Putin: é a primeira vez que o presidente russo fala sobre o motim do Grupo Wagner (Andrey Rudakov/Bloomberg/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 26 de junho de 2023 às 18h03.
Os organizadores da rebelião que ocorreu na Rússia no fim de semana enfrentarão a justiça, afirmou o presidente russo, Vladimir Putin, em declaração em vídeo veiculada na imprensa nesta segunda-feira, 26, sobre o motim do Grupo Wagner. "Isso é uma atividade criminosa, o que acaba enfraquecendo o país", comentou.
O líder russo acrescentou que essa foi uma ameaça externa "colossal" e "real".
Putin disse que os organizadores "traíram aqueles que foram arrastados para dentro do grupo".
"Esse tipo de suicídio é precisamente o que os neonazistas de Kiev e do Oeste queriam. Eles queriam que os soldados russos se matassem, que militares e civis fossem assassinados. Eles queriam nossa sociedade fragmentada", discursou o presidente da Rússia.
Como a rebelião do grupo Wagner contra Putin se desenrolou ao longo de 36 horas na Rússia
Putin, cuja última aparição pública havia sido no sábado, durante seu pronunciamento televisionado à nação, não fez qualquer menção à rebelião de Yevgeny Prigojin.
O levante militar, havia afirmado o presidente no fim de semana, foi uma "punhalada pelas costas" do ex-amigo Prigojin, a quem acusou de "trair" o país por suas "ambições pessoais".
Os dois foram por anos próximos, e o hoje líder paramilitar — cujos combatentes usam armas cedidas pelos próprios militares russos — passou boa parte dos anos 2000 à frente dos jantares oferecidos pelo Kremlin com seu serviço de catering.
"É uma punhalada pelas costas para nosso país e nosso povo", disse Putin no sábado, em seu discurso de cinco minutos. "Estamos enfrentando exatamente uma traição. Uma traição causada pela ambição desmedida e pelos interesses pessoais de Prigojin".
Ainda não se havia ouvido nada do presidente russo, entretanto, desde que a imprensa bielorrussa anunciou ainda na noite de sábado que o presidente do país, Alexander Lukashenko, havia negociado um acordo para que Prigojin interrompesse o avanço das tropas até Moscou.
O chefe do Wagner disse em uma mensagem de áudio que suas forças chegaram a 200 km da capital após tomar instalações militares no sul e “estavam retornando” para seus campos de treinamento.
Pelo pacto, Prigojin supostamente concordou em se mudar para Minsk ao cancelar o avanço de seus mercenários, que receberam garantias de que não seriam processados. Os combatentes do Wagner que não se juntaram ao motim, afirmaram os russos, seriam incorporados ao Ministério da Defesa.
Um dos principais algozes de Prigojin não era Putin, mas o ministro da Defesa — o mercenário há meses faz críticas contundentes ao responsável pela pasta e demandava a cabeça de Shoigu. O ministro apareceu publicamente pela primeira vez nesta segunda, em um vídeo cuja data de gravação também é pouco clara.
Segundo os russos, Shoigu reuniu com soldados em um posto de comando envolvido com a invasão na Ucrânia. No Telegram, o Ministério da Defesa disse que seu titular foi brifado por Yevgeny Nikiforov, líder das forças russas na Ucrânia, sobre a situação na linha de frente.
Nos vídeos compartilhados, o ministro aparece observando algo que o mostram de uma janela de avião e em uma reunião com outros militares, em uma mesa cheia de documentos e mapas. As gravações não têm som, contudo, e ele não aparece em momento algum com soldados — mais do que aliviarem as dúvidas, as imagens despertam ainda mais questões.
A ideia inicial parecia ser projetar alguma sensação de normalidade após a turbulência dos últimos dias: a Prefeitura de Moscou, por exemplo, também acabou nesta segunda com as restrições que estavam em vigor e confirmou que cerimônias de formatura escolar acontecerão no fim de semana. Ainda assim, nenhuma figura da alta cúpula russa deu as caras presencialmente.
Enquanto isso, permanecem uma série de dúvidas sobre as motivações de Prigojin, o que acontecerá daqui para frente e as consequências a longo prazo da guerra. Acredita-se, contudo, que a rebelião tenha sido adiantada porque Prigojin se sentia pressionado pelas tentativas do Estado de retomar o controle da violência.
Neste mês, por exemplo, a Duma, a Câmara Baixa do Parlamento russo, aprovou uma lei destinada a devolver ao Estado o monopólio da violência, com a obrigação de que todos combatentes, mobilizados, voluntários ou presidiários se submeterem à hierarquia do Ministério da Defesa. O exército do dirigente checheno Ramzan Kadirov se submeteu completamente à medida, mas o Wagner não.
A Duma também aprovou uma norma para contratar para lutar na linha de frente delinquentes que estejam cumprindo suas penas. Essas duas medidas significam, na prática, que o grupo Wagner não poderia mais formar um exército privado de mercenários, se aproveitando do terreno não regulamentado que Putin mantém para facilitar a ação de sujeitos — aliados ou úteis para ele — que não poderiam atuar dentro da Lei da Federação Russa.