juan Antonio Ríos (1942-1946) morreram durante seus governos, mas sem mistério.

A presidência mexicana, enquanto isso, costuma informar em comunicados muito breves sobre a saúde do presidente. Assim aconteceu em julho quando anunciou que Enrique Peña Nieto seria operado de um nódulo na tireóide.

No dia da operação, a presidência ofereceu junto com a equipe médica uma entrevista coletiva, e no dia seguinte o próprio Peña Nieto concedeu uma entrevista para falar sobre seu estado.

O governo da Bolívia divulgou os problemas de saúde do presidente Evo Morales. Tanto em em novembro de 2010 quando foi operado de uma tendinite em um joelho e em fevereiro de 2009 quando se submeteu a uma cirurgia para corrigir um desvio do septo nasal.

No caso peruano, a legislação defende o direito à intimidade pessoal, por isso o presidente e qualquer outro cidadão têm a liberdade de escolher se informam ou não sobre sua saúde. Em 1997 o então presidente Alberto Fujimori foi operado de uma lesão pré-cancerosa na língua, e o tema foi tratado com bastante hermetismo.

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