De sexta-feira a terça-feira, quatro regiões sob controle total ou parcial de Moscou devem votar, em consultas para definir a anexação (ANATOLII STEPANOV/Getty Images)
AFP
Publicado em 22 de setembro de 2022 às 12h52.
Última atualização em 22 de setembro de 2022 às 13h03.
Os territórios da Ucrânia sob controle russo e o governo de Moscou insistiram nesta quinta-feira, 22, que os referendos de anexação, previstos para começar na sexta-feira, acontecerão, apesar da indignação internacional e das críticas.
A Rússia, com o ministro das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, defenderá no Conselho de Segurança da ONU o projeto de anexação e a invasão da Ucrânia, um dia após o anúncio da mobilização de 300 mil soldados adicionais e das ameaças de Vladimir Putin de utilizar armas nucleares.
De sexta-feira a terça-feira (23 a 27 de setembro), quatro regiões sob controle total ou parcial de Moscou devem votar, em consultas organizadas às pressas, para definir a anexação pela Rússia.
O Ocidente considera os referendos "simulações" e inclusive a China, aliada da Rússia, pediu o respeito à integridade territorial dos Estados.
Mas as autoridades pró-Rússia designadas para os territórios e Moscou reiteraram que os referendos estão confirmados.
"A votação começa amanhã [sexta-feira] e nada poderá impedir", afirmou na televisão russa o comandante da administração da ocupação da região de Kherson, Volodymyr Saldo.
A entidade eleitoral dos separatistas pró-Rússia de Donetsk informou que "por questões de segurança", a consulta será organizada quase porta a porta, diante das residências, durante quatro dias. Os centros de votação só devem abrir as portas no último dia, em 27 de setembro.
O ex-presidente russo Dmitri Medvedev e atual vice-diretor do Conselho de Segurança do país repetiu no Telegram que as regiões de Lugansk, Donetsk (leste), Kherson e Zaporizhzhia (sul) "integrarão a Rússia".
Também afirmou que o país está preparado para executar um ataque nuclear contra o Ocidente em caso de necessidade: os mísseis "hipersônicos russos são capazes de atingir alvos na Europa e Estados Unidos muito mais rápido que as armas ocidentais", advertiu.
Em um discurso à nação, Putin afirmou na terça-feira que está disposto a usar "todos os meios" do arsenal do país contra o Ocidente, que acusa de querer "destruir" a Rússia.
A doutrina militar do país prevê a possibilidade de recorrer a ataques nucleares caso os territórios considerados russos por Moscou sejam atacados, o que pode acontecer nas zonas anexadas.
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, afirmou que devido à ajuda militar ocidental à Ucrânia, a Rússia "de fato enfrenta o bloco da Otan".
Moscou ignora as críticas internacionais, começando pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que na tribuna da Assembleia Geral das Nações Unidas afirmou que a guerra de Putin "extingue o direito da Ucrânia de existir".
Em um discurso por vídeo, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, pediu ao mundo para "punir" a Rússia.
E nesta quinta, o secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu no Conselho de Segurança uma investigação do "catálogo de crueldades" cometidas nas zonas ocupadas pelas forças russas na Ucrânia.
"Os relatórios são um catálogo de crueldade: execuções sumárias, violência sexual, tortura e outros tratamentos desumanos e degradantes contando civis e prisioneiros de guerra", disse Guterres na abertura de uma reunião ministerial do Conselho de Segurança da ONU dedicada ao conflito.
Na frente de batalha, os bombardeios persistem, após a mobilização de reservistas anunciada por Putin devido aos reveses das forças russas em setembro na contraofensiva ucraniana nas regiões de Kharkiv (nordeste), no Donbass (leste) e em Kherson.
Nove mísseis atingiram a cidade de Zaporizhzhia, sob controle ucraniano, segundo as autoridades locais, e deixaram um morto.
Os separatistas de Donetsk acusaram Kiev de bombardear um mercado, onde morreram seis pessoas.
A Rússia confirmou a chegada ao país de 55 prisioneiros de guerra trocados com a Ucrânia, na maior operação do tipo desde o início da invasão.
Na quarta-feira, o presidente Zelensky celebrou a libertação de 215 ucranianos, incluindo os comandantes da defesa da siderúrgica Azovstal de Mariupol (sudeste), símbolo da resistência ucraniana e que Moscou classifica de "neonazistas".
O líder separatista da região de Donetsk, Denis Pushilin, confirmou a libertação do empresário e ex-deputado ucraniano Viktor Medvedchuk, próximo a Putin.
Na Rússia, o anúncio da mobilização de centenas de milhares de reservistas provocou várias manifestações em todo o país e pelo menos 1.332 pessoas foram detidas.
Parte da imprensa também destacou que muitas pessoas tentaram deixar o país.
O Kremlin minimizou as reações e afirmou que "as informações sobre a movimentação nos aeroportos são muito exageradas".
Na vizinha Armênia, no aeroporto de Yerevan, russos admitiram que fugiram da convocação. Dmitri, 45 anos e com uma pequena mochila, disse que deixou a mulher e os filhos no país.
"Não quero morrer nesta guerra sem sentido. É uma guerra fratricida", resumiu.
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