Mesas onde cardeais sentarão para eleição no novo papa é vista na Capela Sistina (Stefano Rellandini / Reuters)
Da Redação
Publicado em 12 de março de 2013 às 11h55.
Cidade do Vaticano - Os 115 cardeais que elegerão um novo papa nesta semana poderão se inspirar com algumas das mais belas e famosas obras de arte do mundo, pintadas por Michelangelo há 500 anos na Capela Sistina.
Numa das paredes da capela está o afresco que mostra o Juízo Final, e no teto se vê a célebre imagem da criação do homem, com os dedos de Deus e Adão quase se tocando.
Mas, para os cerca de 1,2 bilhão de católicos do mundo, o que interessa mesmo é a humilde chaminé instalada no teto da capela, e que funciona como uma espécie de placar --quando sai fumaça preta, significa que as votações ainda estão sendo inconclusivas; a fumaça branca anuncia que um novo papa foi eleito.
A Capela Sistina, concluída no século 16, recebe 20 mil visitantes por dia, observados atentamente por guardas que reprimem quem tenta tirar fotos em lugares proibidos.
Nesta semana, a capela ficará silenciosa, a não ser pelas orações dos "príncipes da Igreja" e pelos discretos passos dos poucos assistentes presentes, que precisam jurar segredo sobre o que veem.
O local é usado para os conclaves desde 1484, quando ocorreu a morte do pontífice que lhe deu o nome, Sisto 4o, um grande apoiador das artes no Renascimento.
Naquela ocasião, os cardeais elegerem Inocente 8o, um homem lembrado na Enciclopédia Britânica como um papa cujo nepotismo em prol dos seus dois filhos ilegítimos era "tão abundante quanto desavergonhado". Era uma época em que aristocráticas famílias romanas lutavam violentamente pelo comando da Igreja e pelas vastas riquezas advindas disso.
Vergonhas Cobertas
O espírito da Renascença pode ser sentido na exuberante obra de Michelangelo, que labutou durante quatro anos em um andaime especial até concluir os afrescos do teto, em 1512.
Michelangelo voltou à capela mais de 20 anos depois para trabalhar no vasto painel do Juízo Final, na parede do altar.
Essa imponente parede de 160 metros quadrados mostra santos flutuando até o paraíso, onde são saudados por anjos trompetistas, enquanto os amaldiçoados despencam nas chamas do inferno, onde serpentes famintas os aguardam.
Ao concluir o trabalho, em 1541, o artista foi imediatamente acusado de imoralidade e obscenidade por mostrar corpos nus, torturados e sensuais, dentro de uma igreja.
Após a morte dele, foi aprovada uma lei que determinava que as genitálias fossem cobertas por "calções da modéstia" --alguns dos quais continuaram visíveis após uma recente restauração.
Mais de 5 milhões de pessoas passam por ano pela capela, o que leva o Vaticano a cogitar restringir o movimento, para evitar danos aos tesouros artísticos.
Em um serviço religioso no ano passado por ocasião do quinto centenário das pinturas no teto, o papa Bento 16 pareceu concordar com a necessidade de mais calma na capela.
"Quando contemplada em oração, a Capela Sistina é ainda mais bela, mais autêntica. Ela se revela em toda a sua riqueza." De 1980 a 1994, durante o pontificado de João Paulo 2o, a capela foi submetida a um dos mais ambiciosos projetos de restauro do mundo, livrando-a de séculos de sujeira e fuligem. O resultado dividiu especialistas em arte e turistas --houve quem achasse que as cores ficaram brilhantes demais.
A capela, iluminada por janelas altas em dois lados, tem as paredes laterais decoradas por outros artistas famosos: Pietro Perugino, Sandro Botticelli e Domenico Ghirlandaio.
Quando o conclave terminar, os turistas voltarão à capela, sobre a qual o escritor alemão Goethe comentou: "Sem ter visto a Capela Sistina, não se pode formar uma ideia apreciável do que o homem é capaz de alcançar".