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Queda da lira amplia dificuldades para premiê turco

Moeda recuou para novas mínimas e investidores questionam a capacidade do BC conter a desvalorização diante de um escândalo de corrupção

Primeiro-ministro da Turquia, Tayyip Erdogan, discursa para seus apoiadores durante encontro de seu partido, o AKP, em Ancara (Umit Bektas/Reuters)

Primeiro-ministro da Turquia, Tayyip Erdogan, discursa para seus apoiadores durante encontro de seu partido, o AKP, em Ancara (Umit Bektas/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 24 de janeiro de 2014 às 15h52.

Istambul - A lira da Turquia recuou para novas mínimas nesta sexta-feira e investidores questionam a capacidade de o banco central do país conter a desvalorização da moeda diante de um escândalo de corrupção que desafia o poder do primeiro-ministro, Tayyip Erdogan.

A lira caiu abaixo de 2,33 por dólar, o que significa que os turcos precisam mais de o dobro de liras para comprar a mesma quantidade de dólares do que há seis anos quando a moeda atingiu seu valor máximo, uma desvalorização custosa para um país que depende bastante de importações.

A riqueza nominal da Turquia triplicou desde que Erdogan chegou ao poder em 2002, um desempenho recorde que formou a base para as vitórias por grande margem do seu partido, o AK, em três eleições consecutivas.

Qualquer ameaça a esse avanço pode levá-lo a perder as eleições locais e presidenciais deste ano, manchando ainda mais a sua reputação já ameaçada por uma investigação de corrupção que levou à demissão de três ministros e a detenção diversos aliados.

Ele diz que a investigação e as acusações foram elaboradas pelo clérigo islâmico Fethullah Gulen, que mora dos Estados Unidos e que tem forte influência sobre a polícia e o judiciário. O primeiro-ministro suspeita Gulen quer derrubá-lo, o que Gulen nega.

Erdogan também classificou a investigação como um complô apoiado por estrangeiros para minar a posição da Turquia, e maquinado em parte por especulares em taxa de juros empenhados em lucrar com taxas mais altas em detrimento do crescimento do país.

Sua oposição veemente ao aumento dos juros deixou o banco central do país paralisado, queimando suas reservas cambiais em sua luta para defender a lira e tentando reduzir os custos dos empréstimos --uma batalha que parece estar perdendo.

Banqueiros disseram que a autoridade monetária do país vendeu 3 bilhões de dólares na quinta-feira na primeira intervenção direta no mercado cambial em dois anos, mas o movimento não foi capaz de acalmar os mercados.

"O banco central tem que se desvencilhar das amarradas de controle e interferência do governo e provar a sua independência elevando a taxa de juros de forma significativa... caso contrário, as coisas podem ficar muito piores", disse o diretor de pesquisa de mercados emergentes do Standard Bank, Timothy Ash.

As reservas cambiais líquidas do banco central estão em aproximadamente 34 bilhões de dólares, estimam economistas, o que significa que o BC pode sustentar as vendas de dólar nos níveis de quinta-feira por semanas em vez de meses. Mas o BC diz que todas as suas reservas, incluindo as detidas por bancos comerciais, podem ser utilizadas caso necessário.

As reservas brutas somaram 107 bilhões de dólares, de acordo com dados de sexta-feira passada.

"O banco central turco está em uma posição difícil", disse o economista do UBS Reinhard Cluse. "Elevar a taxa de juros oficial teria sido a maneira mais simples e poderosa para defender a lira e conter o déficit em conta corrente. Contudo, os últimos meses deixaram cada vez mais claro que há uma forte resistência política." Nesta sexta-feira, o BC turco vendeu 100 milhões de dólares em leilões cambiais após receber ofertas de 222 milhões de dólares, de acordo com dados do BC.

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