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Primeira tarefa de Felipe VI será evitar separação catalã

Herdeiro assumirá o trono exatamente quando 7,6 milhões de seus súditos se preparam para uma votação sobre a independência da Espanha

Príncipe Felipe e seu pai, o Rei Juan Carlos, durante uma cerimônia em Madri, na Espanha (Sergio Perez/Reuters)

Príncipe Felipe e seu pai, o Rei Juan Carlos, durante uma cerimônia em Madri, na Espanha (Sergio Perez/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 3 de junho de 2014 às 18h28.

Madri - Um dos desafios mais prementes do novo monarca espanhol será manter o seu reino unido.

O príncipe herdeiro Felipe, 46, que se tornará Felipe VI depois que seu pai, o rei Juan Carlos, terminar o processo de abdicação iniciado ontem, assumirá o trono exatamente quando 7,6 milhões de seus súditos na Catalunha se preparam para uma votação sobre a independência da Espanha neste ano. As pesquisas indicam que o resultado ainda é incerto.

“O príncipe precisa falar de integração”, disse José Antonio Gómez Yáñez, professor da Universidade Carlos III em Madri, em entrevista telefônica. 

“Ele tem tentado, mas até o momento sua mensagem não teve muito impacto – sua posição era secundária em relação à do rei”.

Felipe, cuja coroação acontecerá neste mês de acordo com o jornal ABC, se tornará o primeiro monarca espanhol a herdar diretamente a coroa desde 1886. 

Ele assumirá o trono em um momento de trégua em um país que foi maltratado por crises financeiras, desemprego crescente e níveis de pobreza cada vez mais altos desde que uma bolha imobiliária explodiu há seis anos.

Como o prestígio da monarquia declinou junto com as riquezas do país, muitos eleitores da região nordeste da Catalunha, responsável por cerca de 20 por cento da economia da Espanha, dizem que querem uma mudança constitucional para começarem a caminhar com as próprias pernas.

Os três partidos que pressionam pelo referendo da independência, programado para 9 de novembro, obtiveram juntos 56 por cento dos votos nas eleições do Parlamento Europeu, que aconteceu no dia 25 de maio. 

Esquerra Republicana de Catalunya, partido com presença minoritária no governo regional de Barcelona que mais está pressionando para a independência, deixou em segundo lugar o partido Convergencia I Unio do presidente catalão Artur Mas.

Súditos não

No resto da Espanha os que se opõem à monarquia passaram a dar mais apoio e dois partidos nacionais Izquierda Unida e Podemos obtiveram 18 por cento entre eles. 

Milhares de pessoas manifestaram-se ontem em Madri, Barcelona e outras grandes cidades espanholas para exigir um referendo sobre a monarquia e sua substituição por uma república, informou hoje o jornal El País.

“Em uma democracia, as pessoas decidem”, disse Pablo Iglesias, que lidera o Podemos, em uma postagem no Twitter, ontem. “Não somos súditos, somos cidadãos”.

Embora a economia da Espanha tenha começado a crescer novamente no terceiro trimestre e o prêmio de risco na dívida do país com vencimento em 10 anos tenha diminuído de mais de 600 pontos-base em 2012 para menos de 150 pontos-base, quase seis milhões de pessoas continuam sem emprego, alimentando uma reação contra os dirigentes que levaram a Espanha à crise.

Mas planeja realizar uma votação na Catalunha sobre a independência da Espanha menos de dois meses depois que os escoceses decidirem por voto se vão abandonar o Reino Unido, que tem 307 anos.

Ao contrário do que acontece no Reino Unido, onde o governo nacional sancionou o referendo, o primeiro-ministro espanhol Mariano Rajoy disse que a votação catalã não acontecerá porque seria ilegal de acordo com a Constituição espanhola.

Desamor catalão

“Pode haver uma mudança de rei, mas o processo democrático da Catalunha não vai mudar”, disse Mas ontem. “A maior parte da sociedade catalã vive com um sentimento de desamor e desconexão em relação ao Estado espanhol”.

De acordo com a Constituição que seu pai assinou em 1978, Felipe terá poucos poderes formais que lhe permitiriam alterar essa percepção. 

Ao contrário, a autoridade moral de chefe de estado lhe dá um papel central na quebra de braço necessária nos bastidores da busca por um acordo. Ele também se encontrará com o primeiro-ministro uma vez por semana.

“A tarefa que ele tem pela frente não é fácil”, disse Enriqueta Expósito, professora de direito constitucional na Universidade de Barcelona. “Seu papel será o de um moderador que pode fazer sugestões e mediar”.

Felipe, que estudou relações internacionais na Universidade de Georgetown, em Washington, terá seu papel de potencial mediador facilitado porque fala catalão.

Felipe também poderá enfrentar dificuldades para se fazer ouvir pelos decisores políticos de Madri e Barcelona, que reclamam da falta de comunicação um do outro enquanto permanecem em rota de colisão. 

Rajoy disse que soube dos planos para o referendo pelo jornal, enquanto Mas disse que está pronto para negociar, desde que o primeiro-ministro também esteja.

“Só existe uma razão para que ocorra uma colisão de trens”, disse Rajoy no dia 31 de maio. “Que alguém esteja no trilho errado”.

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