Emissões de gases efeito estufa (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 2 de novembro de 2011 às 11h11.
O Relatório de Desenvolvimento Humano do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) referente a 2011, divulgado nesta quarta-feira em Copenhague, traz uma seção especial sobre os desafios que a melhoria dos indicadores de renda, educação e saúde no mundo impõem para o controle da degradação ambiental.
O estudo – que se debruçou sobre um conjunto de quatorze indicadores para fazer sua análise, entre os quais o índice de desempenho ambiental – conclui que o progresso recente no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) tem sido obtido à custa do aquecimento global.
IDH e CO2
A pesquisa identificou que, quando o rendimento médio de uma nação cresce, também aumentam as emissões de dióxido de carbono (CO2) – o gás carbônico, principal poluente do chamado efeito estufa. A renda é reflexo do vigor da economia, que, por sua vez, é traduzida pela aceleração das atividades de produção e distribuição de bens. Com um uso mais intensivo de energia e maior circulação de veículos, é natural que ocorra expansão das emissões deste poluente na atmosfera.
O relatório não identificou relação entre a evolução dos índices de saúde e educação com o dióxido de carbono. Já o crescimento do IDH – como é uma média ponderada destas três variáveis – revelou que tem como contrapartida a ampliação da poluição atmosférica. Esta correspondência não é muito clara entre os países de IDH baixo, mas acelera-se rapidamente a partir de um determinado patamar (que o Pnud denomina ponto de virada).
A partir disso, a instituição conclui que mais importante que o impacto em si do desenvolvimento sobre a degradação ambiental é a velocidade em que este acontece. Em outras palavras, os países com melhoria do IDH mais rápida também passam por um aumento mais célere das emissões de CO2 per capita. O Pnud acrescenta que, diante desta constatação, o melhor guia para saber o que esperar do desenvolvimento atual é olhar para as mudanças ao longo do tempo.
Outras ameaças ambientais
A forma com que as emissões de gás carbônico relacionam-se com a renda e o IDH não é a mesma verificada para outros indicadores de meio ambiente. Em resumo, há ameaças ambientais que aumentam com o desenvolvimento e outras não. Outra correlação positiva, segunda a pesquisa, foi encontrada apenas na devastação das florestas.
O relatório do Pnud chama a atenção ainda para um estudo de Barry B. Hughes e Randall Kuhn que mostra que as curvas entre o IDH e a poluição urbana e da água, bem como o acesso a saneamento, são em U invertido. Isso que significa que, à medida que o desenvolvimento aumenta, a degradação ambiental medida por esses itens piora gradativamente. Contudo, chega um momento em que a alta do IDH tem como contrapartida a melhoria destes desses indicadores. A explicação é intuitiva: os governos passam, à medida que os países enriquecem, a ser pressionados por suas populações a oferecerem ambientes mais limpos e saudáveis.
Desigualdade é má
Apelando a métodos que a pesquisa classifica como “quase experimentais”, foram identificadas algumas relações entre desigualdade e problemas ambientais. Um exemplo é a descoberta de que níveis mais elevados de desigualdade de gênero apontam para patamares mais baixos de sustentabilidade. Da mesma forma, o desmatamento e a poluição levam a piores índices de IDH – o que fica mais fácil entender quando se sabe, por exemplo, que metade da subnutrição mundial é atribuível a fatores ambientais. Diante dessas evidências, o estudo conclui que “a desigual é má, não só intrinsicamente, mas também para o meio ambiente”.