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Primavera árabe completa seis meses com um futuro incerto

A série de protestos que espalharam esperanças democráticas no Oriente Médio tornou-se uma procissão de crises e graves problemas econômicos

Egípcios protestam contra o governo do país, em um dos muitos movimentos que levaram à saída de Hosni Mubarak do poder (Khaled Desouki/AFP)
DR

Da Redação

Publicado em 15 de junho de 2011 às 17h01.

Cairo - Graves ameaças pesam sobre o futuro da chamada "primavera árabe" seis meses após o início de revoltas que derrubaram os presidentes tunisiano e egípcio e provocaram crises na Líbia, Síria, Iêmen e Bahrein.

A série de protestos e revoltas, que espalharam esperanças democráticas nesta região do mundo, tornaram-se hoje uma procissão de conflitos, crises e graves problemas econômicos.

"A situação é hoje mais difícil", estima Rabab al Mahdi, professora de ciência política da Universidade Americana do Cairo (AUC), seis meses após um vendedor ambulante atear fogo em si próprio na Tunísia em 17 de dezembro, ponto de partida das revoltas no mundo árabe.

"A ideia de que era possível sair às ruas para derrubar um regime como ocorreu na Tunísia e no Egito é colocada em xeque com o caso da Líbia, da Síria, do Iêmen e do Bahrein", estima.

Para Antoine Basbous, do Observatório dos Países Árabes (OPA) em Paris, a diversidade prevalece. Apesar dos lemas muitas vezes idênticos e das esperanças compartilhadas, "não há dois movimentos que se pareçam", afirma.

A Tunísia, país pioneiro da "primavera árabe" que fixou para 23 de outubro as primeiras eleições desde a saída de Zine el Abidin Ben Ali, parece estar bem encaminhada em uma transição, o oposto do Egito, onde "há certas dificuldades", estima.

No Egito, onde muitos temem que os islamitas saiam fortalecidos após a queda de Hosni Mubarak, o exército no poder parece querer unicamente "uma mudança de fachada".

Nestes dois países, as graves dificuldades econômicas que acompanharam as mudanças de regime levaram a comunidade internacional a mobilizar bilhões de dólares em ajuda.

O Iêmen, cujo presidente Ali Abdullah Saleh está hospitalizado em Riad após ser ferido em um ataque, corre o risco de afundar em uma situação similar a da Somália, onde reina o caos e o Estado se desintegra, acrescenta Basbous.

O Bahrein, por sua vez, já viveu sua "contrarrevolução" após a repressão dos protestos de fevereiro e março.


Na Líbia, Muammar Kadafi, que se agarra ao poder, apesar de uma revolta interna e dos bombardeios da Otan, "parece maduro para cair, só resta saber quando". Na Síria, o regime iniciou uma repressão massiva, "está decidido a se defender e ainda tem recursos", explica.

Os riscos de contágio a outros países são reais, embora incertos. "Os efeitos sobre o resto da região vão depender do resultado obtido nestes países. Mas não há efeito mecânico, isso depende muito da situação interna", observa Rabab al Mahdi.

A Argélia pode acalmar os desejos de sua população recorrendo aos importantes lucros gerados por seus recursos em hidrocarbonetos. O Marrocos aposta, por sua vez, em uma política de reformas.

Mas na Jordânia, explica Antoine Basbous, "as dificuldades da monarquia são mais importantes, e trata-se de um país rodeado de vizinhos em crise".

Apesar destas incertezas, alguns continuam sendo otimistas sobre as conquistas da "primavera árabe", que colocou a democratização entre os principais assuntos de uma região que parecia condenada a seguir como um santuário de regimes autocráticos intocáveis.

Para Isandr al Amrani, residente no Cairo e responsável pelo blog The Arabist, "estas revoltas marcam uma verdadeira rejeição dos sistemas de segurança dirigidos por famílias que reinam no centro de um sistema cada vez mais mafioso".

As revoltas "traduziram um verdadeiro apego da população árabe aos valores relacionados com os direitos humanos, um verdadeiro entusiasmo por valores universais. Não era o caso há dez anos atrás", ressalta.

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Cairo - Graves ameaças pesam sobre o futuro da chamada "primavera árabe" seis meses após o início de revoltas que derrubaram os presidentes tunisiano e egípcio e provocaram crises na Líbia, Síria, Iêmen e Bahrein.

A série de protestos e revoltas, que espalharam esperanças democráticas nesta região do mundo, tornaram-se hoje uma procissão de conflitos, crises e graves problemas econômicos.

"A situação é hoje mais difícil", estima Rabab al Mahdi, professora de ciência política da Universidade Americana do Cairo (AUC), seis meses após um vendedor ambulante atear fogo em si próprio na Tunísia em 17 de dezembro, ponto de partida das revoltas no mundo árabe.

"A ideia de que era possível sair às ruas para derrubar um regime como ocorreu na Tunísia e no Egito é colocada em xeque com o caso da Líbia, da Síria, do Iêmen e do Bahrein", estima.

Para Antoine Basbous, do Observatório dos Países Árabes (OPA) em Paris, a diversidade prevalece. Apesar dos lemas muitas vezes idênticos e das esperanças compartilhadas, "não há dois movimentos que se pareçam", afirma.

A Tunísia, país pioneiro da "primavera árabe" que fixou para 23 de outubro as primeiras eleições desde a saída de Zine el Abidin Ben Ali, parece estar bem encaminhada em uma transição, o oposto do Egito, onde "há certas dificuldades", estima.

No Egito, onde muitos temem que os islamitas saiam fortalecidos após a queda de Hosni Mubarak, o exército no poder parece querer unicamente "uma mudança de fachada".

Nestes dois países, as graves dificuldades econômicas que acompanharam as mudanças de regime levaram a comunidade internacional a mobilizar bilhões de dólares em ajuda.

O Iêmen, cujo presidente Ali Abdullah Saleh está hospitalizado em Riad após ser ferido em um ataque, corre o risco de afundar em uma situação similar a da Somália, onde reina o caos e o Estado se desintegra, acrescenta Basbous.

O Bahrein, por sua vez, já viveu sua "contrarrevolução" após a repressão dos protestos de fevereiro e março.


Na Líbia, Muammar Kadafi, que se agarra ao poder, apesar de uma revolta interna e dos bombardeios da Otan, "parece maduro para cair, só resta saber quando". Na Síria, o regime iniciou uma repressão massiva, "está decidido a se defender e ainda tem recursos", explica.

Os riscos de contágio a outros países são reais, embora incertos. "Os efeitos sobre o resto da região vão depender do resultado obtido nestes países. Mas não há efeito mecânico, isso depende muito da situação interna", observa Rabab al Mahdi.

A Argélia pode acalmar os desejos de sua população recorrendo aos importantes lucros gerados por seus recursos em hidrocarbonetos. O Marrocos aposta, por sua vez, em uma política de reformas.

Mas na Jordânia, explica Antoine Basbous, "as dificuldades da monarquia são mais importantes, e trata-se de um país rodeado de vizinhos em crise".

Apesar destas incertezas, alguns continuam sendo otimistas sobre as conquistas da "primavera árabe", que colocou a democratização entre os principais assuntos de uma região que parecia condenada a seguir como um santuário de regimes autocráticos intocáveis.

Para Isandr al Amrani, residente no Cairo e responsável pelo blog The Arabist, "estas revoltas marcam uma verdadeira rejeição dos sistemas de segurança dirigidos por famílias que reinam no centro de um sistema cada vez mais mafioso".

As revoltas "traduziram um verdadeiro apego da população árabe aos valores relacionados com os direitos humanos, um verdadeiro entusiasmo por valores universais. Não era o caso há dez anos atrás", ressalta.

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