Homens armados curdos se juntam a uma manifestação na cidade de Qamishli, no nordeste, em 2 de dezembro de 2024, contra os ataques de combatentes apoiados por Turksih em áreas sob controle curdo no norte da Síria. Após a tomada de Tal Rifaat, uma força liderada por curdos e apoiada pelos EUA na Síria disse que está tentando evacuar os curdos ao redor de Aleppo para áreas seguras sob seu controle (Delil SOULEIMAN/AFP)
Agência de Notícias
Publicado em 2 de dezembro de 2024 às 10h30.
Última atualização em 2 de dezembro de 2024 às 10h38.
Com a grande ofensiva iniciada pelos insurgentes islâmicos apoiados pela Turquia, a guerra civil na Síria voltou a chamar atenção da comunidade internacional, após permanecer estancada por anos e onde cada uma das partes tem uma potência militar como garantidora.
Este conflito de mais de 13 anos começou com revoltas populares e conduziu a uma situação muito complexa, na qual muitos atores tentam se encaixar como peças do quebra-cabeça em que a Síria se tornou.
A operação iniciada na última quarta-feira, denominada “Dissuasão da Agressão”, é a mais violenta desde 2020, e tem sido levada a cabo por uma coalizão chamada Comando de Operações Militares, liderada pela Organização para a Libertação do Levante, que tem um objetivo comum: derrotar o governo de Bashar al Assad e recuperar as áreas perdidas durante as batalhas da última década.
Netanyahu garante que Israel “monitora constantemente” a situação na SíriaA Organização para a Libertação do Levante é um grupo islâmico cujo garantidor é a Turquia e o seu principal reduto fica na província de Idlib, no noroeste da Síria.
O grupo não era chamado assim antes. Em 2011, quando começaram as revoltas populares contra Assad no âmbito da chamada “Primavera Árabe”, era conhecido como Frente Al Nusra, o braço da Al Qaeda na Síria.
Seu fervor ideológico islâmico naquela altura não repercutiu em muitos dos jovens que se levantaram contra o sistema de Assad. O governo sírio acabou prendendo, matando e expulsando os membros do movimento rebelde original.
Apenas em 2016 é que o líder do grupo, Abu Muhammad al Julani – que chefiava a Al Nusra – decidiu dissociar-se completamente da Al Qaeda e adotar o nome de Hayat Tahrir al Sham (Organismo para a Libertação do Levante, em português). No entanto, o governo sírio continua a chamar-lhe de Al Nusra.
Ao aproximar-se da Turquia, Al Julani buscou legitimidade internacional e um afastamento do extremismo ideológico religioso da Al Qaeda, que também criou atritos entre as inúmeras facções que operam em Idlib.
Nesta nova coligação, juntamente com Al Julani, operam outros movimentos armados como o Sultan Murad e o Yeish al Izza, apoiados por Ancara.
No entanto, o ministro das Relações Exteriores turco, Hakan Fidan, garantiu que seu país não está envolvido na ofensiva e que não lançará “qualquer ação que possa desencadear uma nova onda migratória”.
Do outro lado da moeda está o governo sírio, que se surpreendeu com a rapidez desta ofensiva. Com um Exército fraco, Assad não teve outra escolha para sobreviver em 2015 senão solicitar a intervenção da Rússia no conflito.
O preço a pagar foi abrir a porta à Rússia no Mar Mediterrâneo, onde tem as suas bases militares. Sua intervenção causou milhares de mortes, incluindo de civis.
Agora, é o ator que mais apoia Damasco com o lançamento de ataques aéreos e de defesa no terreno.
Assad tem outros grandes apoiadores: o Irã e seu principal aliado, o grupo xiita libanês Hezbollah. Isto, de fato, foi responsável por liquidar a oposição no terreno na batalha de Aleppo em 2015, embora agora as suas capacidades estejam bastante reduzidas após a guerra com Israel no Líbano.
Ao contrário da década anterior, Assad conta agora com o apoio da comunidade dos países árabes após ser readmitido na Liga Árabe em 2023, mas o grupo dificilmente entraria na batalha direta contra os insurgentes.
Outra peça deste quebra-cabeça é a dos curdos-sírios, que dirigem uma administração no norte e no nordeste da Síria – separada do governo sírio – e que são respaldados pelos Estados Unidos.
As Forças da Síria Democrática (FSD) – uma plataforma liderada pelos curdos, mas que também reúne grupos árabes – tornaram-se um ator importante nessa disputa porque têm como inimigos os turcos e os movimentos insurgentes que apoiam.
Durante a última ofensiva da Turquia no nordeste da Síria contra os curdos, em 2019, estes últimos pediram ajuda no terreno ao Exército sírio – com quem também estão em desacordo – e à Rússia para parar o conflito, o que levou a um acordo de cessar-fogo turco-russo.
Os Estados Unidos também se dissociaram desta nova batalha e disseram que “não tem nada a ver com esta ofensiva, liderada pela Organismo para a Libertação do Levante, uma organização designada terrorista”.