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Pripyat é a 'Pompeia' contemporânea

Cidade vizinha a usina de Chernobyl foi abandonada após o desastre nucelar em 1986 e até hoje tem níveis radioativos perigosos

Visa de Pripyat: há 25 anos o local é uma cidade-fantasma (Kadams1970/Wikimedia Commons)
DR

Da Redação

Publicado em 28 de abril de 2011 às 13h53.

Kiev - Situada a apenas quatro quilômetros da usina nuclear de Chernobyl, Pripyat era uma cidade modelo para o sistema comunista soviético, até que a radiação que se propagou pela Ucrânia em 1986 transformou-a na Pompeia contemporânea, esvaziada e assustadora, além dos níveis de radiação até hoje ameaçadores.

"Atenção, atenção! Queridos camaradas! Para garantir a total segurança do povo, principalmente das crianças, é necessário evacuar provisoriamente os habitantes da cidade", soou a voz de Nina Melnik, locutora da emissora de Pripyat.

Nina pronunciou essas palavras no dia 27 de abril de 1986, um dia depois da explosão no quarto reator da usina atômica que, em suas palavras, criava "uma situação radioativa desfavorável" para a saúde.

"Camaradas, ao abandonar provisoriamente seus lares, não esqueçam, por favor, de fechar a janela, desligar aparelhos elétricos e de gás, e fechar as torneiras", acrescentou.

Mas o provisório se tornou permanente. Os mais de 50 mil habitantes de Pripyat não só nunca retornaram a seus lares, como também, em muitos casos, perderam todos os seus pertences.

"Pela tarde, disseram-nos que seríamos evacuados por três dias e acabou sendo por toda a vida", explica Marina, antiga moradora de Pripyat, que abandonou a cidade em um dos milhares de ônibus fretados pelas autoridades locais que seguiram rumo a Kiev.

Dezenas de mulheres grávidas viviam na cidade naquele momento. Algumas delas abortaram por recomendação dos médicos, enquanto outras preferiram dar à luz, que, em alguns casos, nasceram com má-formação ou morreram em pouco tempo.

Fundada em 1970, Pripyat foi pensada especialmente para abrigar os engenheiros, físicos e técnicos que construiriam uma usina nuclear próxima, neste caso, a de Chernobyl.

Era uma 'cidade jardim', com amplas avenidas e edifícios de 16 andares, estação de trem, porto fluvial, trabalhadores com salários de dar inveja aos padrões soviéticos, população com uma idade média de 29 anos, criminalidade zero e árvores de sobra.

Entre os ambiciosos planos urbanísticos para a cidade, estavam a construção de uma torre de televisão, um hotel, dois shoppings, pavilhões esportivos, cinemas e um palácio da cultura.

Hoje, Pripyat, assim como outras localidades da zona de exclusão de 30 quilômetros ao redor da usina de Chernobyl, é uma cidade-fantasma, um lugar que alude ao apocalipse de um dia após uma guerra nuclear.

Os aparelhos de medição Geiger registram nas casas de Pripyat, especialmente nos telhados, níveis de radiação que superam em várias dezenas de vezes o normal, pois em certos lugares da cidade o césio 137 liberado de Chernobyl chega a ser detectado a até 20 centímetros debaixo da terra.

Um dos emblemas da tragédia de Pripyat é a oxidada montanha-russa que tinha inauguração marcada para 1º de maio de 1986 - Dia do Trabalho -, mas que nunca chegou a ser utilizada.

"Meu marido me disse que tinha ocorrido uma explosão na usina. Uma vizinha e eu subimos ao telhado e vimos a fumaça do quarto reator. Na cidade não havia pânico, as crianças brincavam na areia e as pessoas faziam filas nas lojas", lembra Tania, outra moradora de Pripyat, que depois acabou tendo dois filhos saudáveis.

O edifício da escola da cidade mais parece uma assombração. Nas salas de aula, os cadernos e lapiseiras dos alunos ainda permanecem sobre as envelhecidas carteiras, assim como os mapas e cartazes patrióticos.

Cinco policiais buscam garantir a interdição na cidade-fantasma. O acesso não-autorizado à área é proibido, com pena de prisão, o que não impede, contudo, que ladrões de plantão invadam Pripyat para levar qualquer objeto que possa ter alguma utilidade, desde metais até encanamentos, móveis e cristaleiras.

Também é proibido levar cogumelos, maçãs e frutos silvestres da cidade, bem como peixes e outros animais que, por incrível que pareça, circulam livremente pelo território contaminado.

Paradoxalmente, apesar da radiação, Pripyat e toda a zona de exclusão se transformaram em uma rica reserva natural, com um grande número de javalis, alces, lobos, raposas, castores, bisões, esquilos, furões, lontras, martas, doninhas e cabras selvagens.

Alguns antigos moradores e turistas viajam a Pripyat imbuídos pela nostalgia. O que lá encontram é uma cidade tomada por plantas silvestres, arbustos e árvores que crescem em meio às casas abandonadas.

Por esse motivo, já houve diversos pedidos para se restaurar a cidade e transformá-la em um museu de seu tempo e da ignomínia, devido à irresponsabilidade do ser humano no uso do átomo.

Entre os perigos de uma visita a Chernobyl está a possibilidade de desabamento de algum dos edifícios danificados ou um desagradável encontro com as manadas de lobos que espreitam pela área.

Enquanto isso, Chernobyl permanece ameaçadora. Um quarto de século depois, a usina continua esperando que alguém retire de uma vez por todas o combustível nuclear de seus reatores.

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Kiev - Situada a apenas quatro quilômetros da usina nuclear de Chernobyl, Pripyat era uma cidade modelo para o sistema comunista soviético, até que a radiação que se propagou pela Ucrânia em 1986 transformou-a na Pompeia contemporânea, esvaziada e assustadora, além dos níveis de radiação até hoje ameaçadores.

"Atenção, atenção! Queridos camaradas! Para garantir a total segurança do povo, principalmente das crianças, é necessário evacuar provisoriamente os habitantes da cidade", soou a voz de Nina Melnik, locutora da emissora de Pripyat.

Nina pronunciou essas palavras no dia 27 de abril de 1986, um dia depois da explosão no quarto reator da usina atômica que, em suas palavras, criava "uma situação radioativa desfavorável" para a saúde.

"Camaradas, ao abandonar provisoriamente seus lares, não esqueçam, por favor, de fechar a janela, desligar aparelhos elétricos e de gás, e fechar as torneiras", acrescentou.

Mas o provisório se tornou permanente. Os mais de 50 mil habitantes de Pripyat não só nunca retornaram a seus lares, como também, em muitos casos, perderam todos os seus pertences.

"Pela tarde, disseram-nos que seríamos evacuados por três dias e acabou sendo por toda a vida", explica Marina, antiga moradora de Pripyat, que abandonou a cidade em um dos milhares de ônibus fretados pelas autoridades locais que seguiram rumo a Kiev.

Dezenas de mulheres grávidas viviam na cidade naquele momento. Algumas delas abortaram por recomendação dos médicos, enquanto outras preferiram dar à luz, que, em alguns casos, nasceram com má-formação ou morreram em pouco tempo.

Fundada em 1970, Pripyat foi pensada especialmente para abrigar os engenheiros, físicos e técnicos que construiriam uma usina nuclear próxima, neste caso, a de Chernobyl.

Era uma 'cidade jardim', com amplas avenidas e edifícios de 16 andares, estação de trem, porto fluvial, trabalhadores com salários de dar inveja aos padrões soviéticos, população com uma idade média de 29 anos, criminalidade zero e árvores de sobra.

Entre os ambiciosos planos urbanísticos para a cidade, estavam a construção de uma torre de televisão, um hotel, dois shoppings, pavilhões esportivos, cinemas e um palácio da cultura.

Hoje, Pripyat, assim como outras localidades da zona de exclusão de 30 quilômetros ao redor da usina de Chernobyl, é uma cidade-fantasma, um lugar que alude ao apocalipse de um dia após uma guerra nuclear.

Os aparelhos de medição Geiger registram nas casas de Pripyat, especialmente nos telhados, níveis de radiação que superam em várias dezenas de vezes o normal, pois em certos lugares da cidade o césio 137 liberado de Chernobyl chega a ser detectado a até 20 centímetros debaixo da terra.

Um dos emblemas da tragédia de Pripyat é a oxidada montanha-russa que tinha inauguração marcada para 1º de maio de 1986 - Dia do Trabalho -, mas que nunca chegou a ser utilizada.

"Meu marido me disse que tinha ocorrido uma explosão na usina. Uma vizinha e eu subimos ao telhado e vimos a fumaça do quarto reator. Na cidade não havia pânico, as crianças brincavam na areia e as pessoas faziam filas nas lojas", lembra Tania, outra moradora de Pripyat, que depois acabou tendo dois filhos saudáveis.

O edifício da escola da cidade mais parece uma assombração. Nas salas de aula, os cadernos e lapiseiras dos alunos ainda permanecem sobre as envelhecidas carteiras, assim como os mapas e cartazes patrióticos.

Cinco policiais buscam garantir a interdição na cidade-fantasma. O acesso não-autorizado à área é proibido, com pena de prisão, o que não impede, contudo, que ladrões de plantão invadam Pripyat para levar qualquer objeto que possa ter alguma utilidade, desde metais até encanamentos, móveis e cristaleiras.

Também é proibido levar cogumelos, maçãs e frutos silvestres da cidade, bem como peixes e outros animais que, por incrível que pareça, circulam livremente pelo território contaminado.

Paradoxalmente, apesar da radiação, Pripyat e toda a zona de exclusão se transformaram em uma rica reserva natural, com um grande número de javalis, alces, lobos, raposas, castores, bisões, esquilos, furões, lontras, martas, doninhas e cabras selvagens.

Alguns antigos moradores e turistas viajam a Pripyat imbuídos pela nostalgia. O que lá encontram é uma cidade tomada por plantas silvestres, arbustos e árvores que crescem em meio às casas abandonadas.

Por esse motivo, já houve diversos pedidos para se restaurar a cidade e transformá-la em um museu de seu tempo e da ignomínia, devido à irresponsabilidade do ser humano no uso do átomo.

Entre os perigos de uma visita a Chernobyl está a possibilidade de desabamento de algum dos edifícios danificados ou um desagradável encontro com as manadas de lobos que espreitam pela área.

Enquanto isso, Chernobyl permanece ameaçadora. Um quarto de século depois, a usina continua esperando que alguém retire de uma vez por todas o combustível nuclear de seus reatores.

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