Pedro Sánchez: socialista de 51 anos recebeu o apelido de "Frankenstein" por já ter sido considerado como "politicamente morto" (AFP/AFP)
Redação Exame
Publicado em 29 de maio de 2023 às 14h04.
Última atualização em 29 de maio de 2023 às 14h06.
O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, anunciou nesta segunda-feira, 29, que vai dissolver o Parlamento do país e convocar novas eleições. A decisão ocorreu após derrota de seu partido nas eleições regionais ocorridas neste domingo, 28.
O Partido Popular (PP, direita), liderado por Alberto Núñez Feijóo, que havia feito destas eleições um plebiscito sobre Pedro Sánchez, conseguiu um de seus principais objetivos e se tornou o partido mais votado nas eleições municipais.
Enfraquecido por cinco intensos anos no poder, marcados pela crise da pandemia da covid-19 e pela turbulência econômica ligada à guerra na Ucrânia, Pedro Sanchéz -- um socialista de 51 anos -- pegou o país de surpresa ao convocar eleições gerais para 23 de julho, mais de quatro meses antes do previsto.
Em discurso, o premiê disse que decidiu convocar novas eleições para que "o povo espanhol tome a palavra para decidir o rumo político do país". Sanchez reconheceu sua responsabilidade na derrota do seu partido.
"Assumo em primeira pessoa esses resultados e acredito ser importante submeter nosso mandato democrático à vontade popular", declarou. As cortes espanholas serão dissolvidas a partir de terça-feira, 29, afirmou o socialista. O rei da Espanha, Felipe VI, já foi comunicado da decisão.
“A alternativa era seis meses de sangria do governo”, observa Oriol Bartomeus, cientista político da Universidade Autônoma de Barcelona, ante a qual o chefe de governo optou por “apostar tudo por tudo”.
"É típico do Pedro Sánchez", afirmou. Por trás dessa decisão, "há um cálculo estratégico", acrescenta Paloma Román, da Universidade Complutense de Madri.
Para Sánchez, que passou de um jovem político quase desconhecido para assumir as rédeas do partido mais antigo da Espanha em 2014 — e presidente do governo quatro anos depois —, é uma nova guinada em uma carreira que tem sido uma montanha-russa.
Nascido em 29 de fevereiro de 1972 em uma família rica, Sánchez, jogador de basquete na juventude e formado em Economia, foi dado como politicamente morto, após obter, em 2015 e 2016, os piores resultados do Partido Socialista em sua era moderna.
Derrubado por uma rebelião interna, recuperou-se seis meses depois, graças aos militantes. Venceu as primárias do partido, após percorrer o país em seu próprio carro. E, apoiando-se em sua já famosa tenacidade, em junho de 2018 voltou a fazer história.
Com o apoio da esquerda radical do Podemos e dos nacionalistas catalães e bascos, liderou a primeira moção de censura bem-sucedida em uma democracia. Com ela, conseguiu destituir o conservador Mariano Rajoy do poder, afundado por um escândalo de corrupção em seu partido.
"Ele é um político que costuma tomar esse tipo de decisão", comenta Oriol Bartomeus. "Até agora tem funcionado para ele (...) O que acontece é que, agora, a coisa é mais complicada: parte de uma situação menos favorável", acrescenta.
No Partido Socialista desde adolescente, Sánchez teve de caminhar na corda bamba para se manter no poder nos últimos cinco anos. Apelidada de "Frankenstein" por seus críticos, devido a sua heterodoxia, sua frágil maioria parlamentar ruiu em fevereiro de 2019, obrigando-o a convocar eleições. Esse processo teve de ser repetido alguns meses depois, por falta de apoio suficiente para formar um governo.
No início de 2020, foi obrigado a chegar a um acordo com seus rivais de esquerda, o Podemos, passando a promover um pacote de reformas claramente ligado à essa agenda. Apenas alguns meses antes chegou a dizer que não conseguiria dormir tranquilo se compartilhasse um governo com eles. Sánchez, que causou sensação ao nomear o gabinete com mais mulheres da história do país, aumentou o salário mínimo em um terço em cinco anos e conseguiu aprovar uma reforma trabalhista destinada a combater a precarização dos contratos de trabalho.
Tendo chegado ao poder após a fracassada tentativa de independência da Catalunha em 2017, iniciou um diálogo com os separatistas, aos quais fez concessões, consideradas inaceitáveis pela oposição de direita. Também obteve sinal verde para uma lei de compensação pela memória das vítimas da ditadura de Francisco Franco (1939-1975), cujos restos mortais foram exumados de um mausoléu faraônico nos arredores de Madri, onde repousavam.
Sempre impecavelmente vestido, fluente em inglês e francês, algo não totalmente comum em outros políticos espanhóis, este ex-membro do gabinete do alto representante da ONU na Bósnia e presidente da Internacional Socialista desde o ano passado, conseguiu dar maior visibilidade à Espanha no âmbito europeu.