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Produção de gás natural no Brasil pode quadruplicar até 2025

Mas para isso é preciso criar condições competitivas para a indústria, que garantam expansão da oferta e demanda, aponta estudo da Abrace

Gás para mais de meio século (Marcos Morteira)

Vanessa Barbosa

Publicado em 17 de outubro de 2012 às 13h39.

São Paulo - As regras da indústria de gás foram concebidas em um Brasil do passado. Partindo dessa premissa, a Abrace (Associação Brasileira de Grandes Consumidores de Energia) realizou um diagnóstico para apontar oportunidades e desafios para o futuro do setor. O estudo mostra que a produção de gás natural no Brasil - que hoje representa 10% da nossa matriz energética - pode quadruplicar até 2025, passando de 40 para 170 MW metros cúbicos diários.

Mas, segundo Paulo Pedrosa, presidente da entidade, para que isso aconteça é preciso construir condições competitivas, que garantam expansão da oferta e demanda do combustível , bem como sua distribuição e comercialização. Atualmente, as indústrias brasileiras pagam a oitava maior tarifa de gás numa amostra com 46 países.

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"De 2008 para cá houve uma estagnação na indústria de gás brasileira, que hoje vive um lento declínio. Enquanto países como Estados Unidos e Austrália passaram a viver um crescimento vertiginoso do setor, impulsionado também por fontes não convencionais, como o gás de xisto", destacou Pedrosa em evento do jornal Estadão, em São Paulo, durante divulgação do estudo. "Nossa proposta é que o gás seja um fator de competitividade da indústria nacional, como o que desempenha o setor elétrico", enfatizou.

Dados da Fipe, parceira do estudo, indicam ainda que se o Brasil reduzisse pela metade o valor pago pelo gás naural, garantiria 0,5 ponto percentual a mais no crescimento econômico anual até 2025, além de contribuir para a queda da inflação.

De acordo com o diagnóstico, duas incertezas pairam sobre o futuro do insumo por aqui: se o gás será abordado de forma estratégica pelo governo e sustentável no longo prazo, através de políticas públicas e regulamentações fortes, ou se o combustível ficará sujeito a ações localizadas e pontuais, voltadas para a cadeia do próprio insumo. "O importante é agir logo para não perder essa riqueza", defende Pedrosa.

Se o modelo de expansão de gás iniciada nos EUA vai se multiplicar e o mundo vai viver um boom da oferta de gás ou se o preocesso vai ficar restrito a apenas alguns poucos países, não dá para dizer. Contudo, o presidente da Abrace ressalta que mesmo que o mundo não avance na exploração dessa fonte de energia, o Brasil estará "numa posição muito boa, pronto para uma competição global".

Oportunidades e desafios

Um levantamento da Agência Internacional de Energia estima que o Brasil tenha reservas não convencionais de gás ainda não provadas capazes de abastecer 300 anos de consumo, com base na demanda atual. Mas ainda não há uma avaliação sobre a viabilidade comercial dessas reservas no país.


"Não dá para replicar o fenômeno americano no Brasil, cada país tem condições diferentes, é preciso estudar caso a caso", sublinha o Secretário de Petróleo, Gás Natural e Combustíveis Renováveis do Ministério de Minas e Energia, Marco Antônio Martins Almeida.

Ele ressalta, entretanto, que o governo está atento às possibilidades de diversificação. Proibida em alguns países por questões ambientais, a técnica de extração do chamado shale gas que pode aumentar as reservas de gás natural será testada pela primeira vez nos próximos meses, em Minas e na Bahia .  "Temos muitas bacias promissoras, como São Francisco, Parecis, Solimões, Paranaíba e a bacia do Recôncavo".

No tocante à produção convencional de gás natural, Almeida sinaliza que é preciso ir além do atendimento às demandas do mercado consumidor. "Nossa preocupação é também com a capacidade de produção e principalmente com o transporte, com a expansão e criação de novos gasodutos", disse.

Um caminho para disciplinar o transporte de gás passa, segundo o secretário, pela Lei do Gás, criada em 2009, que estabelece mudanças na regra de expansão de gasodutos, "ponto que mais necessita de alteração". "A ideia é fazer um planejamento da cadeia, que hoje está todo retido nas mãos da Petrobras", ressalta.

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