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Da Redação
Publicado em 13 de junho de 2014 às 22h40.
A cidade de Aleppo está praticamente livre dos combatentes do Estado Islâmico no Iraque e no Levante (EIIL) após a retirada de integrantes do grupo jihadista de sua última base na segunda maior cidade da Síria, indicou nesta quarta-feira uma ONG.
"O EIIL se retirou do bairro de Inzarate depois dos combates contra membros de brigadas (..) rebeldes, e o prédio do serviço postal foi retomado pelos combatentes rebeldes islâmicos," que lutam contra o EIIL, indica o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
Mais cedo, os combatentes do EIIL já tinham sofrido uma dura derrota, ao serem expulsos de um antigo hospital infantil, que vinha sendo usado como quartel-general do grupo radical na capital econômica da Síria.
Os jihadistas foram derrotados por combatentes de diferentes brigadas islâmicas que lutam contra o movimento sunita que também atua contra o governo iraquiano, comandado por xiitas.
"De acordo com as informações preliminares, foram libertados dezenas de detidos que estavam no interior do hospital, transformado em uma das prisões mais importantes do EIIL", informou a ONG com sede no Reino Unido.
Depois da tomada do quartel-general do EIIL, um vídeo foi divulgado com imagens de nove corpos de vítimas de execuções cometidas pelo movimento radical.
Exibido pelos ativistas do grupo Shahba Press, o vídeo mostra os corpos de homens apenas com as roupas de baixo, com os olhos vendados e as mãos atadas, deitados em poças de sangue, e com ferimentos na cabeça causados por tiros.
Um dos militantes do Shahba, procurado pela AFP, afirmou que dezenas de prisioneiros foram libertados na retomada do antigo hospital infantil, "mas dezenas de outros foram executados na segunda e na terça-feira pelo EIIL no momento do ataque ao seu quartel-general em Aleppo".
"Esses atos confirmam o que nós já tínhamos dito: o EIIL comete crimes de guerra, crimes contra a Humanidade e age em contradição com o que dizia quando afirmava que tinha vindo para ajudar o povo sírio", afirmou o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahman.
"O povo sírio queria se livrar de uma ditadura pela democracia, e não com uma nova ditadura que veste roupas islâmicas", ressaltou à AFP.
"Nós condenamos também as execuções de membros do EIIL. O OSDH vai continuar a registrar todos os crimes de guerra e os crimes contra a Humanidade praticados contra quem quer que seja, porque os direitos humanos são unos e indivisíveis", concluiu Rahman.
Combates entre rebeldes e jihadistas beneficiam governo
Aleppo, uma das principais frentes de batalha na guerra síria há quase três anos, está dividida desde o verão de 2012 entre setores rebeldes e zonas controladas pelo regime.
Na terça-feira, o porta-voz do EIIL, Abu Mohamed al-Adnani, pediu que os combatentes do grupo na Síria "aniquilem totalmente [os demais rebeldes] e acabem com a conspiração em seu nascimento".
Na mensagem de áudio aos rebeldes, Adnani afirmou: "Nenhum de vocês sobreviverá e faremos de vocês um exemplo para todos os que pensam em seguir o mesmo caminho".
Na mesma mensagem, o EIIL ameaçou de morte os integrantes da Coalizão Nacional Opositora síria e do Exército Sírio Livre (ESL), considerados "alvos legítimos" dos jihadistas.
O EIIL "considera que o Conselho Nacional [principal integrante da coalizão síria], o Estado-Maior e o Conselho Militar [...] declararam guerra" ao grupo, e "cada membro dessas entidades é um alvo legítimo, a menos que se declare publicamente contra [...] o combate aos mujahedines", declarou.
Adnani adotou um tom menos agressivo em relação à Frente Al-Nosra, braço oficial da Al-Qaeda na Síria.
A Frente adotou, segundo o OSDH, uma posição de neutralidade nesta batalha, à exceção da cidade de Raqa, onde seus milicianos combatem o EIIL.
Na terça-feira, o líder da Frente Al-Nosra, Abu Mohammad al-Kholani, pediu um cessar-fogo entre as rebeldes sírios e os jihadistas do EIIL, e exortou todas as partes a se concentrarem no combate ao regime de Bashar al-Assad.
Desde sexta-feira passada são travados combates entre três coalizões de rebeldes e o EIIL, um grupo originário do Iraque e que até bem pouco tempo era aliado dos rebeldes contra o regime.
No total, cerca de 300 pessoas morreram vítimas dos recentes episódios de violência em Aleppo, incluindo por volta de 50 civis.
O governo está sendo beneficiado com esta situação, segundo fontes governamentais.
"Conscientes do fracasso, eles lutam entre si e esta batalha é um dos aspectos do conflito que opõe as diferentes potências que apoiam esses grupos, como Turquia, Catar e Arábia Saudita", indicou uma fonte dos serviços de segurança sírios à AFP.
Enquanto isso, os dois jornalistas suecos que estavam desaparecidos na Síria desde novembro foram libertados, segundo relatou à AFP o embaixador da Suécia na Síria, Niklas Kebbon, nesta quarta-feira.
No campo diplomático, os ministros das Relações Exteriores do Grupo de onze países Amigos da Síria se reunirão no domingo em Paris com a Coalizão Síria (oposição), anunciou uma fonte oficial.
Esta reunião será realizada dez dias antes da conferência de paz prevista para o dia 22 de janeiro na Suíça.
A reunião de Paris, que será realizada no Ministério francês das Relações Exteriores, terá a participação de quase todos os ministros dos onze países (Estados Unidos, Grã-Bretanha, França, Alemanha, Itália, Turquia, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Catar, Egito e Jordânia", informaram fontes diplomáticas.