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Repórter faz 1º relato detalhado a tribunal sobre prisão em Mianmar

O repórter Wa Lone está sendo julgado por violar a Lei de Segredos Oficiais em um caso visto como um teste para a liberdade de imprensa em Mianmar

O repórter afirmou que foi incriminado pela polícia e caso seja condenado, pode enfrentar até 14 anos de prisão (Ann Wang/Reuters)

O repórter afirmou que foi incriminado pela polícia e caso seja condenado, pode enfrentar até 14 anos de prisão (Ann Wang/Reuters)

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Reuters

Publicado em 16 de julho de 2018 às 11h51.

Yangon - O repórter da Reuters Wa Lone, acusado de obter documentos confidenciais do Estado em Mianmar, disse a um tribunal nesta segunda-feira que um policial o telefonou no dia em que foi preso e insistiu para que eles se encontrassem, quando entregou a ele e a um colega alguns papéis.

No primeiro relato detalhado feito no tribunal por um dos dois jornalistas da Reuters sobre a noite em que foram presos, Wa Lone disse ao juiz que o policial Naing Lin o telefonou ao menos duas vezes em 12 de dezembro dizendo que eles precisavam se encontrar naquele dia, mesmo já tendo passado do horário de expediente.

"Depois de 17h, quando eu já estava prestes a deixar o escritório, Naing Lin me ligou e disse que eu precisava ir naquela noite. Ele disse que se eu não fosse agora, eu poderia não conseguir encontrá-lo porque ele estava prestes a ser transferido para outra região", disse Wa Lone.

Wa Lone, de 32 anos, e Kyaw Soe Oo, de 28 anos, estão sendo julgados por supostamente violarem a Lei de Segredos Oficiais, que data da era colonial do país, em um caso visto como um teste para a liberdade de imprensa em Mianmar.

Ambos se declararam inocentes, mas, se condenados, podem enfrentar até 14 anos de prisão.

As circunstâncias da prisão são a parte mais controversa do caso. Enquanto procuradores dizem que os dois repórteres foram detidos durante uma operação de rotina, a defesa argumenta que eles foram incriminados pela polícia.

Wa Lone disse que Kyaw Soe Oo o acompanhou à reunião com Naing Lin. Quando os dois encontraram Naing Lin e outro policial em um restaurante nas redondezas de Yangon, o oficial os entregou alguns papéis e os orientou a fotografá-los. Segundo Wa Lone, eles não tiraram as fotos, dizendo a Naing Lin que estava muito escuro.

"Os documentos não tinham nada a ver com a nossa conversa. Ele simplesmente os pegou de repente. Eu não pedi que ele fizesse isso", acrescentou.

Pouco depois, Naing Lin saiu do local abruptamente, e os dois repórteres foram presos ao deixar o restaurante, antes mesmo de olharem os documentos, disse Wa Lone ao tribunal.

Em seu depoimento há dois meses, Naing Lin confirmou ter encontrado os jornalistas, mas negou ter lhe entregado qualquer coisa. Ele insistiu que não telefonou para Wa Lone e que foi o repórter que iniciou o encontro. Ele também disse que estava sozinho.

Entretanto, o capitão de polícia Moe Yan Naing, testemunha da acusação, disse ao tribunal em abril que horas antes dos repórteres serem presos uma autoridade graduada da polícia havia ordenado que Naing Lin entregasse os documentos a Wa Lone em uma armação contra o repórter.

O julgamento ainda deve durar diversas semanas. A defesa irá chamar testemunhas, que prestarão depoimentos e serão interrogadas pela acusação. Então, ambos os lados farão seus argumentos finais e o juiz deve tomar uma decisão no próximo mês.

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