Analistas dizem que presidente sírio continua inflexível
Os especialistas concordam que a "solução política" de Assad, firmemente rejeitada pela oposição, não passará de "letra morta"
Da Redação
Publicado em 7 de janeiro de 2013 às 13h33.
Beirute - O presidente sírio Bashar al-Assad acredita ser militarmente forte o suficiente para se manter inflexível e tentar se manter no poder, após 21 meses de um conflito que já fez mais de 60.000 mortes, consideram os especialistas.
Fabrice Balanche, diretor do Grupo de Pesquisa e Estudos sobre o Mediterrâneo e o Oriente Médio (GREMMO), acredita que ele escolheu discursar para um público escolhido a dedo no domingo, no momento em que sentiu que a situação lhe é favorável.
"Este é um momento oportuno para o moral de seus partidários, porque seu Exército angariou vitórias recentemente e ainda está em vigor", superando as previsões dos críticos que anunciam regularmente a sua queda, explica este especialista em geografia política da Síria.
Thomas Pierret, um professor da Universidade de Edimburgo, revela que Assad se manteve em silêncio desde "os acontecimentos de verão: o assassinato de altos funcionários em um ataque em julho, a deserção do primeiro-ministro, a tomada de metade de Aleppo pelos rebeldes, a perda do controle das fronteiras turcas e iraquianas e as ofensivas nos subúrbios de Damasco".
"Hoje, a situação se estabilizou um pouco. O regime não vai ganhar a guerra, mas ele sabe que ela ainda será longa. Todos estes acontecimentos são um balão de oxigênio para um regime condenado a médio prazo, o que explica o timing do discurso", diz o autor de "Baath e o Islã na Síria".
Mas, apesar deste contexto, Assad, cujo último discurso foi há mais de sete meses, "não mudou sua estratégia e a retórica continua a mesma", ressalta Karim Bitar, diretor de pesquisa do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (IRIS).
"É um discurso de guerra: Assad é totalmente inflexível e resistente à ideia de um verdadeiro processo de transição política", acrescenta Pierret.
Diante de uma plateia de mais de mil partidários na Ópera de Damasco, o presidente pediu um diálogo, para o qual alegou não ter encontrado um "parceiro".
"A jogada de Assad é afirmar que não é ele quem recusa o diálogo", mas a oposição que o rejeita como interlocutor, ressalta Fabrice Balanche.
Apresentando pela primeira vez um roteiro detalhado, o contestado Chefe de Estado propôs um plano para a elaboração de uma Carta Nacional, que seria submetida a um referendo antes da formação de um novo Parlamento e de um novo governo eleito.
Mas antes disso, os "terroristas" -termo utilizado pelo regime para designar os rebeldes- devem parar suas operações para que o Exército retorne ao seu quartel, "mantendo o direito de resposta".
"A 'solução política' de Assad é, em realidade, uma solução militar com um processo político 'pós-vitória' totalmente controlado pelo regime", considera Volker Perthes, diretor do German Institute for International and Security Affairs de Berlim.
Mas esse discurso também é dirigido à comunidade internacional, afirmam os analistas.
"Assad sabe que as negociações russo-americanas estão em andamento e espera que este diálogo lhe dê uma chance para que possa se agarrar ao poder, pelo menos até o final de seu mandato, em 2014, na espera do que ele chama de 'a bolha da Primavera Árabe' estoure", comenta Bitar.
Perthes, autor de "A Síria sob Bashar al-Assad", considera que o líder "responde 'não' às propostas do enviado internacional Lakhdar Brahimi", que pediu no final de dezembro a Damasco a formação de um governo de transição com plenos poderes antes das eleições.
Mas os especialistas concordam que a "solução política" de Assad, firmemente rejeitada pela oposição, não passará de "letra morta".
Porque neste discurso,"Assad sugere uma simples reedição das 'reformas' iniciadas em 2011, ou seja, um pseudodiálogo com adversários escolhido por ele próprio", segundo Pierret.
"Muito sangue foi derramado para que os rebeldes concordem em parar por aí. A proposta de Assad é muito abaixo do que poderia ser aceito pelos rebeldes, é muito pouco, muito tarde", conclui Bitar.
Beirute - O presidente sírio Bashar al-Assad acredita ser militarmente forte o suficiente para se manter inflexível e tentar se manter no poder, após 21 meses de um conflito que já fez mais de 60.000 mortes, consideram os especialistas.
Fabrice Balanche, diretor do Grupo de Pesquisa e Estudos sobre o Mediterrâneo e o Oriente Médio (GREMMO), acredita que ele escolheu discursar para um público escolhido a dedo no domingo, no momento em que sentiu que a situação lhe é favorável.
"Este é um momento oportuno para o moral de seus partidários, porque seu Exército angariou vitórias recentemente e ainda está em vigor", superando as previsões dos críticos que anunciam regularmente a sua queda, explica este especialista em geografia política da Síria.
Thomas Pierret, um professor da Universidade de Edimburgo, revela que Assad se manteve em silêncio desde "os acontecimentos de verão: o assassinato de altos funcionários em um ataque em julho, a deserção do primeiro-ministro, a tomada de metade de Aleppo pelos rebeldes, a perda do controle das fronteiras turcas e iraquianas e as ofensivas nos subúrbios de Damasco".
"Hoje, a situação se estabilizou um pouco. O regime não vai ganhar a guerra, mas ele sabe que ela ainda será longa. Todos estes acontecimentos são um balão de oxigênio para um regime condenado a médio prazo, o que explica o timing do discurso", diz o autor de "Baath e o Islã na Síria".
Mas, apesar deste contexto, Assad, cujo último discurso foi há mais de sete meses, "não mudou sua estratégia e a retórica continua a mesma", ressalta Karim Bitar, diretor de pesquisa do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (IRIS).
"É um discurso de guerra: Assad é totalmente inflexível e resistente à ideia de um verdadeiro processo de transição política", acrescenta Pierret.
Diante de uma plateia de mais de mil partidários na Ópera de Damasco, o presidente pediu um diálogo, para o qual alegou não ter encontrado um "parceiro".
"A jogada de Assad é afirmar que não é ele quem recusa o diálogo", mas a oposição que o rejeita como interlocutor, ressalta Fabrice Balanche.
Apresentando pela primeira vez um roteiro detalhado, o contestado Chefe de Estado propôs um plano para a elaboração de uma Carta Nacional, que seria submetida a um referendo antes da formação de um novo Parlamento e de um novo governo eleito.
Mas antes disso, os "terroristas" -termo utilizado pelo regime para designar os rebeldes- devem parar suas operações para que o Exército retorne ao seu quartel, "mantendo o direito de resposta".
"A 'solução política' de Assad é, em realidade, uma solução militar com um processo político 'pós-vitória' totalmente controlado pelo regime", considera Volker Perthes, diretor do German Institute for International and Security Affairs de Berlim.
Mas esse discurso também é dirigido à comunidade internacional, afirmam os analistas.
"Assad sabe que as negociações russo-americanas estão em andamento e espera que este diálogo lhe dê uma chance para que possa se agarrar ao poder, pelo menos até o final de seu mandato, em 2014, na espera do que ele chama de 'a bolha da Primavera Árabe' estoure", comenta Bitar.
Perthes, autor de "A Síria sob Bashar al-Assad", considera que o líder "responde 'não' às propostas do enviado internacional Lakhdar Brahimi", que pediu no final de dezembro a Damasco a formação de um governo de transição com plenos poderes antes das eleições.
Mas os especialistas concordam que a "solução política" de Assad, firmemente rejeitada pela oposição, não passará de "letra morta".
Porque neste discurso,"Assad sugere uma simples reedição das 'reformas' iniciadas em 2011, ou seja, um pseudodiálogo com adversários escolhido por ele próprio", segundo Pierret.
"Muito sangue foi derramado para que os rebeldes concordem em parar por aí. A proposta de Assad é muito abaixo do que poderia ser aceito pelos rebeldes, é muito pouco, muito tarde", conclui Bitar.