Representante da Ucrânia pede "sinal forte" do Brasil contra Rússia
O encarregado de negócios da Ucrânia em Brasília disse que os representantes ucranianos ainda esperam uma "posição oficial" do governo brasileiro
Carolina Riveira
Publicado em 24 de fevereiro de 2022 às 11h49.
Última atualização em 24 de fevereiro de 2022 às 15h06.
O encarregado de negócios da Ucrânia no Brasil, Anatoliy Tkach, disse esperar que o governo brasileiro dê "sinais fortes de condenação" dos ataques russos a Kiev.
"Nós estamos em contato com as autoridades brasileiras e estamos esperando que o Brasil condene este ataque russo", disse Tkach em entrevista coletiva com jornalistas brasileiros nesta quinta-feira, 24.
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O encarregado afirmou que interlocutores brasileiros têm prestado "solidariedade" à Ucrânia em conversas pessoais, mas que os representantes ucranianos ainda esperam uma "posição oficial".
"Estamos esperando ainda a expressão oficial de solidariedade, assim como as mensagens em favor de cessar as agressões", disse.
Perguntado pela EXAME sobre se houve conversas com representantes brasileiros nas últimas horas, após o ataque, Tkach disse que os contatos têm sido frequentes e que também espera do Brasil qualquer "ajuda para a Ucrânia". "Tanto humanitária quanto financeira", disse, incluindo "com combustíveis e armas".
O representante repetiu que a Ucrânia espera um posicionamento oficial do Brasil e de outros países. "Primeiro o que nós precisamos é um sinal forte de condenação, chamar o agressor de agressor, que termine suas hostilidades", disse.
O adido militar ucraniano, Volodymyr Savchenko, também informou que os ataques russos começaram às 5 horas da manhã (horário russo) desta quinta-feira. Os representantes pediram que os ucranianos que se encontram fora do país permaneçam onde estão, e que as forças militares ucranianas têm nível "alto" de engajamento para resistir à invasão.
"Nossos defensores estão prontos para defender o estado ucraniano contra o agressor", completou Tkach.
Viagem de Bolsonaro à Rússia
Sobre a viagem do presidente Jair Bolsonaro à Rússia neste mês, quando participou de encontro com o presidente Vladimir Putin, Tkach disse que os diplomatas ucranianos acenaram ao Itamaraty com "a esperança" de uma futura viagem também à Ucrânia, para encontro com o presidente Volodymyr Zelensky, de modo a "equilibrar" a relação.
No entanto, neste momento, o encarregado reforçou que o espaço aéreo ucraniano está fechado, e uma viagem não é mais possível.
Tkach reiterou que o presidente brasileiro, quando esteve em Moscou, defendeu uma solução negociada, e, portanto, o representante ucraniano disse que não poderia comentar sobre a declaração de Bolsonaro de que o Brasil era "solidário à Rússia", feita durante a viagem.
O representante disse que não era possível dizer em que contexto a afirmação foi feita. "Durante a visita, o presidente Bolsonaro reiterou a posição do Brasil de que o Brasil está esperando uma resolução pacífica", reforçou.
Sanções do Brasil
Sobre eventuais sanções diretas do Brasil contra a Rússia, Tkach não especificou se foi feito um pedido específico acerca dessas medidas, e disse que cabe ao governo brasileiro analisar quais ações poderiam ser tomadas.
"Nós gostaríamos que fossem sanções, sim", respondeu, mas reforçou que no momento a expectativa inicial é por um posicionamento oficial do Itamaraty condenando as medidas russas.
Também disse não saber afirmar se a relação comercial entre Brasil e Rússia pode interferir em uma eventual resposta brasileira.
"O que nós esperamos de todos os países é a condenação do ataque e ajuda para a Ucrânia", disse.
O encarregado também disse esperar que países aliados apliquem novas sanções contra a Rússia, para além do pacote de restrições que países como EUA e europeus já têm anunciado.
A Rússia é o sexto país de quem o Brasil mais compra: foram US$ 5,7 bilhões em importações do Brasil em 2021. O grupo de adubos e fertilizantes químicos, que Bolsonaro disse terem sido um dos assuntos no encontro com Putin, responde por mais de 60% de tudo o que o Brasil importa da Rússia, segundo o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços.
Na outra ponta, foi US$ 1,6 bilhão exportado pelo Brasil para os russos, sobretudo em produtos agropecuários, liderados por soja e carnes. A Rússia é o 36º país em exportações brasileiras (lista que China e EUA lideram).