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Estadão Conteúdo
Publicado em 13 de dezembro de 2022 às 08h37.
Após uma onda de bombardeios russos em todo território ucraniano a inteligência de Kiev localizou nos escombros pedaços de mísseis construídos na própria Ucrânia na década de 70 que foram devolvidos à Rússia como parte de um acordo para assegurar a integridade territorial do país. A teoria é a de que Moscou esteja utilizando o armamento como isca para forçar Kiev a ativar seu sistema de defesa aéreo antes de um bombardeio real, segundo general ucraniano.
Os destroços de um míssil de cruzeiro subsônico soviético Kh-55 foram encontrados pelas autoridades de inteligência da Ucrânia em outubro. O armamento foi construído para transportar uma ogiva nuclear, mas a ogiva foi removida e um lastro foi adicionado para disfarçar o fato de que não carregava uma carga útil, disse o general Vadim Skibitski, vice-chefe de inteligência da Ucrânia - uma afirmação apoiada pelo Pentágono e pela inteligência militar britânica.
O míssil pertencia a um depósito de armas entregue à Rússia pela Ucrânia na década de 90 como parte de um acordo internacional destinado a garantir a soberania e a integridade territorial da Ucrânia.
No mês seguinte, as forças ucranianas encontraram os restos de mais dois mísseis Kh-55, ambos com as ogivas removidas e parte do mesmo conjunto de armas que a Ucrânia havia entregue à Rússia sob o acordo.
A Rússia estaria usando os armamentos da própria Ucrânia com um objetivo estratégico: enviar os mísseis forçaria a Ucrânia a mobilizar seu sistema de defesa aérea contra eles.
"Primeiro, o míssil Kh-55 é lançado; nós reagimos a isso", disse o general Skibitski ao New York Times. "É como um alvo falso". Depois que as defesas aéreas ucranianas estão engajadas, disse ele, os bombardeiros russos lançam os mísseis mais modernos, com ogivas destrutivas.
Os três mísseis fazem parte de um número maior de projéteis antigos que foram adaptados e estão sendo usados em ataques na Ucrânia, alguns como iscas e outros modernizados e armados com ogivas.
Como parte do acordo da década de 90, conhecido como Memorando de Budapeste, a Ucrânia concordou em abrir mão de seu arsenal atômico - o terceiro maior do mundo na época, herdado da União Soviética em colapso - e transferir todas as ogivas nucleares para a Rússia para desativação em troca de garantias de segurança.
"Todos os mísseis balísticos, bombardeiros estratégicos Tu-160 e Tu-95 também foram entregues", disse o general Skibitski. "Agora eles estão usando mísseis Kh-55 contra nós com esses bombardeiros. Seria melhor se os tivéssemos entregue aos EUA."
O general também ofereceu uma avaliação detalhada do atual poderio russo e das capacidades da Ucrânia de combater a ameaça. "De acordo com nossos cálculos, eles têm mísseis para mais três a cinco ondas de ataques", disse ele. "Isto é, se houver de 80 a 90 foguetes em uma onda."
No dia 5, Moscou disparou mais de 70 mísseis contra a Ucrânia depois que Kiev atingiu duas instalações militares no interior da Rússia.
Embora se acredite que os estoques russos de mísseis de precisão mais modernos estejam acabando, o general Skibitski disse que as fábricas de armas russas conseguiram construir 240 mísseis de cruzeiro de precisão Kh-101 e cerca de 120 dos mísseis de cruzeiro Kalibr baseados no mar desde o início da guerra, que chega a cerca de 40 novos mísseis por mês. Esses números não puderam ser confirmados de forma independente.
Apesar das sanções ocidentais, a Rússia continuou a produzir novos mísseis de precisão, até outubro, de acordo com um relatório divulgado na semana passada pela Conflict Armament Research, um grupo independente com sede no Reino Unido.
Yurii Ihnat, porta-voz da Força Aérea Ucraniana, disse que, após o último ataque, os investigadores encontraram muitos fragmentos que indicavam que os mísseis de cruzeiro de precisão usados no ataque foram fabricados nas últimas semanas. "A Rússia está usando mísseis recém-fabricados", disse ele a uma rádio ucraniana.
Enquanto os russos buscam reforçar seu arsenal, as autoridades ucranianas dizem que estão se aperfeiçoando em derrubar muitos tipos de mísseis e drones disparados contra eles.
Ao longo de novembro, o general Oleksi Hromov, vice-chefe do Estado-Maior ucraniano, disse que as defesas aéreas ucranianas derrubaram 72% dos 239 mísseis de cruzeiro russos e 80% dos 80 drones Shahed-136 fabricados no Irã. Eles afirmam ter derrubado 60 dos 70 mísseis ontem, ou 85%.
Mas os mísseis e drones que passam ainda podem causar danos generalizados, dependendo do que atingem. No sábado, a Ucrânia abateu 10 dos 15 drones de ataque, mas vários atingiram infraestruturas críticas em Odessa, deixando 1,5 milhão de pessoas sem energia, em um país que já teme a falta de aquecimento em um inverno que se aproxima (Hemisfério Norte).
Inclinando-se sobre a mesa e desenhando um mapa da Ucrânia, o general Skibitski delineou as quatro direções gerais a partir das quais Moscou está tentando entrar nos céus da Ucrânia - enviando mísseis do Mar Negro, no sul, da área ao redor do Mar Cáspio até o sudeste, da Rússia a leste e de Belarus ao norte.
Durante ataques em larga escala, que incluíram até cerca de 100 mísseis lançados com minutos de distância, eles voam de todas as direções ao mesmo tempo. Desde outubro, disse o general, os padrões de voo dos bombardeiros russos vêm mudando, tomando rotas tortuosas para evitar as defesas aéreas. Mas eles não entram no espaço aéreo ucraniano, limitando sua eficácia.
Em meio aos ataques russos às infraestruturas ucranianas, o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, pediu ontem aos países do G-7 que entreguem mais armas e forneçam gás a seu país, que teve sua infraestrutura duramente atingida pelos ataques russos.
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