Protestos populares acabam com 23 anos de poder de Ben Ali na Tunísia
Zine el Abidine Ben Ali abandonou o país com vários membros de sua equipe política, especialmente odiada pelos tunisianos. Cerca de 70 pessoas morreram em protestos.
Da Redação
Publicado em 14 de junho de 2011 às 20h02.
Túnis - Um mês de protestos populares nos quais morreram 70 pessoas, segundo organizações de direitos humanos, acabaram finalmente nesta sexta-feira com 23 anos de poder na Tunísia de Zine el Abidine Ben Ali, que abandonou o país junto a vários membros de sua equipe política, especialmente odiada pelos tunisianos.
As sucessivas promessas de democratização e abertura realizadas por Ben Ali nos últimos dias e semanas não serviram para aplacar a raiva de seus compatriotas, que transformaram um dos países com mais aparente calma social do Magrebe em um barril de pólvora.
O primeiro-ministro, Mohamed Ghanuchi, anunciou na televisão estatal, acompanhado dos presidentes das duas câmaras parlamentares, que assumia a Presidência interina, e se comprometeu a respeitar a Constituição e restaurar a estabilidade do país.
Algumas horas antes, mais de oito mil manifestantes tinham se concentrado perante a sede do Ministério do Interior para pedir a saída do presidente e levavam um cartaz com letras vermelhas que dizia "Ben Ali assassino".
Após várias horas de indecisão, a Polícia atacou com gás lacrimogêneo e cassetetes os manifestantes, o que provocou a multiplicação dos enfrentamentos e dos distúrbios em várias áreas da capital.
Os protestos também aumentaram nesta sexta-feira em muitas outras regiões do país, apesar de Ben Ali ter anunciado, na noite anterior, uma "profunda e completa" mudança política e que não se candidataria para as próximas eleições presidenciais de 2014.
Em Kairauan, a cidade santa tunisiana, ocorreram vários distúrbios com dezenas de carros queimados e comércios saqueados, da mesma forma que em El Kef, no sudoeste do país.
Fontes hospitalares informaram à Agência EFE que só nos distúrbios da noite de quinta-feira na capital, após a promessa de Ben Ali de que a Polícia não atiraria contra os manifestantes, 13 corpos e cerca de 50 feridos ingressaram nos centros médicos, vários deles por disparos de bala.
Em uma última tentativa de acalmar os protestos, o presidente anunciou no começo da tarde a destituição de todo o Governo e a convocação de eleições legislativas antecipadas em um prazo de seis meses.
Pouco depois o Governo decretou estado de exceção em todo o país com um toque de recolher das 17h até as 6h, proibiu qualquer concentração na via pública e autorizou a Polícia e o Exército a dispararem contra qualquer pessoa suspeita que não obedecesse suas ordens.
O Exército tomou o controle do aeroporto e o espaço aéreo do país ficou fechado.
Eram os últimos passos antes que, às 18h42 locais (15h42 de Brasília) fosse anunciada a saída de Ben Ali do país, junto a sua mulher, Leila Trabelsi, e vários poderosos membros de sua equipe política, acusados pela oposição de terem esvaziado os baús do Estado.
Poucos tunisianos que o aplaudiram em 7 de novembro de 1986, quando derrubou o primeiro presidente do país, Habib Bourguiba, imaginavam que seu regime acabaria dessa maneira.
"Conforme o artigo 56 da Constituição e em vista da dificuldade do chefe do Estado para assegurar a governabilidade do país, assumo a partir deste momento o cargo de presidente interino", disse Ghanuchi e fez um pedido para que os tunisianos "demonstrem seu patriotismo e união".
O até então primeiro-ministro se comprometeu a "iniciar todas as reformas sociais e políticas que foram anunciadas em colaboração com os partidos políticos e a sociedade civil".
Entre as medidas anunciadas está a antecipação das eleições legislativas, embora Ghanuchi não tenha feito nenhuma referência a isso em seu discurso.
O novo presidente interino goza de uma relativa boa reputação no país e não se envolveu nos casos de corrupção do regime.