Reino Unido: Novo ministro diz que terá de subir impostos e cortar gastos
Discurso vai na contramão de seu antecessor, Kwasi Kwarteng, demitido após ter plano econômico rechaçado pelo mercado
Estadão Conteúdo
Publicado em 15 de outubro de 2022 às 11h11.
Última atualização em 15 de outubro de 2022 às 11h36.
O novo ministro das Finanças do Reino Unido , Jeremy Hunt, disse neste sábado à BBC que alguns impostos terão de subir e que serão necessários cortes nos gastos públicos para restaurar a confiança do mercado na economia britânica. Com isso, Hunt descarta o plano de corte de impostos da primeira-ministra, Liz Truss. Na manhã de sexta-feira, o ex-ministro das Finanças Kwasi Kwarteng foi demitido.
Conforme reportagem do The Wall Street Journal, Hunt afirmou hoje que Truss cometeu erros em seu plano de impulsionar o crescimento, ao tomar crédito para financiar os maiores cortes de impostos do país desde a década de 1970. Tais medidas assustaram os mercados e fizeram o Partido Conservador cair nas pesquisas.
"Alguns impostos não serão cortados tão rapidamente quanto as pessoas querem, e alguns vão subir. Então vai ser difícil", disse ele à BBC. "O que não funciona é financiar cortes de impostos aumentando empréstimos e dívidas. Eles têm de ser cortes que as pessoas vejam que você pode manter o financiamento ano após ano", continuou.
Hunt não descartou a reversão de outro elemento-chave do legado de seu antecessor, um corte planejado na alíquota mais baixa do imposto de renda. E prometeu medidas para limitar os gastos. "Os gastos não vão subir tanto quanto as pessoas querem, buscaremos mais formas de sermos eficientes e não teremos a velocidade de cortes de impostos que esperamos", afirmou. Ele disse que não definiu completamente quais impostos subirão e quais cortes serão feitos.
Hunt apresentará seu plano fiscal em 31 de outubro e pediu aos departamentos do governo que sugiram cortes até lá. O novo ministro das Finanças afirmou que recebeu carta branca de Truss, após ela ter demitido o ministro anterior, Kwasi Kwarteng.
A intervenção de Hunt teve o objetivo de acalmar os mercados, que reagiram de forma morna à tentativa de Truss, na sexta-feira de reverter parcialmente seu plano. Embora investidores tenham saudado amplamente a saída de Kwarteng e a decisão inicial de engavetar cerca de metade dos planos de corte de impostos do governo, ainda havia incerteza sobre como a metade restante dos cortes propostos seria financiada. O Instituto de Estudos Fiscais estima que o plano exigiria 60 bilhões de libras, ou cerca de US$ 67 bilhões, para financiar os cortes de gastos.
"Era errado voar às cegas", disse Hunt, referindo-se à decisão no início do governo Truss de não publicar uma análise independente do orçamento junto com os planos de impostos e gastos propostos. Ele acrescentou que as coisas "estavam em processo de serem corrigidas". Hunt afirmou também que pode trazer estabilidade às finanças públicas e mostrar que o Reino Unido tem condições de equilibrar suas contas.
Desde que o plano de corte de impostos foi anunciado, há pouco mais de três semanas, a libra caiu para um nível recorde em relação ao dólar, o Banco da Inglaterra interveio comprando títulos do governo para evitar que a liquidação do mercado se transformasse em crise financeira, e o Partido Conservador despencou para recordes de baixa em pesquisas de opinião. Na sexta-feira, o FMI disse que esperaria até que Hunt delineasse seu plano de médio prazo antes de julgar se o governo corrigiu seus erros.