Imigrantes detidos na fronteira da Alemanha com a Polônia: vacinação desses grupos é dificultada pelas regras de cidadania (Maja Hitij/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 30 de novembro de 2021 às 15h38.
Última atualização em 30 de novembro de 2021 às 20h02.
Não bastasse o desafio que uma série de países europeus têm tido para convencer seus cidadãos a se vacinar contra a covid-19, a chegada da variante ômicron traz ainda outro duro lembrete aos governos: a necessidade de não deixar para trás minorias como refugiados e imigrantes, inclusive os não legalizados no país.
Na Europa, são mais de 4 milhões de imigrantes sem documentos ou autorização de viver nos países. Parte desse grupo, até o momento, vem sendo excluída do processo de vacinação.
Um levantamento da organização jornalística Bureau of Investigative Journalism mostrou que há barreiras administrativas em pelo menos dez países europeus que estão impedindo a vacinação em massa de imigrantes.
Em vários países, imigrantes sem documentos não estão entre os elegíveis para vacinação por não estarem cadastrados nos sistemas de saúde do país ou não terem carteiras de identidade nacionais (algo como o Registro Geral, ou RG, no Brasil).
É o caso, em maior ou menor grau, de regiões da Espanha, Bélgica, Alemanha, Itália, entre outros. Só na Alemanha, por exemplo, são quase 2 milhões de refugiados, e com a vacinação exigindo registros que parte deles não possui, o país — que tem uma das piores situações de covid-19 no momento — pode estar deixando de vacinar fatia significativa de sua população.
Há também regras em que, embora um registro de cidadania não seja obrigatório, os imigrantes não estão adequadamente informados sobre isso, como acontece no Reino Unido, onde poucos estrangeiros têm acessado a vacinação no NHS, sistema de saúde do país.
Em alguns casos, além disso, quem vive na Europa ilegalmente teme ser deportado caso vá a um posto de vacinação.
Não é um problema só dos europeus: nos EUA, que sofre desde o começo do ano para melhorar suas taxas de vacinação, parte dos não vacinados é composta de imigrantes não regularizados. As vacinas são gratuitas e disponíveis a todos, até mesmo para turistas e não residentes, e as autoridades têm tentando propagandear essa informação.
Mas há o temor entre o grupo de imigrantes de que, se procurarem os postos de vacinação e serviços de saúde no geral, podem ser descobertos pelo governo e deportados.
Parte do eleitorado conservador nos EUA e alguns políticos também têm acusado imigrantes de serem responsáveis por novas ondas de covid-19 no país, por terem, segundo essas críticas, trazido o vírus do exterior.
Mas as autoridades de saúde vêm afirmando que esse raciocínio não tem embasamento na realidade, uma vez que a disseminação da doença é intensificada pelos próprios americanos, diante do grande contingente no país que ainda não se vacinou por opção.
"O problema está dentro do nosso país", disse o chefe da força-tarefa de covid-19 no governo americano, o infectologista Anthony Fauci. "Com certeza, os imigrantes podem se infectar, mas eles não são a força motriz disso [das novas ondas]. Vamos encarar a realidade aqui."
Nos EUA, entre a população total, de todas as idades, só 59% têm a vacinação completa. No Brasil, que começou a vacinar amplamente meses depois dos americanos, por falta de vacinas, a fatia de imunizados já passa de 62% nesta terça-feira.
Na Europa, a fatia da população totalmente vacinada é de 58% e na Alemanha, de 68%. Governos em todo o continente estudam ou já implementaram restrições aos não-vacinados para convencer uma maior parcela dos habitantes a se imunizar. Mas os países também terão cada vez mais e garantir que todos os moradores, incluindo os não registrados, participem do processo.
Uma fatia grande de imigrantes não vacinados pode atrapalhar sobremaneira os esforços de contenção da pandemia nestes países.