Presidente americano deve sofrer derrota eleitoral
Diante dos republicanos unidos e ala ultraconservadora do "Tea Party" em alta, o Partido Democrata se prepara para perder a maioria na Câmara dos Representantes
Da Redação
Publicado em 31 de outubro de 2010 às 13h17.
WASHINGTON (AFP) - Dois anos depois de uma eleição triunfal, o presidente Barack Obama deve sofrer o primeiro grande revés, nas legislativas de terça-feira nos Estados Unidos, apesar de ter colocado todo o peso político do cargo em uma campanha marcada por uma recuperação econômica tímida.
Diante dos republicanos unidos nos protestos e com a ala ultraconservadora do "Tea Party" em alta, o Partido Democrata do presidente se prepara no mínimo para perder a maioria na Câmara dos Representantes. Depois de 2 de novembro, Obama deverá deixar de lado as ambições de reforma ou buscar compromissos com os republicanos sobre temas como mudança climática, imigração ou educação.
Os democratas também devem perder alguns governos estaduais e algumas cadeiras de senadores, mas segundo as pesquisas devem permanecer com a maioria na Câmara Alta.
Na sexta-feira, enquanto se preparava para o último esforço para convencer os eleitores indecisos, o presidente teve que assumir o papel de comandante-em-chefe após a descoberta de pacotes com explosivos em aviões procedentes do Iêmen e com destino aos Estados Unidos - os alvos dos eventuais ataques eram sinagogas de Chicago.
Reagindo com firmeza, Obama qualificou o alerta como "uma ameça terrorista" e afirmou que os Estados Unidos estão decididos a "destruir a Al-Qaeda no Iêmen". Mas, ao contrário do que aconteceu em 2008, quando Obama provocou o entusiasmo especialmente dos jovens eleitores, o nome do presidente não figura este ano nas cédulas de voto. Tradicionalmente, a primeira votação de meio de mandato de um presidente recentemente eleito representam uma derrota para seu partido.
No sábado, Obama - que percorre o país há várias semanas - iniciou uma última viagem de campanha para visitar em dois dias quatro estados (Pensilvânia, Connecticut, Ohio e Illinois). Seus representantes de maior destaque, o vice-presidente Joe Biden, a primeira-dama Michelle Obama e o ex-presidente Bill Clinton, também percorrem o país há várias semanas.
"É absolutamente crucial que vocês se manifestem e expressem suas esperanças pelo futuro, em particular os jovens aqui", afirmou no sábado o presidente durante uma visita a Filadélfia, com a advertência de que as eleições definirão o rumo para os próximos 20 anos.
No mesmo momento em Washington, milhares de pessoas participavam de um evento que pretendia contra-atacar a ação dos ultraconservadores do "Tea Party". A manifestação foi organizada por dois apresentadores de programas do canal Comedy Central, Steve Colbert e Jon Stewart, e virou uma resposta à mobilização organizada em agosto por outra personalidade da mídia, Glenn Beck, um apresentador ultraconservador do canal Fox.
Os republicanos tiram proveito de uma taxa de desemprego alta nos Estados Unidos (9,6%), onde o crescimento econômico ainda é muito incipiente. O "Tea Party", nascido de uma ala do eleitorado republicano, prosperou desde o início em 2009 ao exigir um governo com menos interferência na vida pública e a redução dos impostos.
O líder da minoria republicana John Boehner, que pode se tornar o presidente da Câmara de Representantes no caso de uma vitória do partido, consciente da importância desta nova corrente, prometeu que os democratas não terão "nem um centavo" para financiar seu programa político.
Caso os republicanos confirmem a maioria na Câmara, passarão a ter o poder de investigação e poderão utilizar a prerrogativa contra a administração Obama. Além disso, já prometeram que trabalharão contra as reformas do presidente democrata no sistema de saúde e no sistema financeiro.
Na sexta-feira, Obama já parecia se preparar para o período pós-eleitoral ao convocar os republicanos à unidade. "A temporada política terminará em breve e, quando isto acontecer, cada um de nós terá a responsabilidade de trabalhar em conjunto para fazer progredir o emprego e o crescimento", disse o presidente em um discurso em Maryland.