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Programa do Irã foi apoiado pelos EUA até virar pesadelo

As mesmas potências que acabam de fechar um acordo nuclear histórico com o Irã são as mesmas que levaram essa tecnologia ao país


	Bandeira do Irã em frente a míssil
 (Getty Images)

Bandeira do Irã em frente a míssil (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 14 de julho de 2015 às 16h39.

Viena - As mesmas potências que acabam de fechar nesta terça-feira um histórico acordo com o Irã para limitar seu programa nuclear e impedir que a nação persa tenha capacidade de construir uma bomba atômica são as mesmas que levaram essa tecnologia ao país, antes da Revolução Islâmica de 1979, quando ainda era um importante aliado do Ocidente.

Foi em 1957 que a então Pérsia, governada com mão de ferro pelo xá Mohammed Reza Pahlevi, fez sua primeira caminhada no campo nuclear, sempre sob o apoio dos Estados Unidos.

Dez anos mais tarde o poderoso aliado americano facilitou o primeiro reator e o xá lançou um programa de investimentos milionários para formar técnicos, produzir combustível nuclear e desenvolver usinas nucleares próprias, medidas que contaram com a participação também de França e Alemanha.

Estes planos se chocaram em 1979 com o triunfo da Revolução Islâmica e com a opinião do líder aiatolá Khomeini de que a energia nuclear era algo satânico.

A guerra com o Iraque (1980-1988) acabou por enterrar o programa atômico iraniano até meados dos anos 80, quando o país retomou esforços cujas intenções reais, militares ou civis, não estão claras até hoje.

A partir desse momento, Paquistão, China e, mais tarde, a Rússia se tornaram os principais parceiros do Irã dos aiatolás.

As pressões dos Estados Unidos, movidas por suas suspeitas de uma intenção militar oculta, fizeram com que, durante a década de 1990, China, Argentina e Rússia rompessem ou limitassem sua colaboração técnica com o Irã.

No final de 2002, a oposição iraniana revelou a existência de uma usina de produção de urânio enriquecido em Natanz e uma usina de água pesada em construção em Arak, duas instalações que o Irã tinha mantido em segredo durante anos.

A partir daí, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) começou a inspecionar o programa atômico iraniano e descobriu que durante 18 anos essa informação tinha sido ocultada.

A compra clandestina de material nuclear, o desenvolvimento de detonadores relacionados a explosões em cadeia e a adaptação de mísseis para transportar ogivas nucleares são alguns dos temas que o Irã pesquisou.

A falta de transparência com a AIEA foi sendo alternada com momentos de cooperação, como entre outubro de 2003 e agosto de 2005, quando o Irã aceitou paralisar seu programa de enriquecimento.

Este combustível, de uso tanto civil como militar em função de seu grau de pureza, se tornou rapidamente a principal causa de atrito entre o Irã e a comunidade internacional.

Em 2006, diante dos repetidos descumprimentos do Irã e de sua recusa em deixar de enriquecer urânio, a AIEA remeteu o caso iraniano ao Conselho de Segurança da ONU.

O Irã argumentou que esse passo significou uma politização de um assunto que devia ser tratado no âmbito técnico da AIEA.

A ONU, os EUA e a União Europeia aprovaram várias rodadas de sanções que congelaram recursos iranianos no exterior, bloquearam suas transações financeiras e interromperam o comércio de petróleo, causando enormes danos à economia iraniana.

Longe de ceder, o Irã decidiu acelerar seus esforços atômicos e foi melhorando a quantidade e a pureza do urânio enriquecido, até chegar a um nível de 20%.

Aumentar a pureza a esse nível é mais difícil do que chegar depois aos 90%, o percentual necessário para fabricar uma bomba.

Apesar de ter havido esforços negociadores, a diplomacia não voltou a se impor no conflito nuclear até o pragmático Hassan Rohani chegar à presidência iraniana. Ele tinha sido negociador nuclear na época que Teerã aceitou congelar seu programa.

A partir daí, as reuniões se sucederam, o nível dos interlocutores foi subindo e em setembro de 2013 houve um encontro histórico entre os ministros de Relações Exteriores dos EUA e do Irã, dois países sem relações diplomáticas desde 1979.

Apenas dois meses depois já estava estipulado um primeiro roteiro para a negociação nuclear entre o Irã e o chamado Grupo G5+1 (China, EUA, França, Reino Unido, Rússia e Alemanha).

O núcleo desse acordo está em o Irã aceitar interromper certas partes de seu programa atômico e as grandes potências suspenderem a aplicação de algumas das sanções.

As partes deram um prazo até julho do ano passado para chegar a um acordo definitivo que permitisse ao Irã ter um programa atômico civil, mas limitado e vigiado. Essa data chegou sem acordo e a negociação foi prorrogada até novembro, quando mais uma vez não houve acordo, mas decidiram que valia a pena continuar com as negociações.

O novo limite foi marcado para abril de 2015, quando as partes chegaram a um acordo de princípios, cujos detalhes definitivos foram fechados hoje, 14 de julho, em Viena. 

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