Regime de Mubarak fala de ameaça de golpe e critica os EUA
Protestos se intensificam no Egito e governo ameaça usar o exército; manifestantes também pedem a saída do vice-presidente
Da Redação
Publicado em 10 de fevereiro de 2011 às 10h57.
Cairo - O regime do presidente egípcio Hosni Mubarak, encurralado por protestos que nesta quinta-feira não deram mostras de perder a força, aventou a ameaça de um golpe de Estado e denunciou a ingerência dos Estados Unidos, seu principal aliado que também reclama uma aceleração das reformas no país árabe.
Milhares de manifestantes, em aberto desafio ao toque de recolher, voltaram a passar a noite na praça Tahrir do Cairo, convertida em reduto da rebelião desde 25 de janeiro.
Durante a madrugada, os manifestantes gritaram "o povo quer a queda do regime", frase que resume os protestos contra Mubarak, que está no poder há quase 30 anos.
Os manifestantes também gritaram frases contra Alaa, filho mais velho do presidente.
Muitos exibiam fotos dos "mártires", as vítimas da violência que já matou 300 pessoas, segundo a ONU e a ONG Human Rights Watch, desde o início do movimento.
Novas barracas foram instaladas na praça situada no centro do Cairo, que virou o símbolo da revolta iniciada em 25 de janeiro e é ocupada desde o dia 28 do mês passado.
Os tanques do Exército permanecem posicionados nas proximidades do Museu Egípcio, perto da praça.
Na quarta-feira, centenas de pessoas cercaram o Parlamento e a sede do governo, que ficam frente a frente, e passaram a noite na calçada que leva ao Parlamento.
Nesta quinta-feira, as duas entradas da avenida que leva ao Parlamento estavam bloqueadas.
"Não a (Omar) Suleiman (o vice-presidente)!" "Não aos agentes americanos!". "Não aos espiões israelenses!", "Abaixo Mubarak!", gritavam os manifestantes.
"Se não morrermos aqui, morreremos na prisão. Prefiro morrer aqui", afirmou à AFP Attiya Abu El Ela, um desempregado de 24 anos.
Na terça-feira, adotando um tom mais duro, o ministro das Relações Exteriores, Ahmed Abul Gheit, advertiu que o Exército atuaria no caso de caos para retomar o controle da situação.
O presidente Barack Obama, por sua vez, pediu que o Exército egípcio continue "demonstrando a mesma moderação dos últimos dias", informou a Casa Branca.
O porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, criticou, além disso, a timidez as reformas feitas pelo governo egípcio para aplacar o clamor popular.
"Está claro que o que o governo promoveu até o momento não alcançou o limite mínino para o povo egípcio", afirmou.
Gheit replicou acusando os Estados Unidos de ingerência.
"Quando vocês falam de mudanças rápidas e imediatas em um grande país como o Egito, com quem sempre mantiveram as melhores relações, vocês impõem a ele sua vontade", denunciou.
Entre as medidas tomadas para tentar apaziguar a situação, na quarta-feira a comissão encarregada pelo presidente Mubarak de sugerir emendas à Constituição no Egito propôs a mudança de seis artigos polêmico.
Como pede a oposição, as modificações seriam feitas no artigo 76, que exige condições muito restritas às candidaturas políticas; no 77, que não fixa limite ao número de mandatos presidenciais e no artigo 88, que define as modalidades de supervisão das eleições.
No domingo, o vice-presidente Omar Suleiman iniciou um diálogo com as forças de oposição, entre elas a poderosa Irmandade Muçulmana e personalidades políticas independentes para debater as reformas.
A Irmandade Muçulmana, principal força de oposição no Egito, por sua vez, assegurou que não busca o poder, apesar de seus inúmeros pedidos para que Mubarak renuncie de imediato.
"Não queremos participar no momento. Não queremos apresentar um candidato à presidência" (nas eleições previstas para setembro), afirmou Mohamed Mursi, um alto dirigente do movimento, em coletiva no Cairo.
"Não é uma pessoa, um partido ou um grupo que encabeçam as manifestações. Ninguém pode fingir que dirige a multidão", acrescentou o dirigente da poderosa confraria, oficialmente proibida pelas autoridades egípcias há meio século.
"Estamos com a vontade do povo, com a maioria do povo egípcio. Nós não somos a maioria", insistiu.