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Rússia interferiu nas eleições, diz Inteligência dos EUA

Lideranças de segurança testemunharam hoje perante a Comissão de Serviços Armados do Senado sobre as ameaças cibernéticas aos Estados Unidos

James Clapper: chefe de inteligência afirmou que a interferência russa foi uma iniciativa de "grande gravidade" (Jim Watson/AFP)
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AFP

Publicado em 5 de janeiro de 2017 às 20h35.

A cúpula da comunidade de Inteligência americana voltou a afirmar no Senado, nesta quinta-feira (5), que funcionários russos de alto escalão autorizaram o ciberataque como parte de uma "campanha multifacetada" para interferir na eleição presidencial de 2016, o que foi contestado pelo presidente eleito Donald Trump.

"Chegamos à conclusão de que apenas os mais altos líderes russos poderiam autorizar o recente roubo e divulgação de dados relacionados com as eleições", disseram três chefes da Inteligência em seu testemunho.

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O documento é assinado pelo diretor de Inteligência Nacional, James Clapper; pelo subsecretário de Defesa para Assuntos de Inteligência, Marcel Lettre; e pelo chefe do Comando de Segurança Cibernética, almirante Michael Rogers.

Os três testemunharam nesta quinta-feira perante a Comissão de Serviços Armados do Senado sobre as ameaças cibernéticas aos Estados Unidos.

Boa parte dos testemunhos se concentrou no ataque aos e-mails do Comitê Nacional do Partido Democrata e do diretor de campanha da candidata Hillary Clinton, John Podesta, durante a última eleição.

Ato de "grande gravidade"

Em seu depoimento, Clapper apontou que a Rússia "não alterou qualquer contagem de votos, ou algo assim". Disse também que "não há qualquer maneira de medir o impacto" da divulgação dos e-mails sobre "as decisões dos eleitores".

Ao ser questionado sobre se a interferência no período eleitoral poderia ser considerada um "ato de guerra", Clapper foi cauteloso, afirmando que é "uma decisão política pesada". Ainda assim, segundo ele, foi uma iniciativa de "grande gravidade".

De acordo com Clapper, tratou-se de uma "campanha multifacetada", na qual a ciberpirataria foi "apenas uma parte, uma vez que também incluiu propaganda clássica, desinformação e notícias falsas".

O testemunho por escrito dos três chefes da Inteligência também aponta que a China mantém seus ciberataques contra "o governo dos Estados Unidos, seus aliados e contra empresas americanas", embora sua frequência tenha diminuído.

As relações entre Washington e Pequim se tornaram extremamente tensas em 2014 na sequência de queixas de ataques cibernéticos chineses. Em setembro de 2015, os presidentes Barack Obama e Xi Jinping anunciaram um acordo de cooperação para combater esse tipo de ofensiva.

Clapper relatou que, desde então, os ataques chineses "se reduziram" e, por isso, os Estados Unidos decidiram não adotar represálias.

"Como sempre digo, pessoas que têm telhado de vidro devem pensar antes de jogar pedras. Isso foi um ato de espionagem. Como sabem, nós e outras nações conduzimos ações de espionagem semelhantes", disse Clapper.

Um 'fã' da comunidade de Inteligência

A discussão sobre o alcance da denunciada interferência de Moscou nas eleições à Casa Branca se tornou o centro de uma polêmica espetacular, já que o presidente eleito, Donald Trump, não parece disposto a aceitar a possibilidade de ter tido ajuda russa para vencer as eleições.

Trump deve se reunir nesta sexta-feira (6) com Clapper e com outros funcionários da Inteligência americana para conhecer detalhes das informações que esses organismos têm sobre a ingerência russa.

Nessa polêmica, Trump encontrou um aliado momentâneo e completamente inesperado em Julian Assange, fundador do WikiLeaks, que divulgou os e-mails pirateados e garantiu a uma emissora de televisão americana que a fonte dessa informação não foi a Rússia, nem qualquer outro Estado.

Nesta quinta, Trump voltou a atacar a "imprensa desonesta", afirmando que "mente para fazer crer que estou contra a Inteligência, quando, na realidade, sou um grande fã".

O presidente eleito aproveitou para se distanciar de Assange, negando que esteja "de acordo" com ele.

Como consequência da convicção dos serviços de Inteligência sobre a interferência russa nas eleições, o presidente Barack Obama expulsou, em 29 de dezembro, 35 "agentes de Inteligência" russos do território americano.

Além disso, Obama impôs sanções a agentes do governo russo, dos serviços de Inteligência e a supostos "hackers".

As evidências publicadas pelas agências continuam sendo frágeis, abrindo espaço para que Trump desafie o sistema de Inteligência americana. O republicano já deixou claro que quer melhorar as tensas relações com Moscou.

Na quarta-feira à noite, citando fontes ligadas a Trump, o Wall Street Journal anunciou que o futuro presidente trabalha em um plano para reestruturar o gabinete do Diretor de Inteligência Nacional (DNI). Ele alega que o órgão se tornou "politizado".

Hoje, o futuro porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, negou a informação publicada pelo jornal.

"Não há nada de verdadeiro nessa ideia de reestruturar a infraestrutura da comunidade de Inteligência. É 100% falso", frisou.

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