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Presidente do Vietnã renuncia após denúncia de seu próprio partido

“Plenamente consciente de suas responsabilidades diante do partido e da população, ele renunciou aos cargos que lhe foram atribuídos, demitiu-se da função e se aposentou”, afirmou a legenda em nota

Vietnã: Nguyen Xuan Phuc, anunciou sua renúncia ao cargo nesta terça-feira, 17 (Vachira Vachira/NurPhoto/Getty Images)

Vietnã: Nguyen Xuan Phuc, anunciou sua renúncia ao cargo nesta terça-feira, 17 (Vachira Vachira/NurPhoto/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 17 de janeiro de 2023 às 15h10.

Última atualização em 17 de janeiro de 2023 às 15h21.

O presidente do Vietnã, Nguyen Xuan Phuc, anunciou sua renúncia ao cargo nesta terça-feira, 17, em meio a uma campanha anticorrupção que poderia atingi-lo, divulgou a imprensa estatal do país.

O Partido Comunista o culpou por “violações e irregularidades” cometidas por funcionários sob sua responsabilidade entre 2016 e 2021, quando era primeiro-ministro, entre os quais dois vice-primeiros-ministros afastados neste mês. Desde então, corriam especulações de que ele deixaria o posto.

“Plenamente consciente de suas responsabilidades diante do partido e da população, ele renunciou aos cargos que lhe foram atribuídos, demitiu-se da função e se aposentou”, afirmou a legenda em nota.

No ano passado, 539 membros do partido foram processados por corrupção, incluindo ministros, altos funcionários e diplomatas, de acordo com a sigla. A polícia, por sua vez, investiga 453 casos de corrupção, 50% a mais que em 2021.

Uma das apurações foca a distribuição de testes de covid. A fabricante Viet A Technologies foi acusada de subornar membros do governo para vender exames a hospitais e centros de controle por preços superfaturados — pelo menos 100 altos funcionários e empresários foram presos devido ao caso, como o ex-ministro da Saúde Ngoc Anh e o então prefeito da capital, Hanói, Nguyen Thanh Long.

Outras 37 pessoas foram detidas após uma investigação ligada a uma campanha de repatriação durante a pandemia. O programa foi criticado por seus complexos procedimentos e elevados custos de quarentena.

Considerado o líder de reformas pró-mercado no país, Phuc, 68, estava na Presidência desde 2021 e era a autoridade de mais alto escalão a se tornar alvo das investigações anticorrupção do partido encabeçadas por Nguyen Phu Trong, líder de longa data da sigla.

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Ainda não está claro se um substituto já foi escolhido. Uma renúncia repentina é incomum no Vietnã, onde o regime comunista costuma preparar mudanças políticas cuidadosamente para manter a aparência de estabilidade.

Quando Phuc era premiê, o país teve um crescimento econômico anual médio de 6% e fechou acordos comerciais com a União Europeia e países do Pacífico. Ele era apontado como o futuro secretário-geral da legenda, cargo de maior prestígio no Estado.

O país não tem uma autoridade soberana e é governado oficialmente por quatro pilares: além do presidente, o secretário do partido, o primeiro-ministro e o presidente da Câmara.

Há diferentes opiniões sobre o impacto da campanha anticorrupção no mercado e na política. Para Le Hong Hiep, do instituto ISEAS-Yusof Ishak, de Singapura, o expurgo pode abrir caminho para líderes mais capazes e idôneos, mas também pode ser resultado de rachas internos no partido. “Enquanto as mudanças nas lideranças não levarem a mudanças políticas radicais, o impacto na economia também será limitado”, afirmou Hiep em seu perfil no Facebook.

Ha Hoang Hop, professor visitante no mesmo instituto, afirma que a incerteza em torno das consequências da saída de Phuc pode impactar o mercado, “levando o Vietnã a um período de instabilidade que assusta aliados e investidores externos”.

A renúncia requer a aprovação da legislatura. Apesar da crise, o governo reconheceu conquistas de Phuc, em especial na condução da pandemia. “Ele fez grandes esforços para liderar, conduzir e administrar a prevenção e o controle da epidemia de covid, conquistando resultados importantes”, diz nota do regime.

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