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Putin desfaz caminho trilhado por Medvedev

''Não é nada pessoal. Quero que saibas, não é nada pessoal'', afirmou nesta terça-feira o chefe do Kremlin


	Putin acusou o governo de insistir em ''erros sistêmicos em uma série de campos''
 (Anatoli Maltsev/AFP)

Putin acusou o governo de insistir em ''erros sistêmicos em uma série de campos'' (Anatoli Maltsev/AFP)

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Da Redação

Publicado em 20 de setembro de 2012 às 20h56.

Moscou - Pouco mais de quatro meses desde seu retorno ao Kremlin, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, desfez quase todas as inovações liberais de seu antecessor e atual primeiro-ministro, Dmitri Medvedev, e praticamente extinguiu a palavra ''dupla'' da linguagem política russa.

''Não é nada pessoal. Quero que saibas, não é nada pessoal'', afirmou nesta terça-feira o chefe do Kremlin, após anunciar publicamente uma reprovação ao Gabinete de Ministros e, inclusive, ao seu principal responsável: o próprio Medvedev.

A ira de Putin foi provocada pelo projeto de orçamentos federais do Estado preparado pelo governo, que, segundo o atual presidente russo, não permite cumprir várias metas econômicas, a maioria defendida em seu programa eleitoral.

Além disso, Putin acusou o governo de insistir em ''erros sistêmicos em uma série de campos'' e, para rematar, pediu a Medvedev repreender dois de seus ministros.

A bronca ao gabinete se produz depois da aprovação de uma série de iniciativas legislativas promovidas por Putin para solidificar as tentativas de Medvedev - tímidas, segundo a oposição -, de modernizar o sistema político russo.

Assim, se em 2010 Medvedev vetou o endurecimento da regulamentação de manifestações, seu sucessor no Kremlin promulgou em junho deste ano uma emenda à lei que regulamenta os comícios com sanções contra quem as infringirem.

Em 2009, no segundo ano de seu mandato presidencial, Medvedev liberalizou a legislação que regula as atividades das ONG e reduziu as possibilidades do Estado interferir nos trabalhos destas organizações.

Dois meses depois do retorno de Putin ao poder, a Duma do Estado, dominada pelo Governo, aprovou uma lei que obriga às ONG que recebem financiamento do exterior e realizam atividades políticas a se registrar perante as autoridades como ''agentes estrangeiros''.


Em dezembro de 2011, o código penal russo eliminou o artigo que sancionava e tipificava a calúnia como delitos. Mas, em julho deste ano, Putin não só restabeleceu essa lei, como implementou penas mais severas.

Defensor da inclusão dos jovens em gestão do Estado, Medvedev promoveu uma lei que em 2010 fixou em 60 anos a idade máxima dos funcionários públicos, enquanto Putin, neste mês, propôs à Duma uma emenda que permita ao chefe do Estado ampliar facultativamente até os 70 anos a idade limite para altos cargos.

''Agora é hora de todos relaxarem. Isto é para muito tempo'', afirmou um otimista Medvedev sobre o futuro da dupla com Putin no último abril, pouco antes de devolver o comando do Kremlin ao ''amigo'', que já tinha exercido essa mesma função entre 2000 e 2008.

O termo ''dupla'' começou a ser utilizado amplamente na Rússia pouco depois que Putin desse seu apoio a Medvedev para sucedê-lo em 2008 na Presidência da Rússia. Medvedev, por sua vez, legitimou ainda mais o termo ao confiar que seu mentor ocuparia, como ocorreu, a chefia do Governo.

Mas essa palavra, que acompanhou a Medvedev durante os quatro anos que foi chefe de Estado, desapareceu rapidamente a partir do dia que Putin reassumiu o Kremlin.

O protagonismo de Medvedev à frente do Governo foi quase nulo e não faltam as conjeturas sobre quanto tempo ele será mantido no cargo.

O diretor do Centro de Estudos Estratégicos, Mikhail Dmitriev, advertiu que o primeiro-ministro poderia se despedir de seu posto já nos próximos meses, com a aprovação da reforma do sistema de pensões que o Ministério do Trabalho elabora.

Segundo Dmitriev, a personalidade impopular desta reforma levantará uma onda descontentamento que provocará a queda do gabinete de Medvedev. 

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