Referendo na Turquia não seguiu padrões internacionais, diz OSCE
Constatação é da entidade que monitora a democracia entre seus 27 membros (Turquia, inclusive). Análise preliminar denuncia falhas no processo de votação
Gabriela Ruic
Publicado em 17 de abril de 2017 às 12h16.
Última atualização em 17 de abril de 2017 às 15h35.
São Paulo – A votação do referendo constitucional que aconteceu na Turquia neste domingo (16) não fez jus aos padrões internacionais. É o que constataram os analistas da OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa), organização que tem como objetivo monitorar aspectos da segurança e democracia em seus 57 membros (Turquia, entre eles).
De acordo com um relatório preliminar sobre o tema, o dia 16 foi de tranquilidade, sem grandes problemas na maioria das regiões. Em linhas gerais, os aspectos técnicos em torno dessa votação foram considerados “bem administrados”. Contudo, quando se analisa o contexto jurídico do referendo, a entidade o considerou “insuficiente para a realização de um processo genuinamente democrático”.
Análise
Desde meados do ano passado, a Turquia vive turbulências políticas em razão da tentativa de tomada de controle por alguns grupos dentro das forças armadas ( relembre o caso ) que acabou resultando em um estado de emergência em vigor até hoje. Como consequência, diz a OSCE, a restrição de liberdades fundamentais que surgiu com essa medida impactou negativamente o processo em torno da votação.
Segundo a análise, os dois lados da campanha do referendo não tiveram as mesmas oportunidades de apresentar seus argumentos aos eleitores, algo fundamental para a condução de uma reforma constitucional como essa, que trouxe ao crivo popular medidas que visam mudar brutalmente as estruturas políticas do país.
De um lado, o presidente Erdogan e seus apoiadores do partido AKP encabeçavam a campanha do “sim”, a favor da aprovação do pacote. Do outro, o “não”, estavam os opositores do governo, especialmente liderados o Partido Republicano do Povo (CHP) e o Partido Democrático dos Povos (HDP).
“Nosso monitoramento mostrou que a campanha pelo ‘sim’ dominou os noticiários”, disse a entidade. “E isso, aliado ao fato de que a imprensa enfrenta restrições, com prisões de jornalistas e o fechamento de veículos, fez com que os eleitores não tivessem acesso à pluralidade de visões”, constatou.
Outro ponto crítico em torno do processo da votação do referendo, notou a OSCE, foi o impedimento por parte dos órgãos regulatórios turcos de que organizações da sociedade civil pudessem realizar eventos de campanhas. A entidade denunciou, também, a limitação de acesso dos monitores a certos locais de votações.
No que diz respeito à votação, a OSCE criticou a forma como ela aconteceu. “As 18 emendas que afetam 72 artigos da constituição da Turquia foram votadas em um pacote, o que contraria as boas práticas internacionais sobre referendos”, lembrou a OSCE relatando que os eleitores não puderam votar em cada uma das mudanças separadamente e foram apenas perguntados a respeito do “sim” e do “não”.
Resultado
Mais de 58 milhões de pessoas se registraram para votar a aprovação desta que promete ser a maior mudança estrutural da Turquia desde a sua fundação em 1923. A vitória, no entanto, foi apertada, como previram analistas: o “sim” terminou com 51,3% dos votos e o “não” com “48,7%”.
Embora Erdogan tenha anunciado a sua vitória, seus opositores agora pedem a anulação do referendo.