O presidente americano faz campanha em Delray Beach: Para Justin Vaisse, do instituto Brooking de Washington, "Obama não pertence a uma escola de pensamento particular" (©AFP / Mandel Ngan)
Da Redação
Publicado em 23 de outubro de 2012 às 13h25.
WAashington - O presidente americano, Barack Obama, pragmático no âmbito internacional, apesar de suas ambições iniciais, manterá a "guerra secreta" contra a Al-Qaeda, caso seja reeleito, privilegiando a diplomacia em outros locais, como o Oriente Médio, consideram os especialistas.
Obama enfrentou na terça-feira seu adversário republicano, Mitt Romney, em um último debate - dedicado à política externa -, e seu porta-voz Ben LeBolt afirmou antes do confronto: "O presidente manteve sua palavra (...) de pôr fim à guerra do Iraque de forma responsável, de derrotar a Al-Qaeda, de nos colocar no caminho do fim da guerra do Afeganistão e de restabelecer nossas alianças no mundo inteiro".
Mas os quatro anos no poder também foram marcados pelo fracasso das negociações entre israelenses e palestinos, por uma gestão às vezes caótica em relação aos acontecimentos da "Primavera Árabe" e por revezes no objetivo de chegar a um compromisso com o Irã e com a Coreia do Norte, sem contar com as relações ainda ásperas com Moscou e Pequim.
Por outro lado, Obama não recebe nenhum presidente estrangeiro na Casa Branca desde meados de junho e não realizou qualquer reunião bilateral formal na ONU no fim de setembro, consciente de que não tem tempo a perder na sua campanha eleitoral, explicou à AFP o ex-vice-secretário de Estado Karl Inderfurth.
Para esse diplomata, os americanos não optarão por Obama "por suas conquistas na política externa", apesar de acreditar que seus avanços "são consideráveis".
Inderfurth, especialista do centro de estudos CSIS de Washington, acredita que durante um eventual segundo mandato Obama "terá uma opinião mais formada do que pode significar estender a mão (aos inimigos dos Estados Unidos), após um primeiro mandato no qual algumas de suas esperanças não se concretizaram".
"Mas não acho que tenha abandonado esta ideia; também reconhece que a Primavera Árabe está em um momento crítico e que deveria se envolver mais", previu. A esse respeito disse que o presidente deverá se focar na "grande decepção de seu primeiro mandato", a paz entre israelenses e palestinos, já que este conflito "tem consequências para toda a região", segundo Inderfurth.
Essa questão também está vinculada ao Irã e ao seu programa nuclear, a respeito do qual Obama afirma, apesar das críticas de Romney, que sua estratégia de combinar diplomacia e sanções está dando frutos, embora uma ação militar não seja descartada como último recurso.
Diante da ameaça do extremismo islâmico, Obama perseguiu, estendeu e aperfeiçoou a "guerra secreta" de aviões não-tripulados lançada por seu antecessor George W. Bush, seja no Paquistão, no Iêmen ou inclusive na Somália, e autorizou a operação que acabou com a vida de Osama Bin Laden.
Não há razão para abandonar esta estratégia em um segundo mandato, segundo Laura Blumenfeld, especialista do German Marshall Fund, um grupo de reflexão com sede em Washington.
"O balanço da gestão de Obama quatro anos depois não corresponde as suas intenções iniciais, mas foi muito eficaz e, de certa maneira, admirável se observarmos do ponto de vista americano (...); é um prêmio Nobel da Paz com sua própria lista de homens a derrubar", afirma.
Para Justin Vaisse, do instituto Brooking de Washington, "Obama não pertence a uma escola de pensamento particular (...), é um verdadeiro pragmático".
"Mas isso não impede que tenha um ponto de vista", explica o autor do livro "Barack Obama e sua política externa". Vaisse opina que se Obama se envolver mais no Oriente Médio, isso irá ocorrer por obrigação, forçado, depois de ter trabalhado duro para se afastar do legado intervencionista dos anos de Bush.
Para o analista, o presidente democrata considera que "nos oito anos anteriores os Estados Unidos ficaram atolados (...) e não souberam aproveitar a ascensão dos países emergentes, como a China", razão de sua vontade de reorientar seus esforços diplomáticos e militares para a região da Ásia-Pacífico.