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Presidente eleito no Uruguai pode mediar diálogo entre Brasil e Argentina

O uruguaio Luis Lacalle Pou, de centro-direita, conseguiria ser ponte entre os desafetos Alberto Fernández e Jair Bolsonaro, dizem especialistas

Luis Alberto Lacalle Pou: advogado foi eleito no Uruguai em eleição que encerra ciclo de 15 anos da esquerda no poder (Mariana Greif/Reuters)

Luis Alberto Lacalle Pou: advogado foi eleito no Uruguai em eleição que encerra ciclo de 15 anos da esquerda no poder (Mariana Greif/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 30 de novembro de 2019 às 10h18.

São Paulo - O presidente eleito do Uruguai, Luis Lacalle Pou, deve intermediar discussões políticas e econômicas entre o brasileiro, Jair Bolsonaro, e o futuro líder argentino, Alberto Fernández, que assumirá a Casa Rosada no dia 10, dizem analistas. Podem contribuir para esse papel a moderação de Lacalle Pou e os interesses comerciais em manter boas relações com seus dois vizinhos.

"Apesar das diferenças, Lacalle Pou terá uma boa relação com Bolsonaro. Além disso, Ernesto Talvi - que foi candidato presidencial do Partido Colorado e faz parte da coalizão do presidente eleito - é de centro-esquerda, ou seja, manterá uma ótima relação com o novo governo argentino", afirma o professor de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Oliver Stuenkel.

Para ele, o Uruguai é um dos poucos países que têm essa capacidade diplomática no continente por ser pouco polarizado e não haver um grande custo político para Lacalle Pou em ter boas relações com os dois lados.

"Claro que essa mediação tem limites. Como é um país pequeno, o Uruguai não pode usar, por exemplo, sua economia e seu mercado como argumento (para unificar os vizinhos)", explica Stuenkel. "Ao mesmo tempo, é o único país da região que não passa por turbulências políticas neste momento. E, nesse sentido, tem a credibilidade necessária para exercer essa função mediadora."

Tensão

Bolsonaro e Fernández têm uma relação conflituosa e há um risco real de não haver uma relação bilateral funcional entre os dois países. "A tensão entre Brasil e Argentina se deve também ao fato de isso proporcionar benefícios internos para os dois lados, ou seja, tanto Bolsonaro quanto Fernández usam o outro para mobilizar seu seguidores mais radicais", afirma o professor da FGV.

Um exemplo desse desencontro é o fato de que, pela primeira vez desde 2003, um presidente brasileiro não irá à posse na Argentina - Bolsonaro será representado pelo ministro da Cidadania, Osmar Terra. Quanto ao Uruguai, Bolsonaro telefonou para Lacalle Pou depois que a Justiça Eleitoral confirmou a vitória dele e disse que estará presente na cerimônia de posse, em 1º de março de 2020.

"Foi uma conversa bastante saudável. Ele é conservador, de direita, tem um programa muito parecido com o nosso. A posse dele é em 1.º de março do ano que vem, já confirmei a minha presença. Convidei para estar no Brasil também", disse o presidente, na quinta-feira.

O professor do Instituto de Ciência Política do Uruguai, Adolfo Garcé, acredita que não haverá uma mudança de relação com o Brasil depois que Lacalle Pou assumir, mas diz ainda não estar convencido sobre uma possível mediação de Lacalle Pou.

"A política externa do Uruguai será pragmática, autônoma, independente, tanto no trato com blocos comerciais quanto com países vizinhos", diz. "As orientações do governo serão, em princípio, liberais, com críticas a ditaduras, defesa do princípio da autodeterminação dos povos, o que é muito tradicional no Uruguai, e sem um alinhamento determinado."

No cenário interno, os analistas acreditam que Lacalle Pou terá uma dinâmica de governo difícil em razão da diversidade dos partidos que o apoiam e precisará negociar, caso a caso, os projetos que quiser aprovar no Congresso.

Além disso, o mais provável é que seu governo faça pequenas mudanças para corrigir os rumos das políticas adotadas pela governista Frente Ampla, antes de tentar emplacar mudanças radicais. "Lacalle Pou dará ênfase em políticas sociais para continuar diminuindo a desigualdade. Não deve haver mudanças de fundo", afirma Garcé.

"Ele terá de levar em conta a Frente Ampla na hora de tratar de reformas complexas em seu governo. E deve ter cuidado redobrado na elaboração e aprovação do salário mínimo, na questão da reforma tributária e em mudanças nas regras do mercado de trabalho", completa o professor uruguaio.

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