Pelo menos 22 jovens morreram na África do Sul nas últimas duas semanas durante os tradicionais rituais de circuncisão que marcam a passagem à vida adulta (Louise Gubb/Getty Images)
EFE
Publicado em 18 de dezembro de 2018 às 09h15.
Johanesburgo - Pelo menos 22 jovens morreram na África do Sul nas últimas duas semanas durante os tradicionais rituais de circuncisão que marcam a passagem à vida adulta, confirmaram nesta terça-feira à Agência Efe fontes oficiais, que disseram que a polícia e a Promotoria investigam os casos.
A província de Cabo Oriental (sudeste) é a mais afetada com 18 mortes, segundo indicaram à Efe fontes do Governo local, que reconheceram "preucupação" com esse número tão alto, embora as mortes por essa causa sejam frequentes.
"A causa das mortes é desidratação. A polícia está investigando", afirmou à Efe Mamkeli Ngam, porta-voz do Departamento de Assuntos Tradicionais dessa província.
A estas mortes seria preciso somar outras duas vítimas mortais na província Noroeste e mais duas em Cabo Ocidental (sudoeste), segundo apontaram veículos de imprensa locais como o portal "Eyewitness News".
Estes tipos de ritos de iniciação são uma prática tradicional de várias comunidades africanas que marca, para os homens, a passagem da infância à idade adulta.
Os ritos diferem de uma zona para outra, mas normalmente incluem a circuncisão dos adolescentes participantes, que depois devem sobreviver à intempérie com outros iniciados e com seus mentores sem o atendimento médico apropriado e quase sem comida e roupa.
Na África do Sul, os jovens chegam a passar um mês ao ar livre e a temporada de iniciações é bienal: há uma opção no inverno e outra no verão.
As cerimônias são praticadas nas chamadas "escolas de iniciação", muitas delas reconhecidas legalmente, pelas quais passam dezenas de milhares de jovens a cada ano.
Embora as autoridades sul-africanas peçam às famílias que os jovens não participem destas práticas enquanto ainda são menores de idade, trata-se de um assunto de grande "sensibilidade" social que fica, em última instância, em mãos dos líderes tradicionais e dos pais e parentes, segundo Ngam.
"Isso representa que, para os que quiserem participar, a idade é 18 anos, mas, infelizmente, há menores de 18 anos que participam. Nós desaconselhamos porque é muito difícil para eles resistir a uma série de desafios que vão encontrar", explicou o porta-voz provincial.
"As famílias têm que assumir um papel de liderança para assegurar que a passagem destes jovens à maturidade seja segura", acrescentou Ngam.
Dezenas de adolescentes morrem todos os anos na África do Sul nestes rituais e as autoridades culpam cirurgiões tradicionais negligentes e a existência de escolas de iniciação não homologadas.
Apesar dessas cerimônias serem consideradas por muita gente como essenciais da cultura africana, organizações de proteção da infância denunciam o tratamento "desumano" que os adolescentes têm que suportar para serem respeitados como adultos em suas comunidades.