Presidente da Câmara dos EUA é destituído do cargo após revolta no próprio partido
Grupo de parlamentares republicanos radicais decidiram retirar Kevin McCarthy do cargo depois que ele ajudou a evitar paralisação do governo
Redação Exame
Publicado em 3 de outubro de 2023 às 18h36.
Em uma votação histórica, o deputado republicano Kevin McCarthy foi destituído do cargo de presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos nesta terça-feira, 3, após uma iniciativa movida por integrantes do próprio partido.
Esta foi a segunda vez na história moderna da Câmara dos Representantes que tal votação foi realizada, algo que não acontecia há mais de um século no país.
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Com 216 votos "sim", sendo oito de seu próprio partido, contra 210 votos "não", McCarthy deixa o cargo vago após uma série de embates com a ala mais extremista do partido, que tentou bloquear as sucessivas votações para a presidência da Casa em janeiro e que o tem atormentado desde então.
A gota d'água veio no último sábado, após a Casa aprovar uma medida bipartidária provisória de financiamento apoiada pela Casa Branca para evitar uma paralisia do governo, o que desencadeou a fúria da ala ultraconservadora do partido.
A resposta dos extremistas veio dois dias depois, com a moção para "deixar vago o cargo de presidente da Câmara", apresentada na segunda-feira pelo deputado republicano Matt Gaetz, da Flórida.
Sem um presidente, a Casa fica paralisada até que um sucessor seja escolhido. Isso promete provocar outra eleição potencialmente confusa — como a de janeiro, que se estendeu por históricas 15 sessões — e em um momento em que o Congresso tem pouco mais de 40 dias para evitar outra possível paralisação do governo, por falta de fundos.
O Partido Republicano, de McCarthy, tem a maioria na Câmara, mas vive uma disputa interna entre nomes mais moderados e mais radicais. A legenda também abriga o ex-presidente Donald Trump, favorito para disputar a eleição presidencial pela legenda em 2024.
Para obter o cargo, assumido em janeiro deste ano, McCarthy foi obrigado a fazer concessões ao bloco extremista do Partido Republicano, incluindo uma mudança que permite qualquer parlamentar (como Gaetz) a apresentar esse tipo de moção.
Proeminente dentro do pequeno grupo de extrema direita do partido, Gaetz era um dos deputados que se recusavam a aprovar o novo financiamento federal sem cortes profundos nos gastos. O bloco também se opunha ao envio de ajuda adicional à Ucrânia, em guerra com a Rússia, alegando que o dinheiro seria melhor utilizado na luta contra a imigração ilegal.
Quem é a ala extremista republicana
O grupo de 21 republicanos da Câmara que votaram contra o projeto provisório de aprovação de gastos de McCarthy na semana passada tem sido uma pedra no sapato dele desde antes de ser eleito presidente da Câmara, e tendem a se agrupar ideologicamente na extrema direita do espectro político.
Em janeiro, o imbróglio que o levou à presidência da Casa, que durou 15 sessões, ficou marcado na história do país como a votação mais longa para o cargo em mais de 160 anos, e a primeira vez em mais de 100 anos que alguém não foi eleito para o cargo na primeira votação.
Na ocasião, os extremistas republicanos não aliviaram a pressão até obterem garantias significativas de McCarthy, incluindo a implementação de um procedimento para facilitar o impeachment do presidente da Câmara, diminuindo o poder do cargo. Durante as negociações, o republicano também concordou em permitir que um único parlamentar pudesse forçar uma votação rápida a qualquer momento —justamente o que aconteceu nesta segunda-feira.
Com Agência O Globo.